Internacionalismo
Informe Conjuntura Internacional: O que significa a vitória de Trump?
Por Setor de Internacionalismo
Da página do MST
O que significa a vitória de Trump para os Estados Unidos, o Brasil e o mundo?
A vitória de Donald Trump é o assunto internacional dos últimos dias, e será também o principal assunto do nosso boletim.
Além de significar o retorno do bilionário de ultradireita à presidência após um mandato repleto de escândalos (2016 – 2020), Trump deve se tornar o primeiro presidente na história do país a assumir o cargo após ser condenado na justiça, por ter comprado o silêncio da ex-atriz pornô Stormy Daniel antes das eleições de 2016.
Com Trump, mais uma vez vence o discurso racista, misógino, preconceituoso e xenófobo. Durante sua campanha foram muitos os ataques aos imigrantes acusados por Trump de “envenenar o sangue do país”.
Na política interna dos Estados Unidos, além de propor a maior deportação em massa da história dos EUA, Trump foca seu plano econômico no corte de impostos e aumento de tarifas para produtos importados. No campo ambiental, Trump apoia a produção ilimitada de combustíveis fósseis e é contrário a incentivos para a transição energética.
Autoritarismo, guerras, agressões…
O professor emérito de ciência política da Portland State University, Mel Gurtov, desvenda o “Project 2025” e os planos de Trump para a política externa. Segundo ele, o Projeto 2025, foi concebido para formar um sistema 100% leal à agenda autoritária de Donald Trump, enfatizando que “os funcionários e outros membros da equipe devem alinhar seus pontos de vista com os do presidente, com a forte implicação de que não fazer isso resultará em demissão ou reatribuição”.
No campo da política externa, o plano inclui “ampliar a agressão econômica e geopolítica contra a China e impor novas restrições ao comércio internacional; ameaçar Irã, Coreia do Norte, Venezuela e até o México.”
Nesse sentido, Trump deve estimular a extrema direita na América Latina e pressionar o governo Brasileiro para que se afaste de China e Venezuela, alerta Bárbara Motta.
“Os Estados Unidos entendem que a América Latina é a sua área exclusiva de influência e o Brasil é um dos grandes países dessa área. Essa pode ser uma pressão que o governo Trump venha a fazer no Brasil para afastar o país e o bloco regional de uma relação comercial e diplomática estreita com a China.”
Israel e suas muitas guerras
Como era de se esperar, o genocida Benjamin Netanyahu, também conhecido como “primeiro-ministro de Israel”, foi um dos primeiros a cumprimentar Trump pela vitória. Alguns podem achar estranho, visto que durante a campanha Trump prometeu “acabar com as guerras” em Gaza e na Ucrânia.
Para entender o que Trump quer dizer com “acabar com as guerras” é preciso ir mais além: durante sua campanha ele declarou que é favorável a Israel “terminar logo o que começou e acabar com a guerra”. O fim da guerra, nesse sentido, significa a vitória de Israel, com a expulsão da população palestina da Faixa de Gaza.
“A gente pode esperar que haja uma maior disposição dos EUA de manter o auxílio militar para que Israel se sobressaia nesse conflito, no sentido de aniquilar o Hamas e qualquer outro grupo que esteja no caminho, mas também avançar na ocupação dos territórios na Palestina”, diz a professora Bárbara Motta.
E a extrema direita comemora
Especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato analisam que a “eleição de Trump dá fôlego para o bolsonarismo no Brasil”, e pode ter impacto nas eleições de 2026.
“A gente tem uma força novamente para o Bolsonaro, a eleição do Trump deu um fôlego a mais para o bolsonarismo no Brasil”, diz Daniela Costanzo, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po).
Para Stephanie Britto, da Assembleia Internacional dos Povos, a vitória de Donald Trump fortalece a extrema direita não apenas no Brasil, mas globalmente. Para ela, a política de estado dos EUA impulsiona essa ascensão da direita, especialmente no Sul Global, como uma forma de enfraquecer qualquer movimento multilateral que desafie sua hegemonia, como os BRICS e os processos de integração latino-americana. Assim, a vitória de Trump consolida a extrema direita como um projeto de futuro, legitimando-a como alternativa política para nossos países.
Para saber mais sobre o processo eleitoral nos Estados Unidos, não deixe de ouvir o episódio do podcast Internacionalizemos a Luta deste mês.
E o G20 vem aí. Ou melhor, aqui!
Falta pouco para a Cúpula de Chefes de Estado do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, marcada para os dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.
O Governo Brasileiro tem apostado nesse encontro para recolocar Lula como o líder mundial nos temas de combate à fome, mudanças climáticas e governança global. Esses são os temas centrais que a presidência brasileira no G20 quer priorizar.
Dentro disso, as principais propostas são: um modelo internacional de cooperação para o combate à evasão fiscal e a tributação de grandes fortunas e salários, como forma de viabilizar os dois grandes projetos estratégicos definidos pela presidência brasileira no G20.
Mas Trump nem assumiu a presidência ainda e já pode azedar os planos do governo brasileiro. Para Miguel Stedile, da Direção Nacional do MST, a eleição de Trump deve esvaziar tanto o G20 como a COP30, eventos centrais para a diplomacia brasileira
“A vitória do Trump tira as duas ‘meninas dos olhos’ para a diplomacia do governo Lula. Esvazia a reunião do G20 este mês e acaba com a COP30 ano que vem. Tirou o ‘brinquedo da sala’ do governo Lula, o Itamaraty vai ter que trabalhar com outros objetos pro próximo período, porque nesse a gente ficou apequenado”, analisa.
*Editado por Priscila Ramos