Agroecologia
Coordenação do MST-PR se reúne para debater o avanço da luta pela Reforma Agrária Popular
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Por Camila Calaudiano, Maíra Fernandes Costa e Murilo Bernardon, do Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Nos dias 06 e 07 de fevereiro, militantes de todas as regiões do estado se reuniram em São Miguel do Iguaçu, oeste do Paraná, para a Reunião da Coordenação Estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná. Ao longo de dois dias, muitas memórias foram criadas e revisitadas no Instituto de Educação e Pesquisa de Reforma Agrária, o histórico Itepa, no assentamento Antônio Tavares.
Ao início de cada plenária foram realizadas as místicas — expressão do desejo, sonhos e razões pelas quais vamos à luta, em que os (as) camponeses trazem para o centro do espaço elementos simbólicos para o movimento, tremulam bandeiras, mudas de árvores, livros, sementes, facões e enxadas por um projeto e um sonho: Reforma Agrária Popular e socialismo.
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Com manhãs e tardes repletas de debates, mais de 350 companheiros (as) estiveram presentes nesse momento de trocas e construção coletiva. Os debates iniciaram com uma análise da Conjuntura Política Internacional e Latino Americana, feita pela socióloga e integrante da Assembleia Internacional dos Povos (AIP), Stephani Weatherbee. Ela compartilhou análises sobre o posicionamento da esquerda em diversos países do mundo em paralelo à expansão da extrema-direita nos últimos anos.
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A militante destacou a urgência da esquerda se organizar e pensar um projeto político que possa resistir às violências do sistema capitalista e também avançar na luta de classe de forma unificada e internacionalizada.
“A gente não pode deixar a política externa do Brasil nas mãos do presidente [da república], como se fosse só uma atribuição dele. A política externa do Brasil tem uma política que afeta a classe trabalhadora profundamente e a gente tem que se envolver, tem que lutar pra que esse governo defenda interesses não só da classe trabalhadora no Brasil, mas da classe trabalhadora do continente inteiro.”
Mais tarde, dirigentes de várias regiões do estado se juntaram ao debate, reafirmando a necessidade de politizar as vitórias, comemorar cada conquista dessa luta coletiva e o quanto é fundamental ampliarmos a mobilização e participação do povo na construção do futuro da Reforma Agrária Popular. Atualmente, cerca de 7 mil famílias, em mais de 80 acampamentos, estão em luta para a efetivação da reforma agrária. São comunidades camponesas consolidadas, que estão há até 30 anos produzindo, com espaços coletivos, escolas e vida comunitária.
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Foto: Thiarles França
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União do campo e da cidade
A integrante da coordenação estadual do MST-PR Adriana Oliveira contou sobre a atuação do movimento em comunidades urbanas, especialmente a partir da pandemia da Covid 19. As famílias Sem Terra do Paraná partilharam cerca de 1.500 toneladas de alimentos desde o início da pandemia. As ações fazem parte da campanha nacional do MST em solidariedade a quem enfrentava o desemprego e a fome durante aquele período de crise sanitária e de governo genocida.
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Em Curitiba, a ação Marmitas da Terra teve início por iniciativa do MST, em maio de 2020, e atualmente envolve um coletivo de aproximadamente 230 militantes e voluntários/as. O projeto começou com a produção de 300 refeições por semana, e terminou em dezembro de 2022 com a produção de 1.100 marmitas todas as quartas-feiras. Nestes quase dois anos de atuação, cerca de 180 mil refeições foram produzidas e distribuídas gratuitamente.
O trabalho ganhou continuidade e o coletivo Marmitas da Terra passou a se articular com a ação nacional Mãos Solidárias, ampliando essa relação campo-cidade, resgatando outros aspectos desta união: a solidariedade e o companheirismo. Como destaca Adriana, “passamos de entregar as cestas nos portões das casas, para entrar, tomar café e conhecer um pouco mais sobre a história e lutas dessas famílias”.
Lutas essas que refletem as desigualdades sociais, existentes desde o processo de formação das cidades, e que se acirraram durante a pandemia da COVID-19. O MST reconhece a importância dessa luta ser feita de forma coletiva e manter unida a classe trabalhadora, seja do campo ou da cidade.
Ato político com autoridades
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O Encontro Estadual também recebeu um ato político, no último dia, com representantes da Itaipu Binacional, da Universidade Federal da Integração Latinoamericana (Unila) e da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). O elemento principal da mesa foi a aliança pela educação, ciência e integração para desenvolvimento da Reforma Agrária.
Fernando Martins, Diretor Geral do campus da UNIOESTE de Foz do Iguaçu, ressaltou o desejo de ampliar a aliança entre a instituição e o Movimento. Rodnei Lima, vice-reitor da Unila, também anunciou o curso de Arquitetura e Urbanismo pelo Pronera.
O professor também destacou as iniciativas de pesquisa e extensão nas áreas da Reforma Agrária. “[Extensão] não para ensinar os Sem Terra, mas para aprofundar diálogo com os assentamentos, compreender as demandas e dar respostas efetivas nas dificuldades do dia a dia. Essa é a função da ciência e da educação, que também é espaço de disputa”, explicou.
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Ronaldo Pavlak, gerente da Divisão de Ação Ambiental da Itaipu, falou sobre a dívida histórica que as instituições públicas têm com os trabalhadores. A construção da usina, na década de 1970, foi responsável pela expulsão de milhares de trabalhadores rurais de suas terras no oeste do Paraná, além dos danos permanentes à mata e à fauna nativa. Para ele, há um trabalho a ser feito no sentido de aproximar a Itaipu e o Movimento e de reparar a história.
O momento faz alusão, segundo Roberto Baggio, da Direção Nacional do MST, ao sonho de Che Guevara, Fidel Castro, José Martí e Simón Bolívar — o de construir uma América unida. O MST também sonha com a unidade: representada, nesse ato, pela soma da institucionalidade, da ciência e do campesinato.
Após o ato político, foi realizada a posse da Direção Estadual do Paraná. Na mística, os militantes lembraram o recente atentado contra o assentamento Olga Benário, em Tremembé (SP), que deixou dois mortos – os militantes Valdir Nascimento (52) e Gleison Barbosa (28) – e seis feridos.
Aos membros da direção empossada foram entregues uma rosa e um facão, reafirmando que a luta dos militantes deve continuar em nome dos que se foram, e que nenhuma violência do agronegócio e da especulação poderá atingir as profundas raízes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
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Os dias de estudos e reflexões, foram garantidos pelo trabalho coletivo. As cozinhas, organizadas por região, ofereceram alimentação farta e diversa para todos os participantes. A comida saudável, colorida e partilhada é a expressão direta dos frutos do trabalho e das lutas do povo Sem Terra. A Ciranda também assegurou as atividades pedagógicas e o cuidado para as crianças Sem Terrinha, sujeitos ativos e participantes da nossa organização.
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O encontro terminou com uma noite cultural e expectativas para a festança do dia seguinte, a festa da vitória da conquista do assentamento Resistência Camponesa, que após 26 anos de luta, mais de 70 famílias conquistaram a terra e o direito de ter um lugar para plantar o alimento, cultivar a vida e viver com dignidade.