Encontro MST
Encontro dos amigos e amigas do MST propõe debate franco entre aliados e fortalece aliança para avançar na Reforma Agrária
MST reúne apoiadores da Reforma Agrária em encontro realizado no centro da capital paulista, demonstrando a força da conexão campo e cidade
Por Aline Antunes
Da Página do MST
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizou neste sábado (07) encontro com amigos e amigas em São Paulo, trazendo a atividade para a capital paulista, após anos sendo realizada na Escola Nacional Florestan Fernandes (Guararema). O Encontro dos Amigos, assim como a Feira Nacional da Reforma Agrária e a própria construção dos Armazéns do Campo, faz parte da estratégia do Movimento em aproximar sua relação com a sociedade.
Estiveram presentes na mesa de abertura, que apresentaria o Balanço do MST em 2024 e projeções para 2025, o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, e o Chefe da Secretária-geral da Presidência da República, Marcio Macedo.
Amigos e Guardiões da Reforma Agrária
Jorge Amado, em seu primeiro livro da trilogia “Os Subterrâneos da Liberdade”, traz um bonito trecho sobre o companheirismo daqueles que compartilham um mesmo ideal de mundo, e como isso nos tira o direito de nos julgar em solidão, pois “onde quer que estivesse, haveria sempre a mão de um companheiro para apertar a sua mão”. E o encontro entre amigos e amigas da Reforma Agrária representa esse sentimento, seja no campo ou na cidade, encontraremos sempre companheiros e companheiras dispostos a construir a luta pela terra, pela justiça social, pela produção de alimentos saudáveis e pelo combate à fome.
Neste sentido de unidade na construção política, João Pedro Stedile, da Direção Nacional do Movimento, compartilha uma leitura coletiva de espaços como Via Campesina Brasil, e Frente Brasil Popular, sobre os desafios enfrentados pela classe trabalhadora brasileira.
Para compreendê-los é indispensável partirmos daleitura da conjuntura internacional, e as consequência da grave crise do capitalismo que o mundo todo está enfrentando. “O Brasil é uma economia capitalista totalmente dependente da economia internacional, portanto, tudo o que a economia internacional faz influi diretamente em nosso país”, destaca Stedile.
De acordo com Stédile, esse momento é considerado por muitos como a crise civilizatória do ocidente, uma cultura que “prega o individualismo, o empreendedorismo – algo que o Governo Lula deveria riscar de seu dicionário – e o egoísmo”. Em momentos como esse, os mecanismos buscados pelo capital são os de fortalecer a indústria bélica e, consequentemente, as guerras; intensificar a ofensiva contra os bens da natureza, e os ataques à democracia.
No Brasil podemos observar estes pontos muito latentes após o término do processo eleitoral. Momento em que não vimos as correlações de forças se transformarem nas cidades, os discursos neoliberais ganharem força, assim como as ideias de saídas individuais para os problemas que atingem o todo da sociedade.
Neste cenário, Stedile afirma que o Governo enfrenta dificuldades na construção de políticas para ajudar a população mais pobre. De acordo com ele, “todas as políticas boas que foram recuperadas do passado não estão chegando na população mais pobre. O Governo abandonou o convênio com as entidades, e quem se beneficia, por exemplo, de programas como o ‘Mina Casa Minha Vida’ são as construtoras”.
Além disso, é preciso olhar com atenção para as taxas de desemprego, e buscar entender onde e como estão os 70 milhões de trabalhadores que seguem na informalidade. Assim como os jovens que integram a juventude “Nem, Nem”, aqueles que nem estudam e nem trabalham.
Governo Lula e a Reforma Agrária
“A Reforma Agrária está parada, queremos mais que incentivo à produção, queremos a Reforma Agrária! E ela só é possível com a desapropriação do latifúndio, afetando assim a estrutura produtiva.”
João Pedro apresenta a preocupação do MST com as políticas de Reforma Agrária do Governo Lula, dialogando com as falas do Ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, e apontando que nos primeiros dois anos de governo nenhuma fazenda foi desapropriada, esbarrando assim na essência da construção da Reforma Agrária.
De acordo com o Ministro do Desenvolvimento Agrário, a perspectiva para 2025 é a desapropriação de 05 fazendas que serão destinadas às famílias que estão acampadas. “Para nós e o presidente Lula, não queremos mais nenhuma família morando em acampamento no Brasil. Vamos esticar a corda até o limite!” Ainda, de acordo com Paulo Teixeira, o governo fará “um abril vermelho de entregas para a Reforma Agrária, garantindo o desenrola campo, perdão das dívidas, e entrega de créditos.”
De acordo com Stedile “enquanto esse lado da luta está encalacrado”, o MST coloca energias na produção de alimentos saudáveis e na promoção da agroecologia. Nesse sentido, são desenvolvidos projetos de multiplicação de sementes e parcerias com o governo chinês na produção de fertilizantes orgânicos, máquinas agrícolas para camponeses e fortalecimento das agroindústrias.
Trincheiras diferentes, mas a mesma luta!
Para o Chefe da Secretária-geral da Presidência da República, Marcio Macedo, o papel do governo é fazer entregas, construir políticas públicas para transformar a vida do povo, enquanto a tarefa dos Movimentos é reivindicar e fazer a luta política. Para ele, são trincheiras diferentes, mas que estão do mesmo lado na luta, o lado daqueles que o sistema invisibilizou. Portanto, é “fundamental estarmos lado a lado no combate à extrema direita, mas com todo o respeito e garantia da autonomia dos movimentos.”
Conexão Campo e Cidade e as nossas tarefas
O Encontro de amigos e amigas do MST aconteceu no Espaço Cultural Elza Soares, apresentado por Ana Chã, coordenadora do local, como “um espaço de toda a classe trabalhadora, que promove um diálogo entre o campo e a cidade com acolhimento pela arte, cultura, culinária, esportes e soberania alimentar.”
Localizado na região central da cidade de São Paulo, o espaço faz parte da estratégia de diálogo do Movimento com a sociedade, assim como as Feiras e os Armazéns do Campo, e reforça a ideia de que a luta pela Reforma Agrária não é só do camponês e camponesa, mas de todos e todas que defendem o direito à alimentação saudável, a defesa dos bens naturais, o combate à fome e às desigualdades.
E para selar esse compromisso coletivo, Delwek Matheus, da direção do Setor de Produção do Movimento em São Paulo, anunciou a data da próxima Feira Nacional da Reforma Agrária, que acontecerá no Parque da Água Branca em maio do próximo ano, pretendendo reunir de 300 a 500 mil pessoas. Delwek aproveitou a presença do Ministro do MDA para convocar todo o governo e o INCRA para participar dessa construção.
O Encontro é mais uma demonstração de como o MST é um movimento de toda sociedade brasileira, e que sem os amigos e amigas, não seria possível carregar esse projeto que é mais que a Reforma Agrária, é a produção de alimentos saudáveis pra todo mundo, e a defesa da natureza!