Educação no Campo
Escola Municipal do Campo Trabalho e Saber: uma conquista coletiva para o assentamento Eli Vive
Por Jovana Cestile e Isabela Cunha
Da Página do MST
Na última sexta-feira, 22, o Assentamento Eli Vive comemorou uma importante conquista, a inauguração oficial da Escola Municipal do Campo Trabalho e Saber, na área do assentamento, em Londrina, norte do Paraná. A construção de alvenaria representa uma renovação do espaço escolar do Eli Vive: até então, as crianças estudavam em salas de madeira, construídas pelos próprios pais no ano de 2011. Antes disso, as aulas aconteciam no cocho dos cavalos da antiga fazenda e em salas de bambu. Além dos impactos na comunidade, a inauguração da nova escola representa um avanço para todo o estado, visto que há 10 anos o governo não inaugurava nenhuma escola do campo no Paraná.
A construção da escola é a realização de um sonho coletivo que chega após anos de luta por uma educação pública, de qualidade, socialmente referenciada “no” e “do” campo. Como afirmou José Damasceno, da Direção Nacional do MST, trata-se de uma realização humana, de projeto humanizador. “Chegar até aqui só foi possível graças ao grande apoio da sociedade, é claro, mas a construção foi a muitas mãos, cada companheiro, cada companheira colocou-se a serviço desse projeto e dessa construção”, disse, reforçando o caráter coletivo da conquista. “Nós só chegamos até aqui porque além do sonho de um pedaço de terra, nós construímos o sonho de uma comunidade camponesa que tivesse a essência da vida dos seres humanos, e é por isso que o projeto dá certo, porque cria nas pessoas a base humana para serem os grandes construtores de um futuro mais justo, igualitário e fraterno”, concluiu Damasceno.
Fotos: Leandro Taques
O nome da escola já carrega essa importante simbologia, como reforçou Zara Figueiredo, representante do Ministério da Educação (MEC) que esteve presente na cerimônia de inauguração. “Quando eu estava vindo para cá, estava vendo o nome da escola, Escola Municipal ‘do’ Campo, não é escola no Campo”, destacou. “Escola do Campo Trabalho e Saber não é pouca coisa, porque ser do campo é muito diferente de estar no campo; ser do campo implica um projeto pedagógico de comprometimento político, implica uma concepção política do que é Educação do Campo e dentro do Campo”, refletiu.
Educação do campo: direito nosso, dever do Estado
A cerimônia de inauguração teve início com a mística, em que os próprios educandos trouxeram a memória do processo de construção da educação do campo no assentamento Eli Vive. Relembraram como as primeiras aulas ocorriam em espaços improvisados, como as crianças estudavam em cochos da antiga fazenda e, posteriormente, em estruturas de bambu e em seguida em salas de madeira erguidas pelas famílias do assentamento, funcionando como escola itinerante até ser formalizada como escola municipal em 2017.
A mística reafirmou a Educação do Campo como um direito dos(as) camponeses(as), dever do Estado e compromisso da comunidade.
Na sequência, aconteceram as apresentações do Circo e da Orquestra Popular Camponesa, dois projetos em que os estudantes estão inseridos e que acontecem no espaço da escola, demonstrando a importância da arte e cultura para o aprendizado dos educandos e fortalecimento da comunidade.
Antes que as autoridades presentes fizessem suas falas, os educandos apresentaram as reivindicações da construção da Escola Municipal do Campo Egidio Brunetto no assentamento Eli Vive II, construção do Colégio Estadual do Campo Maria Aparecida Rosignol Franciosi que atende turmas do 6° ano do ensino fundamental ao 3° ano do ensino médio e hoje funciona em estruturas precárias, e a readequação das estradas para garantir a circulação do transporte escolar nos dias de chuva. A educadora Sandra Scheeren entregou para Zara Figueiredo a solicitação para a construção de um Instituto Federal do Campo, que irá garantir acesso à educação e à pesquisa para a comunidade do assentamento e do entorno.
Foto: Leandro Taques
Na sequência, as autoridades presentes falaram sobre o significado e a importância da construção deste espaço. Estavam presentes: Marcelo Belinatti – prefeito de Londrina; Maria Tereza – secretária Municipal de Educação de Londrina; Luzia Suzukawa – prefeita de Tamarana; Lenir de Assis – vereadora em Londrina (PT); Professor Lemos – deputado estadual (PT); Nilton Bezerra Guedes – superintendente do INCRA – PR; Zara Figueiredo – secretária da SECADI-MEC; José Damasceno – da Direção Nacional do MST; e Valter Leite – dirigente do Setor Nacional de Educação do MST.
Para que a construção acontecesse, além do processo de luta da comunidade, foi importante também o trabalho de apoiadores, como a vereadora Lenir de Assis, que esteve presente e afirmou que acompanha a construção e o pleito da comunidade desde quando foi instalado o assentamento. “Hoje, inaugurar essa escola com essa robustez, uma escola bonita, uma escola inclusiva, com a participação da comunidade, com tudo o que o campo precisa, que os assentamentos precisam, é uma conquista, fruto da organização do povo”, declarou.
Para a secretária Municipal de Educação, Maria Tereza, entregar a obra é um privilégio. “É muito melhor do que eu sonhei, porque ficou muito lindo, é um projeto único que tem na nossa cidade (Londrina), nunca construímos uma escola com essa estrutura, com esse modelo de sala de aula, de pátio, de quadra, tudo muito integrado, de qualquer lugar você vê toda a escola, isso é muito inovador”, analisou a secretária.
Seguir lutando
Para o dirigente nacional do setor de educação do MST, Valter Leite, “esse momento remonta uma história em nossas mentes, e, sem dúvida, o coração do nosso MST, o coração da Educação do Campo e o coração do Projeto da Reforma Agrária Popular pulsa mais forte hoje, pela consolidação desta conquista que é a construção das edificações da Escola Municipal do Campo Trabalho e Saber”, avaliou.
Para Leite, a inauguração reforça ainda a importância de seguir em luta. “A organização comunitária mais do que nunca deve seguir adiante e fortalecida, porque, embora se consolide esse prédio, o prédio por si só não educa. Nós temos que cuidar do conteúdo pedagógico desta escola e, mais do que nunca, temos que seguir valorizando os educadores e educadoras, buscando melhores condições pra que se materialize um trabalho pedagógico de excelência aqui no Eli Vive”, reforçou.
Com um investimento de R$ 8,6 milhões, a nova escola terá capacidade de atender até 445 estudantes. O projeto inclui seis salas de aula, biblioteca, quadra poliesportiva coberta, refeitório, laboratório de informática e áreas de convivência. A manhã de atividades foi encerrada com um almoço camponês caprichado, ofertado a todos e todas pela comunidade do assentamento.
*Editado por Fernanda Alcântara