Luta pela Terra

17 anos do assassinato do companheiro Keno: “nós temos que nos preocupar em matar a fome do povo”

Valmir Mota de Oliveira, militante do MST do Paraná, foi assassinado pela milícia armada da transnacional suíça Syngenta, em 2007
Card: Wellington Lenon

Por Coletivo de Comunicação e Cultura/ MST no Paraná
Da Página do MST

Em 21 de outubro, trazemos a memória viva do nosso companheiro Valmir Mota de Oliveira, o Keno, assinado pela milícia armada da transnacional suíça Syngenta, em 2007. O caso tornou-se um símbolo da resistência contra os transgênicos, em defesa do meio ambiente e da vida.  

O crime ocorreu em Santa Tereza do Oeste (PR), durante uma ocupação realizada por cerca de 150 camponeses(as) do MST e Via Campesina para denunciar crimes ambientais em pesquisas realizadas pela empresa. 

A gigante do ramo de agrotóxicos e transgênicos fazia experimentos ilegais com sementes geneticamente modificadas dentro da faixa de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu – declarado Patrimônio Natural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas (ONU). A ação colocava em risco a biodiversidade do parque.

A Syngenta contratou uma empresa de fachada, e com cerca de 40 milicianos tentou despejar os camponeses à força. Mais de 500 tiros foram disparados pelos jagunços. 

Keno era militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tinha apenas 34 anos, deixou esposa e três filhos pequenos. A ação violenta também feriu a agricultora Isabel Nascimento de Souza, que perdeu a visão do olho direito após ser atingida por um tiro.

O caso ganhou repercussão internacional, e ampliou a denúncia contra as ilegalidades cometidas pela multinacional de transgênicos e agrotóxicos. Uma decisão recente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou a Syngenta pelo assassinato de Keno pela tentativa de assassinato de Isabel Nascimento de Souza. Queremos efetivação da justiça diante destes crimes bárbaros. 

Homenagem a Keno durante atividade do movimento. Foto: MST no PR

O documentário “Nem um minuto de silêncio” apresenta o contexto em que o crime aconteceu, e traz depoimentos de vítimas do ataque da milícia naquele 21 de outubro. Há também um trecho com um depoimento de Keno, dito no contexto daquela luta de meados dos anos 2000, mas tão atual para os tempos de hoje: 

“A terra, ela tem que estar a serviço da sociedade, e pra ela estar a serviço da sociedade ela tem que cumprir primeiramente com a função de produzir alimentos, e não se preocupar com produto de exportação. Porque, antes de se preocupar com produto de exportação, porque antes de pensar em exportar, nós temos que nos preocupar em matar a fome do povo”:

A memória de Keno recebeu diversas homenagens ao longo destes 17 anos. Uma delas veio e 2011, em forma da samba-enredo da Unidos da Lona Preta de São Paulo, Escola de Samba do MST

Em 2009, o local onde foi realizado o assassinato do companheiro se tornou o Centro de pesquisas em Agroecologia Valmir Mota de Oliveira, com 123 hectares. O espaço é administrado pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR).

Mística de abertura da 16ª Jornada que relembrou o dia do assassinato de Keno, pela milícia armada contratada pela transnacional Singenta. Foto: Leandro Taques.

No marco dos 10 anos do assassinato, a Jornada de Agroecologia do Paraná realizou a sua 16ª Jornada em homenagem a Keno. “Nesta 16ª Jornada, Keno Vive! Assassinado pelas milícias da transnacional Syngenta, em 2007, o companheiro Keno tombou lutando, assim como tantos outros militantes que rememoramos por terem sido lamentavelmente marcados na história brasileira de cercas e sangue. A memória de todos esses companheiros e companheiras mantém viva a chama de nossa luta”, disse um trecho da carta da Jornada de 2017

Antes de ser morto, Keno pediu que nenhum dos companheiros se acovardasse diante da violência. Esta sua última mensagem permanece em nós. Keno está presente em todos os dias na luta do povo Sem Terra, no enfrentamento às empresas predadoras da natureza, em defesa do meio ambiente, e na produção de alimentos sadios para todo o povo. 

*Editado por Fernanda Alcântara