Reforma Agrária Popular

Conheça 5 experiências da Reforma Agrária na região de Bauru, SP

O trabalho das famílias destaca a perspectiva da agroecologia, construção de agroflorestas, cadeia produtiva do café, frutas e formação
Foto: Edwin K. Taves

Por Coletivo de Comunicação do MST em São Paulo
Da Página do MST

Fruto da luta pela terra e da organização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), as experiências a seguir demonstram a viabilidade da Reforma Agrária como forma de desenvolvimento econômico e sustentável no campo e apontam para a capacidade das famílias assentadas de organizar o trabalho no campo de forma produtiva e de conservar os bens comuns.

As experiências estão localizadas nos assentamentos Zumbi dos Palmares, em Iaras, Maracy e Rosa Luxemburgo, em Agudos, que estão localizados na região de Bauru. Destacam diferentes trajetórias de luta das famílias e formas de organização das cadeias produtivas.

Agrofloresta

No assentamento Zumbi dos Palmares, a família do Sr. Braz começou a implementar um Sistema Agroflorestal em julho de 2024. Filho de assentado, ele adotou uma parcela do lote do pai para viver e desenvolver a experiência. Ele teve seu primeiro contato com o modelo produtivo da agrofloresta durante sua participação nas atividades do MST na região. A partir disso, procurou apoio com militantes do movimento para planejar a sua agrofloresta.

No espaço de 3 mil metros quadrados, já conseguiu promover a mudança da paisagem e está recuperando a qualidade e a fertilidade do solo. São mais de 350 árvores de diferentes espécies e extratos introduzidas na agrofloresta.

A agrofloresta, para o assentado, promove uma relação de sintonia e trocas entre as práticas produtivas e a conservação ambiental. Nela, a família produz banana, feijão, milho, abóbora, melancia, ervas medicinais e outros alimentos saudáveis, que são comercializados via mercado institucional, como o Programa Paulista de Alimentação de Interesse Social (PPAIS) e Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA).

Foto: Edwin K. Taves

Café da Cecília

Dona Cecília, mulher assentada que saiu do trabalho no setor da metalurgia para a luta pela terra, desenvolve a cadeia produtiva do café há 16 anos. Referência política do assentamento Zumbi dos Palmares, não perde uma oportunidade de participar das atividades do MST na região e no estado de São Paulo, acompanhando os processos de luta junto com as demais famílias.

Para desenvolver a cadeia produtiva do café, ela cultiva a planta em sua própria área e também adquire de outras famílias para dar conta da demanda de comercialização. Possui uma pequena estrutura de indústria para beneficiar o produto, desde a limpeza, secagem, torra, moagem e embalagem.

Sempre presente nas feiras estaduais e nacionais do MST, tem orgulho de dialogar com as pessoas sobre a forma como o café é produzido e sua trajetória na luta pela terra, bem como demonstrar o orgulho de dizer que o Café da Cecília é um produto do MST. Além disso, participa da diretoria da cooperativa Coopcat Mulheres, que integra pelo menos 40 cooperadas para a entrega de produtos aos mercados institucionais, como o PAA e o PNAE.

Foto: Edson Silva

Educação popular

A Escola Popular Rosa Luxemburgo, localizada no assentamento também chamado Rosa Luxemburgo, município de Agudos, foi inaugurada em 2009 e institucionalizada em 2020 enquanto OSC. Conta com o apoio da comunidade e se constitui em unidade de 26 hectares que abriga estruturas básicas de alojamentos, refeitório, cozinha, plenária, secretaria e biblioteca, além de um espaço com infraestrutura completa para manejo da pecuária.

A Escola transformou o espaço onde antes do processo de luta pela terra na área era utilizado para receber coronéis da oligarquia agrária do estado e, agora, se tornou um espaço de gestão coletiva da comunidade para promover a educação de caráter popular.

O espaço já formou mais de 500 educandos, com formação técnica e superior, como agronomia e tecnólogo em agroecologia. Nesse percurso, já estabeleceu relações nacionais e internacionais, como a UFSCar, UNESP de Botucatu e de Marília, Centro Paula Souza, Instituto Federal de São Paulo e a Fundação Rosa Luxemburgo.

Neste momento, recebe o curso em nível de pós-graduação especialização em “Trabalho Associado e Educação para além do capital na América Latina”, oferecido pelo Instituto Federal de São Paulo campus de São José dos Campos em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).

Do ponto de vista produtivo, a Escola desenvolve um projeto coletivo de cultivo de avocado na área de produção em torno da escola, que se desdobra na participação individual das famílias da comunidade que plantam o avocado em pequenas parcelas nos seus lotes. O cultivo da espécie está sendo feito em agrofloresta, onde as famílias estão aproveitando as áreas para produzir outros alimentos.

Foto: Edwin K. Taves

Cadeia produtiva das frutas

No assentamento Maracy, a família de Irineia iniciou em 2012 o plantio de uma diversidade de frutas ao redor da casa, dando continuidade à luta iniciada por seu sogro. A partir das frutas e ervas medicinais cultivadas no lote, Irineia produz e comercializa geleias, refrigerantes caseiros, sucos, compotas, pães, bolachas recheadas, entre outros produtos, agora de forma independente. Ela recentemente conseguiu a regularização do lote junto ao Incra.

A produção integra mangas, acerola, amoras, bananas, pitaias, morangos, canela e outras frutas com a criação de galinhas e gado de corte, promovendo um sistema diversificado. Além disso, Irineia reutiliza óleo de cozinha para produzir sabão em pedra e em pó, artesanatos e outros itens reciclados, incentivando a conscientização sobre a importância do reaproveitamento de materiais e da redução de resíduos no assentamento.

Foto: Filipe Augusto Peres

Quintal Agroflorestal

Martinha, mulher negra e assentada, antes trabalhadora doméstica na cidade, conquistou sua terra após nove anos de acampada. Hoje, ela desenvolve atividades de produção e comercialização dos alimentos que cultiva junto com seu companheiro e a sua filha, sendo uma referência na implementação de quintais produtivos no assentamento Maracy. Desde 2012, Martinha também atua na organização das famílias por meio da Associação dos Assentados Fruto da Terra.

A associação reúne pelo menos 20 famílias que fornecem produtos para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Além disso, experimentam o cultivo de avocado e berinjela, buscando diversificar mercados, apesar das dificuldades de acesso à água no assentamento. A produção de leite também integra os quintais produtivos, fortalecendo a renda das famílias.

Para a assentada, a diversificação das culturas e dos canais de comercialização amplia as possibilidades de permanência no campo, garantindo que sua filha dê continuidade à vida na terra. Até porque, no cotidiano da produção, manifestam-se as dinâmicas de divisão do trabalho entre homens e mulheres, assim como as relações geracionais, que reforçam os laços familiares e comunitários, e que o MST promove desde o acampamento.

Foto: Filipe Augusto Peres
Foto: Filipe Augusto Peres

*Editado por Fernanda Alcântara