Alternativas
Saída para crise climática deve ser coletiva e com os povos do campo como precursores das mudanças
Por Coletivo de Comunicação do MST na BA*
Da Página do MST
Durante o 37º Encontro Estadual do MST na Bahia, a mesa “Reflexões sobre a crise climática”, trouxe diversos pontos de aprofundamento neste debate, um dos maiores desafios do nosso tempo. E, embora as considerações tenham apontado os pontos críticos nada positivos desse cenário, as saídas se apresentaram pela dimensão da organização coletiva e no enfrentamento do modelo de morte do capital para o campo, o agro-hidro-mineral negócio.
Nesse sentido, Ruben Siqueira, da CPT Bahia, foi categórico ao afirmar que “o agronegócio é a morte do futuro”. E que a solução é sim a Reforma Agrária Popular, principalmente, por seu caráter de democratização e manejo da terra. “Desconcentrar a terra é desconcentrar o poder político. A humanidade só terá futuro se houver campesinato.”
Já a prof.ª Celi Taffarel, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e parceira do MST, considerou que ao discutir a crise climática devemos responder três questões: quem são os responsáveis, quais são as consequências e o que fazer? Ela enfatizou a necessidade de criar saídas coletivas para as grandes questões de nosso tempo. “Sozinha não se faz revolução plenamente, temos que estar inseridas em movimento de luta social.”
Em sua concepção, um debate como esse deve ser feito aliando educação, ciência e tecnologia, pois é difícil discutir o enfrentamento da crise quando não se envolve o debate sobre as possibilidades de mudanças concretas, como a Reforma Agrária, nas escolas em geral. Enquanto o setor empresarial tem feito esse caminho.
“A escola é a porta de entrada para enfrentar a crise. É preciso ter a perspectiva de uma outra educação para construir um programa que apresente as questões climáticas e ambientais e isso faz parte da relação escola – comunidade”, ressaltou.
O 37º Encontro Estadual do MST na Bahia acontece até quarta-feira (18), no Parque de Exposições, em Salvador/BA.
Agronegócio: projeto de morte
É necessário entender que a discussão sobre a crise climática não é deslocada do debate sobre o sistema de desenvolvimento capitalista e suas consequências em nossas vidas. Segundo o professor Felipe, “debater a crise climática é debater a crise da sociedade”, uma vez que, ela “não é causada por problemas naturais e sim, é fruto de um modelo de desenvolvimento criado por nossa sociedade e que está nos jogando para o abismo.”
E esse modelo se materializa no campo por meio do agronegócio que na saga de ampliar seus ganhos em commodities, carrega na sua esteira uma profunda desigualdade social, racial e de gênero, que derruba o equivalente a inúmeros campos de futebol, milhões de hectares de florestas destruídos, com um uso intensivo de agrotóxicos no qual o Brasil é o maior consumidor do mundo.
Ruben Siqueira, da CPT, também trouxe apontamentos sobre esse processo, incluindo outras frentes do capitalismo no campo. “A ofensa do capital chegou ao campo, seja pelo agronegócio e suas grandes monoculturas, seja com os mega projetos de energia ditas renováveis (Parques eólicos e solares), bem como a mineração. Os povos do campo estão sendo assediados violentamente pelas frentes do capitalismo. O que se anuncia como parte da recuperação é mais violações.“
De acordo com Siqueira, em menos de 20 anos, 7 mil km de água morreram na bacia dos rios Corrente e Carinhanha, no Oeste da Bahia. Esse dados são resultado de um trabalho de mapeamento realizado a muitas mãos, ao longo de 2023 e 2024, nas sub-bacias hidrográficas, que identificou 3.050 trechos de águas já secos, entre córregos, riachos, nascentes e cabeceiras de rios, num total de 7.120 km de extensão de águas mortas.
Além das águas mortas, o mapa apresenta outros 580 trechos de águas classificadas como em estado crítico, o que corresponde a 3.837 km de extensão, com destaque às grandes calhas dos rios das bacias apresentadas no mapa. As comunidades testemunham que todas as águas identificadas passaram a secar a partir da década de 1980, cerca de 15 anos após a instalação dos primeiros projetos de “desenvolvimento” na região, com o desmatamento de grandes áreas para plantio de pinus e eucalipto nos Cerrados do Oeste.
Na mesma esteira, também se apresentam aumentos nos históricos conflitos no campo brasileiro. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, a Bahia é o estado com mais conflitos no campo em 2023, a maioria das vítimas são de comunidades quilombolas, de fundo e fecho de pasto e indígenas.
Em 2023, o estado acumulou um total de 249 conflitos no campo, atingindo a terrível marca de estado com mais conflitos dessa natureza no país. Os dados apresentados refletem uma escalada que só cresce, desde 2016. Após ficar dois anos seguidos na terceira posição do ranking, este ano a Bahia ultrapassou o Pará (226 conflitos) e o Maranhão (206).
Dessa forma, ao reafirmar seu compromisso com a luta por terra, dignidade e soberania alimentar na Bahia, o Movimento Sem Terra, pauta a necessidade de avanços concretos da Reforma Agrária Popular. No entanto, ao mesmo passo que as práticas desses povos trazem soluções viáveis ao projeto de morte do capitalismo, é perceptível a ausência do Estado em garantir a dignidade e as condições para que se aumente a capacidade produtiva e reprodutiva nestes territórios. Enquanto a violência também alcança níveis cada dia maiores.
*Com informações da CPT
**Editado por Solange Engelmann