Feira de Alagoas
As mãos que fazem a Feira do MST em Alagoas
Por Julia Neves
Da Página do MST
Após quatro dias intensos de programação na Praça da Faculdade, com atividades culturais, rodas de conversa, comercialização de alimentos e muita diversidade em Maceió, a 23ª edição da Feira da Reforma Agrária, organizada pelo MST em Alagoas, chegou ao fim no último domingo (7). Mesmo que possa parecer que são apenas quatro dias para quem visitou a Feira, o trabalho, na verdade, começou muito antes para quem está por trás da organização para que a Feira possa acontecer, onde as reuniões de planejamento começam muito antes e contam com a contribuição de diversas pessoas unidas pela mesma causa para que a atividade aconteça com êxito.
Os alimentos agroecológicos comercializados na 23ª Feira chamaram atenção por sua majestosa beleza. O que muitos não sabem é que esses alimentos passam por um controle e monitoramento enquanto ainda estão na fase de plantio. Para saber mais sobre o funcionamento disso, Edilson Mendes, técnico em agropecuária do Movimento Sem Terra desde 2004, conta que há uma equipe responsável para ir nas áreas de produção e avaliar os produtos.
“A equipe técnica dá o suporte antes mesmo da Feira acontecer. Nós vamos nas áreas de produção para fazer um diagnóstico nas terras, conferir quantos quilos daquele produto serão trazidos para comercialização, conferir o tipo de produção e relação com a terra que foi desenvolvida, já que a nossa ideia é produzir alimentos sem agrotóxicos”, explicou.
Através desse diagnóstico é possível saber o quantitativo de produção de todo o estado e, a partir disso, a equipe de infraestrutura pode mapear, planejar e organizar a distribuição das bancas no espaço da Praça da Faculdade, onde a Feira é realizada desde sua primeira edição. É nesse momento também, que entra em pauta a questão de locomoção dos feirantes, como eles irão chegar até o local em que irá acontecer a Feira, organizada a partir de cada acampamento ou assentamento.
A agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos que chegam nos pratos da população e a Feira da Reforma Agrária é o momento em que a informação de que são os pequenos produtores, os responsáveis por esse feito, pode ser espalhada.
“Muita gente acha que a batata, o feijão ou o milho que comem são trazidos pelo agronegócio, mas isso vem de pequenos agricultores. O intuito da Feira é mostrar à sociedade o que esses agricultores podem fazer com as terras que cultivam,” concluiu Edilson.
A saúde do povo
Preocupados com o bem estar da população, há 12 anos a Feira do MST conta com a Tenda da Educação Popular em Saúde Marciana Serafim. A Tenda da Saúde serve como um espaço de promoção e atenção à saúde na perspectiva da educação popular, a fim de educar a sociedade sobre cuidados básicos, às vezes não tão acessíveis e até mesmo desconhecidos.
Franqueline Terto, assistente social e militante do MST há 20 anos, faz parte da equipe de trabalho da Tenda desde a primeira edição e fala com muita paixão sobre o processo de construção desse espaço tão importante.
“Eu vejo a Tenda não só como um espaço onde toldos são instalados e sim como uma ferramenta de tecnologia social de promoção de cuidados para o povo”, comentou. “Isso é muito significante para mim porque o povo tem muitos saberes históricos e ancestrais acumulados sobre como cuidar da saúde. O prazer de vivenciar essa construção coletiva é gratificante, porque é tudo feito voluntariamente. É uma troca, a gente aprende muito e ensina também”.
Acreditar que a educação é um instrumento de transformação, certamente é crer que duras realidades podem ser mudadas pela magia de adquirir conhecimento, é entender que podemos nos tornar grandes pelo saber. Por isso, Franqueline explica que é importante haver diversas formas de saberes para ajudar nesse processo.
“Nós temos as rodas de conversas, os atendimentos clínicos individualizados, as práticas integrativas como auriculoterapia, massoterapia e reiki e outras práticas populares como a reza”. É uma forma de juntar feirantes, consumidores, estudantes, professores e todo mundo que se interesse pela educação em um ambiente regado pela coletividade e a luta pelo acesso à informação.
Trabalho coletivo
Além disso, preocupados em manter o ambiente limpo e organizado existe a equipe de limpeza que cuida de toda a manutenção nos dias de Feira. Alcione da Silva, do Assentamento Jacobina, no município de Belo Monte,é quem coordena essa equipe e reafirma o compromisso de todos os integrantes nessa missão de cuidar do lugar do começo ao fim do evento.
Ela ainda fala um pouco do seu amor sobre a causa e como é feliz por fazer parte disso há 10 anos. “É emocionante ver o que podemos construir e, principalmente ver as pessoas gostando do que trouxemos… Acho que se um dia eu não participar, posso até adoecer porque eu me sinto parte daqui, é uma oportunidade de mostrar o que fazemos”, comentou.
Dentre as diversas equipes, há também a de comunicação com foco em divulgar e mostrar à sociedade tudo que a Feira da Reforma Agrária pode proporcionar e assim como as outras, possui a presença de estudantes e comunicadores voluntários. “É lindo ver todo mundo se ajudando e conhecer a história das pessoas. A luta do Movimento Sem Terra, é uma luta organizada. Eu quero fazer parte disso para ajudar a construir um futuro melhor, por que é nisso que eu acredito”, disse Nicole Mafra, estudante de história da UFAL, que participou pela primeira vez do grupo de comunicação como voluntária.
Essas histórias são frutos do trabalho coletivo feito por pessoas que acreditam na possibilidade de uma política transformadora em que o campo é reconhecido como uma grande potência, porque ele de fato é. Assim como a limpeza, infraestrutura, comunicação e a tenda, uma diversidade de equipes são constituídas para condução da Feira, envolvendo cerca de 80 pessoas que se organizam nas mais variadas funções, além de voluntários que se somam na condução das atividades desenvolvidas na Feira.
*Editado por Fernanda Alcântara