Intercâmbio

A diplomacia dos povos no exercício da economia popular

Fortalecer parcerias é uma maneira de desenvolver a economia popular e erradicar a pobreza, ao mesmo tempo em que reforçamos os laços e a cooperação entre os povos
Carmen Navas Reyes. Foto: Susana Méndez/Instituto Símon Bolívar para a Paz e a Solidariedade entre os Povos

Por Jan Schoenfelder*
Da Página do MST

Os intercâmbios cumprem um papel importante para o MST na aliança e troca de conhecimentos com outros movimentos e organizações populares da América Latina e de todo o mundo. Conversamos com Carmen Navas Reyes, Diretora do Instituto Símon Bolívar (ISB), na Venezuela. Carmen intermediou a vinda de jovens internacionalistas para o aprendizado em Teoria Política e Agroecologia no assentamento Contestado, no MST do Paraná, uma parceria importante para o Movimento e o povo venezuelano.

Marmitas da Terra: A carreira de diplomata tem raízes em que época da sua vida?

Carmen: Sou uma mulher de ascendência afro-indígena, que nasceu e cresceu na periferia de Caracas. Tenho 51 anos e sou a oitava filha dentre dez irmãos órfãos de pai, mas com uma mãe muito presente. Desde criança, gostava muito de estar perto de pessoas mais velhas, vizinhos que na minha favela eram também uma espécie de família estendida. Ali, se falava o tempo todo de política, um tema que passou a fazer parte do meu cotidiano desde então. Quando terminei o ensino médio fui aprovada na maior universidade pública da Venezuela, na carreira que escolhi e na qual atuo até hoje.

Você transitou em que esferas da política até se tornar diplomata?

Após terminar a faculdade, fiz concurso no Ministério de Defesa, em que fiquei até 2001. Dali, fui para o Congresso dos Deputados da Assembleia Nacional, para depois ingressar numa equipe de assessores da área internacional, no gabinete do presidente Chavez. De lá para cá, trabalhei em distintas áreas das relações internacionais da Venezuela, inclusive como diplomata na América Latina, América do Norte e Europa. Desde 2020, ano de sua criação, sou diretora executiva do “Instituto Simón Bolívar para a Paz e a Solidariedade entre os Povos” (ISB), que tem sede em Caracas.

Sua atuação no Instituto Símon Bolívar é exclusivo com países da América Latina?

Trabalhamos com países de todo o mundo. Mas nos últimos anos nos voltamos especialmente para a área da Diplomacia dos Povos. Como Diretora do ISB, sou parte também da Diretoria da Escola Latino-Americana de Medicina “Salvador Allende”, que forma médicos nos países da ALBA-TCP (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América — Tratado de Comércio dos Povos), África e dos movimentos sociais populares da região. Também acompanho as plataformas da Assembleia Internacional dos Povos e da Alba Movimentos, e novamente ali estão muitos países representados.

Qual a sua ligação com o MST?

Tem a ver com o Instituto Simón Bolívar para a Paz e a Solidariedade entre os Povos (ISB). O instituto faz parte do Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela, entidade que tem como tarefa acompanhar, articular e promover as relações internacionais com entidades não-estatais do mundo.

O que o MST tem a oferecer para a juventude bolivariana?

Iniciamos nossas relações com o MST por volta de 2005. É um Movimento que oferece um modelo de organização social muito bem articulado, deixando bem clara a importância da formação política, da disciplina, do internacionalismo e em como defender as causas justas dos povos com mística e persistência. Tudo isso complementa a construção do modelo político que temos na Venezuela.

Pensando na formação em agroecologia, oferecida no assentamento Contestado, na Lapa/PR. Na sua opinião, a agroecologia é um modelo de vida ou um remédio para o negócio da alimentação?

Mesmo sem ter experiência no campo da produção agroecológica, acredito que estamos numa situação do mundo e do planeta em que é urgente mudar nosso modelo de consumo e de produção para garantir a presença da espécie humana e gerar melhores expectativas de vida e saúde à população. Tudo isso só é possível com a adoção da agroecologia como modelo de produção de alimentos e vida, o que inclui a alimentação soberana com segurança e saúde.

O intercâmbio que está participando atende ou supera as suas expectativas?

Em geral, os resultados das formações que historicamente temos tido com o MST acumulam benefícios incríveis para as organizações sociais que postulam os cursos. Acho que é um processo orgânico tributado a um projeto de longo prazo, por isso falar de casos específicos é muito difícil. Mas em síntese é importantíssimo para o nosso país e para o desenvolvimento do fortalecimento do poder popular na Venezuela.

*Jornalista e chef, integrante do Coletivo Marmitas da Terra, no Paraná. Carmen é diplomata, formada em Ciências Políticas, com especialização e mestrado na área em que as relações internacionais se entrelaçam com movimentos sociais, organizações e atores não-estatais – a Diplomacia dos Povos.

**Editado por Solange Engelmann