Cultura
“A Cidade que Queremos”: festival ocupa o centro de SP com gastronomia, música e arte
Por Mariana Luccisano
No último dia 27 de julho, sábado, o coletivo Bares pela Democracia, organizado por cerca de 70 estabelecimentos, realizou o Festival “A cidade que queremos”. O evento ocupou a Alameda Eduardo Prado – Campos Elíseos (SP), em frente ao Espaço Cultural Elza Soares, e contou com barracas gastronômicas, shows, uma feira coletiva, exposições de arte, apresentações de teatro, programação para as crianças e um almoço preparado pela Cozinha Escola Dona Ilda Martins, que fica instalada dentro do Espaço Cultural.
Com entrada gratuita, o Festival reuniu mais de 15 mil pessoas e promoveu uma reflexão em torno da São Paulo que queremos construir: com diversidade, democracia e cultura para todos.
As barracas, com pratos diversificados, estavam organizadas pela rua e serviram um cardápio recheado de bebidas e comidas deliciosas. Porão da Cerveja, Cervejaria Central, Mescla, Mista Coquetéis, Barra Funda Lagger, Cervejaria Duas Irmãs e Aconchegante Bar garantiram cerveja gelada e bons drinks, já Van Grogh, o tradicional sanduíche de carne louca, Chévere suas empanadas e Q Nhoque! nhoques de batata e mandioquinha, juntando gastronomia e música em um só lugar.
No palco, Dj Lys Ventura abriu o festival com dancehall ecoando nas caixas, seguida do grupo Afoxé Amigos de Katendê, que trouxeram a potência do ritmo afro-brasileiro nordestino. A festa Virilha deu sequência com Dj Chiquinho, Dj Becca Incendiária, Michelle Maiara e Paulynho Show tocando hits do brega funk, arrocha e piseiro.
Calefação Tropicaos também marcou presença no Festival com a Dj Carol Mali, Dj Pita Uchôa e muita música brasileira. Tivemos ainda o rapper Ogi com suas rimas e flows autênticos, a festa Entrópica com latinidades ao som de Dj MZK & Dj Ramiro Z e Preta Batuque exaltando o samba e o pagode raiz. Charanga do França encerrou a noite com gosto de carnaval, colocando todo mundo pra cantar junto com a banda de percussão e sopro. Os shows aconteceram das 12h às 20h, com intervalo às 16h para leitura do Manifesto dos Bares pela Democracia.
Manifesto
Katia Lyra, do Aconchegante Bar, e Ferreira, da Casa Híbrida, são membros da articulação e fizeram a leitura do Manifesto do Festival “A Cidade que Queremos”. Entre as falas, destacou-se a importância do coletivo na luta por uma São Paulo democrática, com dignidade, oportunidades e inclusão.
“Queremos uma cidade justa, que cuide do seu povo, em especial da população mais pobre. Uma cidade que gere empregos e oportunidades, que enfrente à fome e que trate com dignidade a população em situação de rua. Uma cidade democrática, com espaços de participação para a população debater os problemas enfrentados em São Paulo e encontrarmos soluções coletivas que beneficiem a maioria do nosso povo. Queremos uma cidade diversa e inclusiva, que combata todas as formas de preconceito e a violência, tais como o machismo, o racismo e a LGBTfobia”, afirma o documento.
A Articulação Bares pela Democracia de São Paulo surgiu em 2022 como uma frente contra a política do governo Jair Bolsonaro. Desde então, mais de 70 estabelecimentos gastronômicos se congregaram para promover iniciativas na área da cultura, da arte, do trabalho social e do debate político. Assim, tem atuado junto as comunidades do centro expandido da cidade em torno de iniciativas que defendem a participação popular.
Espaço Cultural Elza Soares
O Espaço Cultural Elza Soares é preenchido por arte e cultura, e as atividades foram abertas com um almoço preparado pela Cozinha Escola Dona Ilda Martins e o Armazém do Campo. O tradicional arroz carreteiro do MST, receita clássica de João Pedro Stedile, e a moqueca de banana da terra com pupunha, arroz com couve, farofa e salada, como opção vegana, fizeram sucesso entre os que se alimentaram, ao todo, cerca de mil refeições foram servidas.
Apresentações de teatro, mágica e exposições de arte e fotografia aconteceram simultaneamente a expositores de livros, roupas, discos e artesanato.
Entre os expositores tivemos Feira Vermelha, que trouxe seus produtos autorais em parceria com o MST; Alastra e suas peças exclusivas de garimpo ressignificadas com pixo e arte-protesto; Publica com prints de artistas independentes; Convés Ateliê com seus artesanatos sustentáveis; OKAN e sua moda vibrante; Coletivo Democracia Corinthiana e os produtos do Timão; O espelho de Alice com óculos vintage; Boteco Prato do Dia, União Discos e Nóis Tein Discos trouxeram a música com a venda de discos de vinil; Ação Antifascista de SP, sua luta política e os livros ficaram por conta da Usina Editorial e da editora Expressão Popular.
As artes cênicas marcaram as atividades internas com o espetáculo “ME5A PRA CINCO”, o monólogo “É verdade esse bilhete” e o “Sarau Embaixo da Terra”. A mostra cultural, posta ao centro do Espaço Cultural Elza Soares, reuniu obras de arte e fotografia potentes, nos trazendo uma reflexão profunda sobre o presente e o futuro dos centros urbanos, sustentabilidade, hábitos e sentimentos íntimos que reverberam no cotidiano acelerado e, muitas vezes, impiedoso das cidades.
A frase “A cidade em que vivo já não existe mais” guiou nossa visão entre molduras e intervenções artísticas. Os responsáveis pelas peças expostas foram Amanda Monasterio, Amanda Nunes, Andrey Rossi, Beatrice Arraes, Cecília Calaça, Danilo Barbosa, Diego de Santos , Diogo Zacarias, Eleonora Aronis, Gabriel Roemer, Gustavo Diógenes, Jane Batista, Maria Dietrich, Marco Ribeiro, Nana Curti, Patrícia Prado, Pedro Coelho, Pedro Luís, Samuel Tome, Sukka Canton, Thiago Honório, Thomas Pina e Wedson Stavarengo.
Para as crianças, uma programação especial garantiu diversão durante todo o evento, com espaço dedicado ao desenho e à pintura, cama elástica e a apresentação da peça “Contos da Colmeia”, do Teatro Lambe-Lambe, com os truques de mágica feitos pelo Mágico Mister Duds, encerrando a noite.
Gestão de resíduos
A sustentabilidade é um dos pontos centrais da cidade que queremos construir. A gestão de resíduos de todo o festival, desde a coleta de reciclados e orgânicos, até iniciativas para conscientização, foi feita pela Cooper Vira Lata e o Coletivo Ciclo vivo do alimento, com o objetivo principal de atuar nas três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental.
Foi uma celebração vibrante de diversidade, cultura e democracia, proporcionando um espaço de reflexão sobre a São Paulo ideal. Com uma programação que abordou da gastronomia às apresentações artísticas, o Festival conseguiu unir diferentes expressões culturais em uma única festa comunitária.
As atividades promoveram a participação de todas as idades, destacando a importância da união popular na construção de uma cidade inclusiva e justa. A infraestrutura, equipe de segurança e limpeza reforçaram o compromisso com o meio ambiente e a responsabilidade social. O Festival, que inspirou a luta por uma cidade mais democrática e acolhedora, onde todos têm voz e vez, contará com mais duas edições ainda esse ano.
*Editado por Wesley Lima