JURAs 2024

Quilombo Campo Grande reúne instituições de ensino no encerramento da JURA 2024

O encontro envolveu visitas aos lotes das famílias acampadas, rodas de conversa e uma avaliação das atividades realizadas pelas instituições do Sul de Minas Gerais

Foto: Cassio Diniz

Por Tatiana Plens – Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas
Da Página do MST

No último sábado, 23 de novembro, o acampamento Quilombo Campo Grande, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Campo do Meio/MG, recebeu cerca de 150 estudantes, técnicos e professores de cinco instituições de ensino, pesquisa e extensão para o encerramento da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária Popular (JURA) 2024.

Participaram representantes da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) – sede Alfenas e campus Varginha, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – unidade Campanha e do Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) – campi Inconfidentes, Machado e Poços de Caldas. Também estiveram presentes integrantes do Centro de Referência em Direitos Humanos do Território de Desenvolvimento do Sul (CRDH Sul de Minas) e do Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas.

Na parte da manhã, após um acolhimento com café solidário organizado pelo MST, os visitantes conheceram os lotes do acampamento e a história das famílias acampadas, além de acompanhar a produção local. À tarde, a programação incluiu uma feira com produtos da Reforma Agrária Popular e rodas de conversa sobre os 40 anos do MST, a história do acampamento Quilombo Campo Grande, a Escola Popular de Agroecologia Eduardo Galeano e o Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas. Também foi realizada uma avaliação das atividades promovidas durante a JURA 2024 pelas instituições participantes.


O Quilombo Campo Grande e a Escola Popular de Agroecologia Eduardo Galeano

Foto: Cassio Diniz

Na roda de conversa, Yara Naí de Freitas, assentada no Quilombo Campo Grande, destacou a trajetória de mobilização para a ocupação das terras da antiga Usina Ariadnópolis, que resultou na formação do acampamento há 26 anos. “Estamos há 26 anos lutando pelo direito à posse legal da terra”, comentou Yara.

Nelson Bernardes de Freitas, também acampado, ressaltou a importância da diversificação da produção realizada pelas famílias e o enfrentamento aos impactos ambientais e sociais provocados pela monocultura. “A monocultura degrada o solo e também a cultura”, afirmou Nelson.

Outro tema abordado foi a expectativa pelo decreto de desapropriação da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo, antiga administradora da Usina Ariadnópolis, cuja recuperação judicial foi considerada inviável pelo Superior Tribunal de Justiça no dia 31 de outubro. “Esperamos por esse decreto há 26 anos. É muita luta e sofrimento”, relembrou Jailson Lima da Cruz, acampado do Quilombo Campo Grande.

O acampamento já enfrentou 11 despejos, incluindo um dos episódios mais simbólicos: a ação conduzida pelo governador Romeu Zema (Novo) durante a pandemia de Covid-19, em que 700 policiais utilizaram caveirões, helicópteros e bombas para retirar as famílias. Durante essa ação, a Escola Popular de Agroecologia Eduardo Galeano foi destruída, mas está sendo reconstruída com apoio de parceiros nacionais e internacionais.


As instituições de ensino e a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária Popular

Foto: Cassio Diniz

A JURA no Sul de Minas Gerais é organizada por instituições de ensino, pesquisa e extensão em articulação com o MST, o CRDH, a Adere-MG e o Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas, e envolveu uma série de atividades, como mesas-redondas, debates, exposições culturais e feiras de produtos da Reforma Agrária Popular.

Realizada anualmente desde 2014, a Jornada tem como objetivo promover debates sobre a questão agrária no Brasil, contribuir para a formação acadêmica e social dos participantes e fortalecer a luta pela Reforma Agrária Popular. Sob o lema “MST: 40 anos de Luta e Construção!”, a edição de 2024 destacou o protagonismo do movimento ao longo de sua história.

No encerramento, Adriano Pereira Santos, professor da UNIFAL-MG, ressaltou que a JURA é um espaço essencial para a produção de sociabilidade. Helen Mayara dos Santos, acampada e participante da Jornada, destacou a importância de aproximar estudantes e professores da realidade das famílias acampadas. “É onde a gente pode levar nossa experiência e história”, afirmou.


O Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas

O Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas, instituído pela Lei Estadual nº 23.939/2021, nasceu para fomentar o desenvolvimento da agroecologia, promover a produção orgânica e fortalecer a articulação entre diferentes setores no território. Atualmente, o Polo conta com cerca de 40 organizações, incluindo instituições de ensino, movimentos populares e associações de agricultores.

Jailson Lima da Cruz, membro da Coordenação Política do Polo, destacou sua relevância no combate aos agrotóxicos e na denúncia de práticas como o trabalho análogo à escravidão. “É nosso instrumento estratégico para lutar por alimentos saudáveis e condições dignas de vida”, enfatizou.


Encerramento da atividade

O encontro foi encerrado com uma fala de Dona Ricarda, educadora popular do acampamento, direcionada aos jovens presentes. “Você, jovem, que não teve o contato com a terra que eu tive, aprenda a amar a terra e a falar da agroecologia. Que possamos conjugar com força o amor”, declarou, marcando o encerramento do evento no Quilombo Campo Grande. A última atividade da JURA 2024 no Sul de Minas Gerais será realizada nos dias 9 e 10 de dezembro, na UEMG – unidade Campanha.


*Editado por Fernanda Alcântara