Feira Estadual

“A nossa presença com a Feira em Maceió é um ato de amor à sociedade”

Débora Nunes, da coordenação nacional do MST, destaca o papel e importância da 23ª Feira do MST em Alagoas
Foto: Janelson Ferreora

Por Gustavo Marinho
Da Página do MST

Iniciada ontem (4), a Feira da Reforma Agrária do MST em Maceió segue com sua 23ª edição até o próximo sábado (7), recebendo mais de 150 feirantes de todas as regiões do estado e com a expectativa de comercializar cerca de 500 toneladas de produtos na Praça da Faculdade.

Marcada no calendário oficial de eventos do estado de Alagoas, a Feira reúne acampados e assentados da Reforma Agrária com uma diversidade de produtos in natura e pequenos processados, além de artesanato e culinária regional.

“Nossa ocupação em Maceió, nossa presença na Feira é, acima de tudo, uma demonstração e um ato de amor dos camponeses e camponesas Sem Terra ao povo de Maceió”, destacou Débora Nunes, coordenadora nacional do MST. “Produzir alimento, e não é qualquer alimento, mas produzir alimento saudável que chega na mesa de quem está na cidade é uma demonstração de compromisso com a sociedade”.

Foto: Mykesio Max

Em entrevista para a Página do MST, Débora reflete sobre a trajetória da Feira em Alagoas e o papel da Reforma Agrária para o desenvolvimento do estado. Confira completa:

Esse já é o 23ª ano da Feira do MST em Maceió, como nesses últimos anos o Movimento tem enxergado o diálogo com a sociedade a partir do tema da alimentação?

Desde o início da experiência da Feira em Maceió o MST tem apresentado à sociedade a materialidade da luta pela Reforma Agrária em sua essência, a partir da comida saudável. Estamos nessas 23 edições ocupando a mesma praça e criando uma agenda permanente de diálogo com a sociedade que, nos últimos anos, foi se intensificando, agregando mais significados, mas sempre tendo a alimentação como nosso cartão postal.

Essa é nossa principal bandeira de diálogo com quem vive na cidade, é com a Feira da Reforma Agrária que podemos, concretamente, apresentar o que nós queremos como projeto de sociedade. Além disso, conseguimos expressar as aproximações dos reais problemas que a cidade enfrenta, como a miséria e a fome, podem ser combatidos com a distribuição de terras e investimento na agricultura camponesa.

A Feira é uma parte desse processo permanente de diálogo com a sociedade. Entendemos que a Reforma Agrária é uma luta dos camponeses, mas que é uma luta que também é conquistada na cidade. Queremos e precisamos que a sociedade enxergue o que verdadeiramente representa a luta pela terra e o papel que a Reforma Agrária pode cumprir na resolução dos problemas estruturais que enfrentamos.

Muitas pessoas sempre questionam e pedem um calendário mais permanente de feiras em Maceió, quais são os principais desafios para essa ampliação?

Os desafios são inúmeros, primeiro no que diz respeito ao acesso à terra. Não podemos expressar a diversidade de produção de alimentos sem veneno, enquanto muitas áreas estão à serviço do agronegócio e da monocultura da cana-de-açúcar ou do eucalipto como bem conhecemos em nosso estado. O acesso à terra é o primeiro passo para ampliarmos a produção de comida e garantir que ela chegue à mesa da população.

Outra necessidade é a grande demanda por políticas públicas que garanta que a produção dos acampamentos, assentamentos e comunidades rurais possam chegar até as cidades. Crédito, infraestrutura, acesso à água e um conjunto de necessidades básicas que estimulem a produção e comercialização do que chega à mesa do povo, especialmente do povo pobre e trabalhador.

Paralelo a todos os desafios, camponeses e camponesas seguem na brava tarefa de produzir na terra, enfrentando as adversidades, fortalecendo e organizando feiras livres nos municípios e dando um verdadeiro exemplo de compromisso com a missão daqueles e daquelas que vivem da terra.

Maceió vive um cenário de denúncia internacional pelo crime ambiental provocado pela mineração. De que maneira a Reforma Agrária apresenta um projeto contrário a essa situação?

O mesmo braço que expulsa os camponeses e camponesas de seu local de vida e da possibilidade de produzir no campo, é o mesmo que comanda a Braskem em Maceió, a real e verdadeira responsável pelo crime ambiental, aliada à omissão do Poder Público. Nosso projeto é uma resposta contra o descaso que está Maceió com essa situação!

A Reforma Agrária Popular, como temos chamado, é uma necessidade por vários motivos. Primeiro pela necessidade gritante de alimentar o povo brasileiro que segue ainda vivendo altos índices de fome em várias regiões do país. Segundo, para enfrentar a crise ambiental que ameaça os povos em todo o mundo.

O projeto defendido pelos camponeses compreende a terra e os bens da natureza como centrais para a nossa vida. É preciso produzir alimentos e aliar essa prática ao exercício de cuidado com a natureza em sua diversidade, conservando nossos biomas, nossas práticas e saberes populares.

Do outro lado, o agronegócio, a mineração e todos os braços que manipulam e exploram os bens da natureza só são possíveis com a expulsão do povo que, consequentemente, aprofundam a miséria e outras mazelas que afetam nossa sociedade hoje.

*Editado por Fernanda Alcântara