Comida de Verdade
Da preservação de sementes crioulas até a 23ª Feira da Reforma Agrária do MST em Alagoas
Por Anidayê Angelo
Da Página do MST
Entre as estradas de barro do sertão de Alagoas, uma casa se destaca das outras, logo na altura dos olhos, ao lado da porta de entrada principal: uma bandeira do MST pintada a mão. Essa simbologia reflete o amor da luta pela terra de Cícero Toinho, Dona Neuza e sua família, assentados no assentamento Frei Damião, município de Inhapi, em Alagoas.
“Eu me lembro como se fosse hoje, aquele ônibus lotado de gente de vermelho, para ocupar essas fazendas e permitir que o povo trabalhasse nelas sem ser escravizado. Não demorou para eu me tornar uma dessas!”, conta seu Cícero com o olho brilhando ao falar do processo de ocupação das terras improdutivas da região.
Assim como outras histórias de trabalhadores do campo, a de Dona Neuza e Cícero Toinho não é diferente. Sua família trabalhava há gerações nas grandes propriedades de terra, levando uma vida sem dignidade e oportunidades. Foi a luta pela terra que transformou a vida dessa família, podendo de fato cultivar o seu sustento e liberdade, sem amarras coloniais.
Atualmente, a família se dedica a produzir diversas culturas, que somente é possível por conta do acesso à água através dos poços conquistados na região. Macaxeira, batata, milho, feijão e jerimum são algumas delas. A principal beleza nisso tudo é a presença de sementes crioulas, que representam um patrimônio vivo que resiste às adversidades climáticas e ao avanço das monoculturas industriais do grande capital.
Há mais de 4 gerações, são preservadas e passadas de entre pais e filhos. Essas sementes, adaptadas ao solo e ao clima do sertão, são em sua maior materialidade a base da produção agroecológica, que sustenta a família e fortalece a luta pela Reforma Agrária no assentamento. Dona Neuza relembra com orgulho essa história ao contar que “no terreiro ainda tem a primeira casa de taipa, desde o tempo dos barracos. Desde o começo, sabíamos que só através da luta poderíamos criar um futuro melhor para nossos filhos e netos. Tudo isso que construímos aqui me alegra muito.”
Além da produção das culturas da terra, o lote da família também é marcado pela presença dos animais. Criação de bodes, porcos, galinhas, abelhas, bois e vacas contribuem para complementar a geração de renda. Toda essa conexão produtiva, fortalece a subsistência da família na área.
Em mais um ano, a tradição de Dona Neuza e Cícero Toinho na produção de alimentos saudáveis irá para além do assentamento Frei Damião. A família pretende marcar presença na 23ª Feira da Reforma Agrária, que ocorrerá em Maceió, entre os dias 4 e 7 de setembro. Levando para a Praça da Faculdade a riqueza da produção sem veneno de seu lote, compartilhando com toda a sociedade o sabor do milho, macaxeira, feijão, abóbora e mel de qualidade.
*Editado por Solange Engelmann