Feira Estadual

Feira em Goiás aponta reforma agrária como saída para alimentação saudável e combate à fome

Realizado pelo MST, atividade ocorreu em Goiânia para tratar sobre democratização e acesso à terra
Feira reuniu agricultores assentados, representantes de movimentos populares e a sociedade em geral – Foto: Heloisa Sousa

Por Rafaela Ferreira
Do Brasil de Fato

O debate sobre a valorização do alimento saudável, a valorização da produção agroecológica e os princípios da reforma agrária foram temas centrais da 1ª Feira Estadual da Reforma Agrária em Goiás. Realizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no estado (MST-GO), o evento ocorreu na capital goiana, no sábado e domingo (7 e 8), ocasião em que agricultores assentados, representantes dos movimentos sociais e a população se reuniram em torno do debate sobre a democratização do acesso à terra e a sustentabilidade da produção camponesa.

Ao Brasil de Fato DF, João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, afirmou que a feira é um ato político em que o alimento saudável precisa estar na agenda da classe trabalhadora, dos movimentos do campo e da cidade que produzem alimentos. Ele destacou que, em Goiás, quem produz alimentos é a agricultura familiar, os pequenos e médios agricultores. “Estamos numa região que é o centro político do agronegócio, e o agronegócio produz carne, soja e, eventualmente, algum outro produto”, disse.

Para o representante do Armazém do Campo em Goiás, Gael Gomide, a feira foi uma pequena amostra do que é produzido nos assentamentos e acampamentos no estado. “Essa é nossa primeira Feira Estadual da Reforma Agrária em Goiás. Ela é um espaço muito importante para os nossos assentados e nossos acampados virem até a cidade para mostrar o que o campo está produzindo, quais os nossos produtos das nossas áreas do MST. É um marco que estamos fazendo aqui”, destaca.

Durante o evento, também foi promovido uma conferência sobre a importância da reforma agrária e o combate à fome. Segundo a reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angelita Lima, a reforma agraria é uma política estruturante que permanece, ainda hoje, sendo um tema de embate político, que parece ser escondido.

Para ela, é importante que os movimentos sociais ajudem a universidade trazendo suas pautas. “As escolas, institutos de ensino são fundamentais para a produção desses conhecimentos. Não podemos deixar que esses espaços mobilizadores sejam ocupados por pensamentos conservadores, de direita e que impede de darmos passos importantes”, explica Angelita.

Reforma agrária e combate à fome

Com uma análise de conjuntura, Rodrigues explica que o agronegócio não conseguiu oferecer uma solução ambiental para o Brasil e, isso si só, é devastador. O diretor nacional do movimento explica que o setor não conseguiu resolver o problema do desmatamento, o que tem gerado um alto custo para a sociedade.

“A segunda contradição do agronegócio é que ele não transformou sua capacidade produtiva em uma potência de alimentos para o mercado interno; sua produção é voltada para exportação, ele é dependente de países estrangeiros. Se houver uma grande crise no capital internacional, o agronegócio quebra aqui. Por fim, o setor alega que o maior problema é o custo de produção, especialmente pela falta de mão de obra. Eles não conseguem manter a força de trabalho sem recorrer a condições análogas à escravidão.”

O evento foi promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), em parceria com a UFG. Para o coordenador do MDA em Goiás, José Valmir Misnerovicz, a agricultura é fundamental para alimentar a população, mas também para gerar postos de trabalho e para dinamizar a economia local. “Esse segmento da agricultura é que precisa ser valorizado e o Ministério do Desenvolvimento, ao ser criada novamente pelo presidente Lula, tem essa missão”, explica.

Entre os destaques do evento também está a Culinária da Terra, espaço em que foi comercializado quitandas e servidas refeições típicas feitas com ingredientes vindos diretamente dos assentamentos.

“Culinária da terra é o alimento saudável, um alimento da nossa produção, do nosso bioma, o Cerrado. Teve pratos com o pequi, que é um fruto bem valorizado tanto no estado, quanto nacional e internacionalmente”, afirma Alcione da Cruz Ferreira, do Acampamento Dom Tomas Balduíno.

Feira buscou aproximar as famílias assentadas e acampadas do MST com o público goianiense, que consome os alimentos produzidos pelo movimento / Foto: Heloisa Sousa

Cultura e política

Com objetivo também de realizar atividades culturais. Segundo Gilvan Rodrigues, coordenador do MST em Goiás, outro tripé da atividade foram os espaços de debate, conversas e contato direto entre os produtores dos assentamentos e as pessoas que estão na cidade que, às vezes, consomem os alimentos, mas não sabe quem produz.”

Na ocasião, foram realizadas rodas de conversas temáticas, em que especialistas, agricultores e ativistas discutiram sobre os desafios e conquistas do movimento. Na primeira roda, os convidados e convidadas debateram sobre as práticas sustentáveis de plantio de árvores e produção de alimentos saudáveis, essenciais para o equilíbrio ambiental e a segurança alimentar.

Já a segunda roda, foi dedicada aos conflitos agrários, analisando os desafios e as perspectivas da política de reforma agrária no Brasil. Por fim, na terceira roda, os participantes refletiram sobre os 40 anos de luta e conquistas do MST, destacando sua resistência e a importância de sua atuação na promoção de direitos e na transformação social.

Outro grande destaque do evento foi o show do artista popular Pereira da Viola. No espaço cultural, também se apresentaram a cantora Lyra Dyas; Moacir Amorim, do Assentamento Canudos; Mauricinho, também do Assentamento Canudos; Luciano Cachimbo, ator e diretor de teatro; Victor Batista, violeiro do município de Pirenópolis; ART, MC goiano independente; e Tereza Stefany, cantora popular.

Edição: Flávia Quirino/ Brasil de Fato