Reforma Agrária Popular

Assentamento Mário Lago celebra 21 anos de lutas e conquistas, em Ribeirão Preto (SP)

Famílias assentadas celebram a resistência popular e hoje são referência na produção agroflorestal

Foto: Filipe Augusto Peres

Por Filipe Augusto Peres

Da Página do MST

Neste sábado (7), dia da Independência, aconteceu a festa dos 21 anos de existência do assentamento Mário Lago, do MST, na antiga Fazenda da Barra, em Ribeirão Preto, São Paulo. Realização concreta de uma conquista da Reforma Agrária, o assentamento Mário Lago é um exemplo de que um outro modelo de sociedade é possível.

A celebração começou com um culto ecumênico na parte da manhã. Após um almoço coletivo, houve a discotecagem realizada pelo “O Hierofante”, onde amigos, amigas, lideranças comunitárias, lideranças políticas, artistas e aliados/as confraternizaram durante todo o dia com muita música, falas e comidas provenientes da Reforma Agrária. Uma pequena exposição sobre o assentamento também foi montada.

No final da celebração, um grande bolo foi servido pelo MST a todas as pessoas presentes, não sem antes do parabéns, e da mística, onde foi feita a leitura coletiva dos nomes, lembrando todos lutadores e todas lutadoras que ajudaram a construir o assentamento, mas que já não estão mais entre nós.

Lutas e conquistas

Luciano Botelho, da Direção Estadual do Movimento, destacou o papel de resistência do MST na região de Ribeirão Preto, ao contrapor uma matriz produtiva, que não a do agronegócio, mas de identidade camponesa, valorizando a vida em primeiro lugar:

“Hoje é uma data importante porque representa 21 anos de resistência de um assentamento que está dentro das barbas do agronegócio. Então, demonstra aí um processo de conquista que vai além da conquista pela terra, mas a conquista do espaço dentro de um contexto de disputa de matriz produtiva, disputa de identidade camponesa. Então, isso para nós é sempre um momento de celebração, a celebração da conquista, a celebração da luta, a celebração dessa resistência face ao agronegócio e de uma maneira diferente de trabalhar a agricultura que pense a vida em primeiro lugar”.

Com a produção centrada no desenvolvimento agroflorestal de alimentos, as famílias agricultoras do Assentamento Mário Lago, defendem um modelo de produtivo cooperado, que distribua renda pela produção da agricultura camponesa, sem agrotóxicos, que respeite a natureza e alimente a classe trabalhadora.

Fotos: Filipe Augusto Peres

Nivalda Alves, também integrante da Direção Estadual do MST, destacou a resistência de assentadas e assentados tanto na luta pela terra, como por uma produção agroflorestal, que respeita as relações com a natureza e as pessoas:

“Estamos hoje aqui comemorando 21 anos de aniversário do assentamento Mário Lago, um assentamento histórico para a luta do movimento, um assentamento coordenado por mulheres, um assentamento que é fazer a diferença dentro de Ribeirão Preto, porque ele foi uma luta, a conquista da luta para combater à fome na comunidade de uma cidade que se chama de capital do agronegócio.”

Alves conta que as famílias assentadas tem sofrido um impacto muito grande devido ao fato de terem adotado uma produção agroflorestal, estando cercados pelo agronegócio. Inclusive, devido aos efeitos do fogo, da fumaça que causa muita destruição de tudo ao redor, atingindo até mesmo a produção do assentamento.

“Estamos aqui hoje pagando um preço muito alto por querer fazer uma produção de alimento saudável, uma produção de alimentos que realmente se alimenta para dar vida. Então hoje nós estamos aqui comemorando, mais uma vez, 21 anos, mas não temos muita coisa o que comemorar, porque hoje estamos sofrendo muito por causa desse fogo que foi causado pelo agronegócio.” – conta Nivalda.

A produção local é voltada para as famílias, e para a sociedade na cidade de Ribeirão Preto, município que abrange população estimada em mais de 700 mil pessoas. O MST comercializa diretamente, sem intermediários, em torno de 400 cestas agroflorestais em diversos pontos de feira espalhados pela cidade.

Fotos: Filipe Augusto Peres

Além disso, o assentamento Mário Lago conta com as Cooperativas Comater, Comuna da Terra e a brigada de produção Ana Primavesi, fruto da luta das trabalhadoras e trabalhadores. Com o passar dos anos, a população conquistou o “Memorial Sebastião Leme”, onde se desenvolve políticas públicas voltadas para a área da saúde popular.

Desafios da comunidade

Atualmente, as famílias Sem Terra do assentamento Mário Lago lutam para implementar uma escola do campo em seu território.

Marineys Beraldo, professora da escola Neusa Paviato, do assentamento Mário Lago, destacou a importância da criação de turmas voltadas à certificação do Ensino Fundamental, o papel de professores/as voluntários/as, as conquistas alcançadas e as dificuldades enfrentadas devido à falta de recursos materiais e de apoio do poder público:

“Em julho de 2022, reunimos um grupo de amigos e um grupo de assentados, até porque eles pediram que queriam voltar a estudar, muitos adultos que queriam voltar a estudar, para conseguir certificação, o diploma de Ensino Fundamental, de Ensino Fundamental II.”

Diante dessa iniciativa, deu-se início às turmas aulas de EJA, e de adolescentes estudando para a prova da ETEC no Centro de Formação local, conta Marineys. Todo sábado há aulas, e agora também contam com aulas de espanhol, e o processo segue, diante de ajuda sempre da comunidade, todos/as os/as professores/as são voluntários/as. Mas a comunidade aponta que necessário aporte de políticas públicas que fomentem a construção efetiva da escola no assentamento.

“Nós conseguimos fazer uma reforma, mas mesmo assim não é o suficiente, a gente ainda precisa de muita coisa, de muito material mesmo, material físico. A nossa busca pelo poder público é que formalize a escola em si, para que a gente possa ser reconhecido e ter uma escola dentro do assentamento, mas a gente não vê grandes perspectivas nesse nesse âmbito, mas continuamos aí na luta”. – declarou Marineys.

*Editado por Lays Furtado