Centenário de José Gomes da Silva, intelectual da luta pela reforma agrária e contra fome, é tema de homenagem na Alesp

Do Brasil de Fato

O centenário de nascimento de José Gomes da Silva, “intelectual orgânico” da luta pela reforma agrária e contra a fome, foi tema de homenagem nesta quinta-feira (20) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

O evento, que reuniu familiares e amigos de ‘Zé Gomes’, além de representantes de movimentos de luta pela reforma agrária, foi organizado pelo deputado estadual Simão Pedro (PT). “Fiquei honrado de poder, de forma singela, fazer essa homenagem. Nosso mandato está aqui apoiando a reforma agrária”, disse o legislador durante o ato solene.

“Nós do MST nos consideramos filhos do Zé Gomes por suas ideias, por seu legado”, declarou João Pedro Stedile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), durante a homenagem. “Foi intelectual orgânico dos camponeses. Viveu para isso. Compartilhamos amizade e militância”, contou.

Stedile acrescentou que seu conhecimento sobre o tema era alimentado pela revista da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), durante o período da ditadura (1964-1985). Fundada por Zé Gomes em 1967, a publicação foi a primeira especializada no assunto no Brasil.

Também marcou presença no evento o agrônomo José Graziano Silva, filho de Gomes. Diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), de 2012 a 2019, e coordenador do desenvolvimento do programa Fome Zero, ele lembrou da cartilha de segurança alimentar criada pelo pai em 1991. “Meu pai foi autor da primeira proposta de política pública para acabar com a fome no Brasil”, disse sobre o projeto.

Biografia

Nascido em 12 de junho de 1924, em Ribeirão Preto (SP), Gomes se formou em agronomia aos 22 anos, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu o doutorado em 1954. Na década seguinte, se formou em diversos cursos internacionais sobre o tema.

Sua atuação no funcionalismo público começou em 1959, como diretor no Departamento de Produção Vegetal, da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. Assumiu a secretaria de Agricultura do governo paulista, de 1982 a 1985, durante o governo Franco Montoro. Sua atuação junto ao estado de São Paulo rendeu uma homenagem pela Fundação Instituto de Terras do estado, criada em 1999, e que leva o seu nome.

Em 1964, convidado pelo General Castello Branco, presidiu a Superintendência de Política Agrária (Supra), um dos órgãos de reforma agrária que antecedeu o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Nessa época, Gomes foi um dos redatores do Estatuto da Terra.

Com a indicação de Tancredo Neves, assumiu, em 1985, no governo Sarney, a presidência do Incra, onde coordenou a equipe que elaborou o 1º Plano Nacional da Reforma Agrária da Nova República.

“De todas as qualidades de José Gomes, a que me parece mais digna de admiração foi a capacidade de superar sua condição de classe para perceber e jogar-se por inteiro na luta do povo”, declarou o político Plínio de Arruda Sampaio (1930-2014), em homenagem publicada pelo Instituto Fome Zero.

Edição: Thalita Pires/ BdF