Prisão Política
Presidente do Partido Socialista da Zâmbia é preso em perseguição política
Por Janelson Ferreira
Da Página do MST
Na última quinta-feira (8), o presidente do Partido Socialista da Zâmbia, Fred M’membe, foi preso em uma delegacia de Lusaka, capital do país. A prisão é denunciada como uma perseguição política, pelo fato de M’membe ser um dos principais opositores do atual Presidente de Zâmbia, Hakainde Hichilema. A prisão tem provocado uma série de manifestações em frente ao local onde o líder socialista está detido.
Frente às evidências de que a prisão representa uma perseguição política a M’membe, diversas organizações expressaram solidariedade ao presidente. “M’membe é uma liderança popular de Zâmbia e nós, enquanto MST, expressamos nossa solidariedade a ele”, afirma Elizabeth Cerqueira, que é militante do MST e faz parte da Brigada Internacionalista Samora Machel.
M’membe, que também é jornalista, publicou em sua conta no Facebook, no dia 16 de julho, um artigo intitulado “Tshisekedi conta a bispos católicos do Congo que pagou 20 milhões de dólares para comprar o silêncio de Zâmbia”, no qual critica a atuação de Félix Tshisekedi, Presidente da República Democrática do Congo, aliado de Hichilema. No texto, o socialista denuncia a influência regional que Tshisekedi possui, de modo a silenciar críticas contra o governante, principalmente, por conta da crise humanitária que atinge o Congo.
“Num recente encontro com os Bispos Católicos do Congo, o visivelmente irritado Sr. Tshisekedi, afirmou que não importa o que façam em oposição ao seu regime corrupto, repressivo e escandaloso, ele detém o controle total da região”, escreveu M’membe em seu artigo. O líder socialista destacou que os líderes dos países da região estão enchendo suas contas bancárias com milhões roubados do povo congolês. “Os envolvidos neste esquema maligno pagarão o preço e arrepender-se-ão das suas ações gananciosas em breve”, apontou M’membe.
Com esta publicação, no último dia 8, Fred M’membe foi convocado a prestar depoimento em uma delegacia de Lusaka. Contudo, ao chegar no local, foi declarada a sua prisão por suposta “sedição”, quando a acusação recai sobre a prática de sublevação contra autoridade pública. Esta não é a primeira vez que o presidente do Partido Socialista sofre este tipo de perseguição, já tendo sido convocado para prestar esclarecimentos acerca de suas opiniões publicadas nas redes sociais.
“De fundo, o Partido Socialista afirma que há uma perseguição a um dos principais opositores ao Presidente Hichilema”, afirma Elizabeth Cerqueira. De acordo com Cerqueira, o Partido Socialista tem crescido nos últimos anos, o que pode representar uma ameaça à liderança de Hichilema. “Fred M’membe conduz um partido novo, mas que está em crescimento, muito atrelado aos setores populares de Zâmbia”, explica. Além da prisão ainda sem justificativa, M’membe até agora não pôde receber visita de seus advogados e segue sem perspectiva de liberdade.
Refugiados, corrida por minérios e governos liberais na região
Hakainde Hichilema e Félix Tshisekedi são aliados estratégicos na região, baseados em uma atuação política liberal. Hichilema, desde que assumiu, tem avançado em uma série de leis que restringem a liberdade de expressão na Zâmbia, buscando, principalmente, cercear a atuação de seus opositores políticos.
O atual Presidente zambiano foi eleito em 2021, com 59% dos votos. Sua eleição se deu a partir de um discurso baseado na defesa de reformas liberais e na pauta anti-corrupção. “É um discurso muito alinhado a outros que encontramos na América Latina, em políticos como Bolsonaro e Javier Milei”, explica Elizabeth Cerqueira. Segundo Cerqueira, a realidade vivida pela população zambiana passa por uma atual crise humanitária, energética e de desemprego.
Ao todo, 1,35 milhão de pessoas estão em algum nível de insegurança alimentar na Zâmbia. Além disso, o país recebe muitos refugiados dos países vizinhos. Por seu histórico “pacífico”, abriga hoje cerca de 100 mil refugiados, principalmente de Angola, República Democrática do Congo e Ruanda. Estes refugiados fogem especialmente da instabilidade política em seus países de origem, e governo zambiano, com o apoio de organizações internacionais, têm trabalhado para fornecer abrigo, alimentação e assistência médica a essas populações vulneráveis.
Elizabeth Cerqueira lembra que o país geograficamente está localizado na África subsaariana e faz fronteira com oito países, por isso recebe tantos imigrantes. “Em 2023, a Zâmbia recebeu mais de 10.851 refugiados da República Democrática do Congo, mas historicamente, a Zâmbia também recebeu muitos refugiados de Angola (mais de 13.000 pessoas), Burundi (mais de 9.000 pessoas), Ruanda (mais de 4.000 pessoas) e Somália (mais de 3.576 pessoas)”.
“Nós, na Brigada Samora Machel e no Partido Socialista, ainda não temos uma ação específica para os refugiados. Contudo, trabalhamos com agroecologia e educação e, em Western Province, por exemplo, realizamos campanhas de alfabetização e oficinas de agroecologia, além de ações em saúde e prevenção. Essas iniciativas visam levar dignidade às pessoas e estamos falando de pequenas revoluções que devemos cultivar no dia a dia”, expõe Cerqueira.
Por outro lado, o Congo possui uma das maiores reservas cobre e cobalto do mundo. Este último é considerado um mineral crítico, sendo usado na produção de ligas metálicas para motores de aviões e baterias de carros elétricos. Por isso, sua procura tem crescido nos últimos anos. Além do cobre e cobalto, o Congo ainda possui consideráveis reservas de diamante, ouro, ferro e urânio.
*Editado por Solange Engelmann