Solidariedade Sem Terra

Marmitas da Terra recebe reconhecimento pelo seu trabalho de combate à fome

Da plenária da Assembleia Legislativa do Paraná às telas do cinema, o projeto Marmitas da Terra vem ganhando espaço no debate do acesso a alimentação saudável, agroecologia e cozinhas comunitárias como soluções para o problema da fome no Brasil

Foto: Orlando Kissner e Valdir Amaral – ALEP

Por Jade Azevedo
Da Página do MST

Na última terça, 12 de novembro, o deputado Professor Lemos (PT), líder do Bloco PT-PDT na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) homenageou e entregou uma menção honrosa para o coletivo Marmitas da Terra, durante a sessão da Assembleia Legislativa do Paraná, como reconhecimento público pelo seu trabalho no combate à fome em Curitiba desde maio de 2020.

A ação do Marmitas da Terra teve início na pandemia durante a Campanha de Solidariedade do MST, unindo trabalhadores do campo e da cidade no preparo de refeições para pessoas em situação de rua e de insegurança alimentar que vivem em comunidades e ocupações urbanas de Curitiba e RM. 

Nestes quase cinco anos de trabalho foram preparadas mais de 185 mil marmitas e colhidos mais de 60 toneladas de alimentos da horta comunitária e solidária do Assentamento Contestado. Números que são frutos de muito trabalho, solidariedade e união da classe trabalhadora, MST, Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA) e muitas outras instituições, pessoas e sindicatos que formam e fortalecem a luta pelo direito à comida, teto e trabalho.

Foto: Jade Azevedo 

Lemos, durante o discurso, destacou a relevância da iniciativa. “O Marmitas da Terra é mais uma ação louvável do MST que fortalece a solidariedade e a construção de um mundo mais justo”, afirmou o parlamentar. “Portanto, essa singela homenagem é mais do que justa. Iniciativas como esta nos fazem acreditar que um mundo justo, fraterno e solidário seja possível. Seguimos juntos, na construção deste mundo”, completou.

A iniciativa foi crescendo e se fortalecendo como ação até chegar a ser um coletivo de trabalho que fortalece a produção de alimentos sem veneno, orgânica, integrando trabalhadores rurais e urbanos. Suas ações de mutirão de plantio e colheita, também respondem por sua função pedagógica de apresentar à sociedade como funciona uma área de reforma agrária, de onde vem os alimentos que consumimos da cidade, qual a importância do trabalho no campo para a cidade ter com o que se alimentar. 

Assim como, a partir de suas ações com outras instituições ligadas à alimentação discute a implantação de políticas públicas de incentivo a cozinhas comunitárias como caminho primordial de combate à fome. 

Pertencimento 

Hoje o coletivo Marmitas da Terra é formado por aproximadamente 250 pessoas, todas são mãos voluntárias que se disponibilizam a participar dos mutirões de plantio, cuidado e colheita de alimentos no Assentamento Contestado, quinzenalmente aos sábados. 

Estes alimentos colhidos, que antes viravam marmitas todas às quartas, agora são entregues às cozinhas comunitárias, associação de moradores e como cestas de alimentos para algumas famílias que ainda estão em situação de irregularidade alimentar nas periferias urbanas. 

Esse caminho do alimento do plantio até a entrega à população, seja em formato de marmita ou nas cozinhas comunitárias, está muito bem representado no curta-metragem do cineasta José Eduardo Pereira, que apresentou o documentário Marmitas da Terra, como seu trabalho no mestrado na Unespar, orientado pela professora Fernanda Felix, durante a Mostra Bipac (Bolsa de Incentivo à Produção Artístico Cultural), na última segunda, 18, na Biblioteca Pública do Paraná. 

Foto: Reprodução do filme Marmitas da Terra – José Eduardo Pereira

O filme com seus 17 minutos apresenta o coletivo Marmitas da Terra durante a produção de refeições no Grito dos Excluídos de 2022, mostrando todo o processo que vai desde o plantio dos alimentos no Assentamento até a entrega das refeições na comunidade durante a marcha. De forma poética a luta por Reforma Agrária, agroecologia e soberania alimentar fica impresso na tela, levando o espectador a acompanhar o trabalho e o convite para que ele também venha ser parte deste movimento. 

José explica que o interesse dele em gravar a iniciativa, veio do envolvimento anterior com o MST na gravação de outro projeto de longa-metragem que fala sobre luta política desde o golpe de 2016 em que conheceu Adriana Oliveira, integrante do MST e coordenadora do Marmitas da Terra. Ele, que já conhecia o trabalho do MST nas áreas de Reforma Agrária com a agroecologia, com a vigília Lula Livre, veio conhecer a ação dos Marmitas da Terra e viu ali também a agroecologia, agora em um ambiente urbano. 

Foto: Jade Azevedo 

Ivone Ribeiro, técnica de enfermagem aposentada e integrante do Marmitas da Terra, esteve na sessão de homenagem da Assembleia Legislativa do Paraná e no lançamento do curta-metragem Marmita da Terra, representando o coletivo. Segundo ela, “as marmitas sempre foram feitas com muito cuidado e isso é visto na comida em si, nas cores e na organização dos alimentos para que as pessoas sentissem o nosso afeto e solidariedade na produção daquela refeição”, explica. 

José ressalta que o cuidado com o outro é a agroecologia e nas marmitas em si isto está evidente. “Não é que as pessoas que fazem agroecologia querem embelezar tudo, a própria agroecologia produz a beleza e você vê isso na marmita, porque é diverso, e a diversidade junto com a organização produz a beleza”, conta. Segundo ele, a bolsa da Bipac veio para tirar esse filme da gaveta.

Para Ivone, o filme é importante para mostrar que é possível construir um mundo melhor e mais solidário. Ela explica que fazer parte do coletivo traz também o sentimento de pertencimento, de esperança por estar num grupo que acredita que é possível viver numa sociedade melhor. “Durante a pandemia muitas pessoas também chegaram na cozinha com problemas pessoais, depressão e ansiedade devido ao momento que estávamos vivendo. Elas buscaram o coletivo para poderem fazer algo mais. Indo pra lá, garantindo a sua saúde e a de todos, as pessoas conseguiram mostrar que seu trabalho fazia a diferença e era importante para muitas pessoas”, conta. 

Antonio Silvestre, economista, mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, integrante do coletivo Marmitas da Terra, que também  assistiu ao curta-metragem, conta que o documentário trouxe não só a distribuição das marmitas durante o Grito dos Excluído, “ele mostrou através dos Marmitas da Terra, todo um modo de produzir, de consumir e de acabar com a fome que é a nossa luta dentro do projeto”.

Para quem ainda não pode ver o filme, ele será exibido na 21ª Jornada de Agroecologia em Curitiba, que acontece de 04 a 08 de dezembro no Campus Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Acompanhe a programação pelo site ou redes sociais da Jornada.

*Editado por Fernanda Alcântara