Resistência e Luta

Contra ameaças a acampamento em Alagoas, MST se mobiliza em Joaquim Gomes

Famílias acampadas há mais de 20 anos denunciam ação de fazendeiro e resistem com produção e mobilização popular
Foto: MST AL

Da Página do MST

Na manhã desta quarta-feira (18), o acampamento Feliz Deserto, localizado no município de Joaquim Gomes, em Alagoas, voltou a ser alvo de graves ameaças. Organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) há mais de 20 anos, o acampamento abriga famílias que dependem da terra para sobreviver, produzindo alimentos saudáveis para o próprio sustento e para comercialização nas feiras da região. Contudo, essas famílias enfrentam mais uma vez a tentativa de expulsão por parte de um fazendeiro que alega ser o novo proprietário da área.

Segundo os acampados, o suposto comprador chegou ao local acompanhado de jagunços, sem apresentar qualquer documento que comprovasse a aquisição da terra, ordenando a retirada imediata das famílias. Além das ameaças diretas, o fazendeiro vem realizando ações ilegais nas últimas semanas, como a derrubada de árvores em áreas de preservação ambiental e a construção de cercas, com o objetivo de introduzir gado na área. 

Frente a situação de violência e intimidação, as famílias do acampamento Feliz Deserto, marcharam até o centro da cidade de Joaquim Gomes (AL) na manhã desta quarta (18), denunciando os ataques que vêm sofrendo. A manifestação teve como objetivo chamar a atenção das autoridades e da população para as constantes ameaças e opressões que o acampamento enfrenta.

Foto: MST AL

“Estamos aqui há mais de 20 anos, produzindo alimentos para nós e para a sociedade. É dessa terra que conseguimos tirar nosso sustento com dignidade. Não vamos permitir que fazendeiros venham nos ameaçar e destruir tudo o que construímos”, destacaram as famílias acampadas nas ruas da cidade durante a manifestação.

A terra, que é parte da Massa Falida da Usina Agrisa, está sob litígio na Justiça Federal, com processo de reintegração e manutenção de posse em curso, tornando ainda mais grave a atitude do fazendeiro, que age sem amparo legal.

As famílias acampadas produzem alimentos como milho, feijão, abóbora, batata e macaxeira, além de criar pequenos animais para consumo e venda. Essa produção é essencial não apenas para a subsistência das famílias, mas também para o abastecimento de feiras locais, contribuindo para a economia regional e oferecendo produtos saudáveis e livres de agrotóxicos.

Além disso, o acampamento Feliz Deserto conta com uma casa de farinha, onde as famílias processam a mandioca cultivada na terra, garantindo a produção de farinha artesanal, que também serve como fonte de renda. O viveiro de mudas, que está sendo construído no acampamento é outro destaque desse território, e tem sido fundamental para a preservação e plantio de espécies nativas e frutíferas, além de fornecer mudas para outras áreas de Reforma Agrária e projetos agroecológicos na região, valorizando ainda mais o trabalho coletivo no campo.

Fotos: MST AL

A mobilização em Joaquim Gomes busca garantir que a justiça seja feita e que as famílias possam continuar vivendo e trabalhando na terra que ocupam há tanto tempo. “Nós resistimos há 20 anos e estamos indo à cidade de Joaquim Gomes para dar o recado ao fazendeiro: os Sem Terra não são animais para você ir lá ameaçar, dizer que vai passar o trator por cima do barraco dos acampados e acampadas. Aqui não!”, finalizou o acampado durante a mobilização, reforçando o compromisso das famílias com a luta pela permanência na terra e pela defesa da justiça.

O MST reafirma o compromisso com a luta pela terra e pela Reforma Agrária na região, ampliando a denúncia para que sejam assegurados os direitos das famílias acampadas, bem como a investigação frente às ameaças que ocorrem na área, enquanto a luta no acampamento Feliz Deserto segue firme, com a força da resistência camponesa.

*Editado por Solange Engelmann