Jornada Sem Terra

MST reúne com equipe de negociação para avanços na reforma agrária no Pará

Mobilização denuncia impactos da mineração e cobra reforma agrária e justiça social

Viviane Brigida
Da Página do MST

Foto: Setor de Comunicação Pará

Em mais de 10 horas de reunião, o Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) garante avanços na pauta da reforma agrária no Pará. Resultado da negociação entre representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Secretaria Geral da Presidência da República, Procuradoria do Governo do Pará, Empresa de mineração VALE, Comissão Pastoral da Terra e coordenação do MST com a mediação de Claudia Maria Dadico, Diretora de Mediação de Conflitos do MDA. 

A reunião aconteceu nesta sexta-feira no Assentamento Pamares II, em Parauapebas, após o movimento iniciar a “Jornada por Direitos e pela Reforma Agrária” com a ocupação da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e a paralisação do trem que interliga mais de 10 municípios nos estados do Pará e Maranhão ocorrida na última terça-feira (03\12).

A jornada iniciou com as denúncias sobre os impactos ambientais e sociais causados pela mineradora Vale que assolam milhares de famílias na região e que a empresa pudesse responder as demandas das famílias atingidas pela mineração e que os governos federais e estadual retomassem a pauta da reforma agrária com as famílias ligadas ao movimento.

A reunião se desenvolveu em três blocos apresentados: questões fundiárias, desenvolvimento dos assentamentos, questões políticas. Nas demandas apresentadas pelos dirigentes do movimento, foi abordado desde os recursos do CFEM (Compensação Financeira pela Exploração Mineral) à desapropriação de terras e projetos para desenvolvimentos para os assentamentos.

“Fechamos acordos importantes, o principal deles é que nenhuma família sem terra seja despejada enquanto luta pela terra no Estado do Pará, com o compromisso do governo federal para suspensão de reintegração de posse que assobram as nossas famílias e anúncio de novos assentamentos que sairão já no ano de 2025” destaca Pablo Nery da direção nacional do MST.

Áreas pautadas dos municípios de Parauapebas, como acampamento Terra e Liberdade que atualmente é o maior do movimento no Brasil, com mais de 8 mil famílias cadastradas pelo INCRA, o acampamento Oziel Aves em Canaã dos Carajás, Acampamento Dalcídio Jurandir em Eldorado do Carajás, Carlos Marighella em Irituia, Terra Cabana no município de Benevides, entre outros.

Foto: Setor de Comunicação Pará

Os integrantes do movimento também pautaram a garantia de créditos para as famílias assentadas para serem incluídos em projetos e programas para o desenvolvimento da agricultura familiar com base na agroecologia. “Estamos discutindo mais uma vez a pauta da reforma agrária em todo estado do Pará, uma pauta que coincide muito com a pauta nacional do MST que trata desses temas do direito ao acesso à terra, das famílias acampadas e do desenvolvimento dos nossos assentamentos e do desenvolvimento do nosso projeto de reforma agrária como um todo” descreve Ceres Hadich da direção nacional do Movimento e do escritório de Brasília.

Para Tito Moura, da direção do MST Pará, o movimento relacionou a necessidade da luta para obter conquista. “Todos sabem que temos o maior acampamento na região de carajás, já há um ano, tivemos um momento fatídico em que perdemos nove companheiros e companheiras, e neste momento veio um conjunto de membros do governo e que apresentou como solução fazer assentar de forma imediata as famílias do acampamento, e até o momento não houve nem vistoria. Então resolvemos fazer lutas porque só a luta faz valer” disse o dirigente.

José Batista, da Comissão Pastoral da Terra, citou que a questão fundiária na região, é uma dificuldade para os órgãos públicos, pois há muita limitação de organizar dados oficiais. “Existem muitas áreas públicas, que são áreas ocupadas por fazendeiros e pra localização dessas áreas precisaria fazer levantamento, a gente sabe das dificuldades do Incra de proceder com condições dessa natureza” relatou o advogado. 

Os representantes da mineradora manisfetaram que foi uma reunião muito produtiva com diálogo a partir de uma pauta bastante extensa. “Estamos aqui renovando compromisso, agendamos 04 reuniões periódicas para o ano que vem. Começamos uma nova parceria de diálogos e sermos resolutivos nas questões e avançar juntos” destacou Marcelo Klein diretor da Vale.

Nos pontos políticos, Joge Nery, da direção do MST no Pará destacou a presença da empresa Vale na região e a importância da reunião. “Estamos nesse território há mais de trinta anos e verificamos que a reforma agrária não andou, nós temos uma cidade às margens do projeto minerário. A característica básica nossa é que conseguimos organizar as coisas, mas não é uma característica da região, porque a Vale desorganiza a vida da região. Parte de nossa cobrança significa incorporar os outros. Nós não teremos paz nessa região se não fizermos um debate sobre o papel da mineração no estado, incorporando o povo nessa pauta” afirmou Nery.

Após horas de diálogos, e debatendo os pontos apresentados, a reunião obteve avanços para as vistorias das áreas para desapropriação de terras, com prazo de 90 dias para concluir o processo de aquisição das fazendas reivindicadas para as famílias do acampamento Terra e Liberdade, a criação de uma força tarefa composta por equipes do MDA, INCRA e Procuradoria Federal para arrecadação de terras públicas, onde começaria pelas áreas da VALE. 

A primeira área a ser organizada para começar a força tarefa seria no município de Canaã, a garantia de suspensão de reintegração de áreas ocupadas pelo movimento, reunião com representantes do movimento junto às superintendências SR27 e SR01 e qualificar as demandas para garantir uma equipe de trabalho para qualificar as demandas junto as Srs; 

A Procuradoria do Estado do Pará viabilizará junto ao ITERPA para entrar num acordo na Comissão de Soluções Fundiárias do Estado, pedir alguma tutela cautelar para que o ITERPA possa entrar na área para atualizar os estudos e findá-los nas áreas indicadas pelo movimento. Também foi criado um Acordo de Cooperação Técnica entre Vale\ MDA e MST para viabilizar as demandas das famílias e de grupo de acompanhamento do Governo Federal entre os entes federal, estadual, municipal, MST e Ministérios públicos Estadual e Federal, com reuniões trimestrais para tratar dos processos de cooperação para a realização dos itens propostos na pauta.

Após o término da reunião, uma multidão aguardava na praça central do assentamento, para receber os resultados da negociação. A comissão participou do grande ato político de anúncio dos acordos afirmados.