Educação do Campo
Livro aborda desafios das escolas do campo em áreas de assentamento da reforma agrária
Por Marcos Antonio Corbari
Do Brasil de Fato
Adilson Apiaim publicou livro que é resultado de duas décadas de estudo – Arquivo
Muitos leitores já estão habituados a ler as palavras do educador, pesquisador, poeta e militante do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) Adilson Apiaim. Seu modo de ler e interpretar o mundo e, de modo particular, as lutas sociais já permeiam há pelo menos duas décadas o cotidiano de quem se interessa em compreender os complexos laços que entremeiam a luta pela reforma agrária e o desafio da construção de baixo para cima de políticas públicas voltadas à Educação do Campo.
Depois de já ter contribuído na elaboração do projeto de política pública das Escolas Itinerantes no estado do Piauí, ter participado da coordenação de projetos de formação de professores pelo Pronera, atuado na coordenação política pedagógica de escolas do campo em território de assentamentos da reforma agrária, de ter publicado dois livros de poesia engajada e participado de diversas publicações de matriz científica, em 2024 Apiaim trouxe O Desafio da Política Pública de Educação do Campo nas Escolas de Assentamento da Reforma Agrária, pela editora Dialética, resultante da sua dissertação de mestrado.
“A política de Educação do Campo, originada da luta contra-hegemônica e da proposição dos movimentos sociais do campo, está em processo de construção e em permanente disputa, considerado o seu pertencimento a um outro projeto de educação e de sociedade a ser implementado em âmbito da política de educação de Estado. Enfrenta, assim, obstáculos de diferentes tipos, tais como: financiamento, de pessoal, condições operacionais, qualidade e alcance das ações e dos resultados”, afirma o texto de apresentação da obra, no site da Editora Dialética.
“O momento histórico atual da sociedade brasileira encontra-se sob a hegemonia do capital em múltiplas formas de organização dos meios de produção e da existência, evidenciando-se o posicionamento do Estado na luta de classes atuando preponderantemente como mantenedor dessa estrutura, e em detrimento da promoção das políticas públicas sociais de desenvolvimento humano. As políticas públicas não resolverão unilateralmente o problema das desigualdades sociais, mas considera-se que são importantes para amenizar impactos sociais e da formação humana” são considerações propostas pelo autor.
Para Apiaim, é necessário refletir e conhecer o tipo de incidência que a política de Educação do Campo, proposta pelos movimentos sociais do campo, realiza na implementação da política pública geral e no funcionamento do Estado e, “enfim, perceber se essa construção indica a formação de um novo consenso capaz de mover-se em contraposição ao consenso do capital no âmbito da educação. Portanto, é imprescindível a luta pelo acesso à educação de qualidade no campo”.
O livro está a venda nas principais livrarias virtuais, mas o próprio autor aconselha que seja adquirido consigo ou pelo site da editora, onde o valor está mais acessível. A reportagem do Brasil de Fato RS conversou com o autor, que apesar de ter sua atuação militante vinculada ao MST nos estados do PA e PI, mantém forte relações com o RS.
O autor explica que o norte do estudo é claro: “Abordar sobre como a política da Educação do Campo no estado funciona ou não funciona. É resultado de um trabalho árduo, um percurso histórico de 20 anos, de 2004 a 2023, contrapondo o processo de plataformização da Educação no Piauí, a falta de uma política de Educação do Campo no estado, a não-concretização de fato da educação do campo é o caminho que eu percorri”, aponta.
Outro aspecto identificado pelo autor – que não é apenas pesquisador, mas participante do processo – é a dificuldade de gestar uma escola do campo em plena era da tecnologia, “estamos na era da informação, na tecnologia de ponta que a humanidade produziu, e para nós no campo ainda falta o básico, até mesmo a sala de aula em muitos lugares”.
“Fizemos a pesquisa para mostrar no campo da formação, da orientação, do conhecimento, da estrutura, da parte humana, do físico, do financeiro, mas principalmente no campo pedagógico o quanto estamos submissos ao capital e a plataformização das empresas, institutos e fundações”, acrescenta Apiaim. “Nada de políticas públicas que viemos pleiteando, orientando e construindo pelos movimentos sociais. Chegamos à conclusão que temos muitos desafios ainda a ser superados.”
Embora o livro traga o relato da pesquisa realizada a partir de três escolas situadas em áreas de assentamento da reforma agrária no Piauí, traz muitos paralelos que permitem refletir a realidade das escolas do campo e as políticas públicas da educação no campo país afora. A conclusão é de que “a política de Educação do Campo ainda não está materializada no chão dessas escolas, apesar das orientações político-pedagógicas e operacionais contidas nos marcos legais e dos esforços empreendidos pelas escolas nos assentamentos acompanhadas pelo MST”.
O autor pode ser contato via suas redes sociais: https://www.facebook.com/adilson.apiaim
O livro pode ser adquirido diretamente na editora: https://loja.editoradialetica.com/humanidades/o-desafio-da-politica-publica-de-educacao-do-campo-nas-escolas-de-assentamento-da-reforma-agraria
Edição: Katia Marko