Diversidade

A educação como ferramenta para enfrentar as violências

Seminário de Educação para a Diversidade dos Povos e Comunidades Tradicionais se desafia na construção de material de apoio às escolas do campo

Foto: Antonia Cunha Payaya

Da Página do MST

Desde a última quinta-feira (5), cerca de 60 pessoas participam do 2º Seminário de Educação para a Diversidade dos Povos e Comunidades Tradicionais, realizado em Salvador (BA). A iniciativa integra a Semana da Diversidade no estado e tem como objetivo discutir questões importantes às pessoas LGBTQIA+ dos povos do campo, das águas e das florestas, apontando os principais desafios e perspectivas da educação no combate às violências.  

Além disso, o Seminário é um espaço que se desafia na produção de um material de apoio e didático sobre a diversidade nas escolas. A publicação será disponibilizada em 2025 em toda a Bahia.  

Poliana Reis, diretora de Educação dos Povos e Comunidades Tradicionais do estado da Bahia, representou a Secretaria Estadual de Educação e o Governo do Estado da Bahia, no Seminário. Ela destaca a importância do Seminário e a necessidade de continuidade dos processos de organização de materiais e espaços de formação, para que seja possível ampliar o debate junto aos processos pedagógicos construídos no estado e em todo o Brasil.  

“Nós precisamos nos comprometer com as pautas LGBTQIA+ em todas as instâncias. Entendemos que a cartilha é mais que um material, pois precisamos construir processos de formação junto com os educadores. Nós estamos fazendo história. E essa iniciativa já é uma referência para a Bahia e para todo o Brasil. Estamos aqui para aprender com vocês e entendemos que esses espaços nos ajudam a reafirmar o modelo de sociedade que queremos construir, combatendo a violência”, afirma Reis.

Foto: Antonia Cunha Payaya

Na programação, o Seminário trouxe temas conjunturais e conceituais para introduzir os participantes no acúmulo teórico construído em torno das perspectivas educacionais, com o objetivo promover uma educação, capaz de atuar na conscientização sobre as questões de sexualidade e gênero, visando combater estereótipos, preconceitos e outras formas de discriminação nas escolas, bem como aumentar a compreensão e o respeito na comunidade escolar.  

A metodologia do Seminário foi composta por mesas de debate, rodas de conversa, oficinas e muitas intervenções artísticas e culturais para que fosse possível extrair subsídios para a construção do material de apoio às escolas.  

“Direito de existir”

De acordo com Eliane Oliveira, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), “estar neste espaço é poder ver corpos, belezas é ver o direito de existir”. E continua:

“É poder ver luta, movimento. É poder ver que esse espaço é de suma importância para a população como um todo. Esse material pedagógico será um material para contrapor o período de ódio que nós vivenciamos. Que esses três dias possam ser formativos e que nos possibilitem dar continuidade a esta caminhada.”

Nesse sentido, Niotxarú Pataxó, coordenador de Educação Escolar Indígena na Bahia, aponta a coletividade e a organização indígena como ferramentas fundamentais para construção dos debates propostos com o Seminário:

“O Seminário é fruto do diálogo entre o Movimento Indígena, o Coletivo LGBTQIA+ do MST, e dos diversos espaços de formação que participamos para que fosse possível construir outros e outros espaços de formação. A parceria com a Secretaria de Educação é fundamental para que possamos construir esse caminho de estudo, reflexão e que seu desdobramento, possa atuar no enfrentamento à violência, a partir das realidades distintas que todos nós estamos envolvidos.”

Foto: Antonia Cunha Payaya

O Seminário é uma ação executada pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, do Governo da Bahia, em parceria com a Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).  Symmy Larrat, secretária LGBTQIA+ do MDHC, fala das potencialidades que existem na construção do seminário e pontou questões que reposicionam o olhar em torno dos Direitos Humanos junto ao povo Brasileiro.  

Para ela, a educação é uma porta de entrada poderosa para combater as violências e construir novas perspectivas de participação social e popular.

“Essa iniciativa nos possibilita pensar e construir outro tipo de humanidade através da educação. Nós estamos em um momento de disputar com a sociedade a ideia dos Direitos Humanos. Ações como essas, que vão pensar a educação, o diálogo, precisa ter uma estratégia muito nítida. Aqui, precisamos responder à pergunta: que estratégia nós vamos construir para protagonizar uma jornada potente e que rompa paradigmas?”, questiona Larrat.

Sobre os programas desenvolvidos pela sua pasta, a secretária comenta que a construção deles são fruto do acúmulo das principais lutas sociais construídas pelo Movimento LGBTQIAPN+ ao longo da história.

Symmy explica também que é histórico o enfrentamento a violência; a necessidade de garantir espaços de acolhida às pessoas LGBTQIA+ que se encontram em situação de vulnerabilidade; e a dimensão da empregabilidade, conectada com a garantia do acesso à educação e outros direitos.  Essas questões estão presentes nos programas: Acolher+, Empodera+ e Bem Viver+.  “Nosso desafio é garantir que a política possa chegar as pessoas LGBTQIA+, onde as pessoas estão. Seja na cidade, no campo, nas águas ou nas florestas” – aponta Larrat.

Foto: Antonia Cunha Payaya

Orgulho

Neste sábado (7), o Seminário participa da 5ª Marcha do Orgulho Trans da Bahia. O evento é inspirado na Marcha do Orgulho Trans de São Paulo, que ocorreu em junho. O objetivo é dar visibilidade e promover os direitos das pessoas trans por meio da sensibilização de toda a sociedade baiana.

No domingo (8), a partir das 15h, os participantes engrossam as fileiras da 21ª Parada do Orgulho LGBT+ da Bahia. O tema deste ano será “Orgulho Juvenil” e foi escolhido para celebrar a juventude e reafirmar a diversidade, o respeito e o empoderamento como dimensões da identidade LGBTQIA+.

*Editado por Lays Furtado