Internacionalismo em prática: juventude Sem Terra fortalece intercâmbio agroecológico

Em entrevista, Amanda Samarco compartilha experiências sobre o projeto que conecta Brasil, França e Burkina Faso
Foto: MST em Pernambuco

Por Ana Sales
Da Página do MST

O internacionalismo é um princípio fundamental do MST, sustentado pela solidariedade de classe como um valor universal. Por isso, o Movimento organiza brigadas internacionalistas e promove intercâmbios dentro e fora do país. Em Pernambuco, essa articulação segue se fortalecendo, e, recentemente, militantes foram enviados para atuar na Argentina, Venezuela e França.

Nesta entrevista, conversamos com Amanda Samarco, jovem pernambucana e militante do MST na regional São Francisco, onde coordena a Juventude. Atualmente, ela está em intercâmbio na França

Você pode se apresentar e compartilhar um pouco sobre sua participação nesse intercâmbio?

Amanda – “Tenho 19 anos, sou da regional do Sertão do São Francisco, do Assentamento Boqueirão, em Santa Maria da Boa Vista, Pernambuco. Coordeno a Juventude e fui indicada pela minha regional para participar de um projeto de Serviço Cívico (estágio) na França, com duração de seis meses e meio.

O projeto tem como tema central ‘Mulheres e Agroecologia’ e é organizado pela Rede Internacional de Agroecologia e Alimentação (RIAA), que reúne o MST, a associação AMAR (Atores do Mundo Agrícola e Rural) e a associação RBS (Rede Bretanha Solidária). Essas organizações conectam iniciativas do Brasil, França e Burkina Faso, fortalecendo o diálogo e a cooperação internacional no campo da agroecologia.”

Como surgiu o convite para o intercâmbio?

Amanda – “Para responder a essa pergunta, é importante destacar que a associação AMAR já mantinha uma relação próxima com a militância do MST no estado do Rio de Janeiro. Foi nesse contexto que conheceram o companheiro Silvano Leite, natural de Ouricuri (PE), mas que, na época, contribuía com o MST no Rio. A partir dessas trocas produtivas, construiu-se uma relação forte de confiança. Mais tarde, Silvano foi designado para atuar no setor de produção da região Nordeste e passou a ser dirigente da minha regional.

Dessa forma, a associação AMAR entrou em contato diretamente com Silvano, solicitando a indicação de uma mulher jovem, militante do MST, que morasse em um assentamento da Reforma Agrária e tivesse relação com o instituto federal, ou seja, que fosse técnica agrícola.

Dito isso, Silvano e toda a coordenação regional do São Francisco fizeram uma avaliação e concluíram que eu seria uma boa indicação para essa tarefa, pois sou filha de assentada, coordenadora da Juventude da regional São Francisco, recém-formada como técnica em agropecuária com estágio na área de Agroecologia, e tive uma contribuição significativa nas atividades da coordenação regional, como na organização do acampamento Nova Boa Vista. Além disso, sempre demonstrei interesse e dedicação nas atividades de militância do MST.

Dessa forma, meu perfil atendia aos requisitos solicitados pelos companheiros franceses. Com base nas avaliações feitas pela militância da minha regional, tive a grande oportunidade de vir para França e representar o MST.

Quais são os principais objetivos do intercâmbio?

Amanda – “Os principais objetivos eram promover a agroecologia e fortalecer ainda mais a Rede Internacional de Agroecologia e Alimentação entre o Brasil, a França e Burkina Faso; conhecer o meio rural da França, principalmente a região da Bretanha, com foco nas produções agroecológicas; apresentar o MST e destacar sua importância para a agroecologia no Brasil; e contribuir na organização do intercâmbio de 15 francesas produtoras agroecológicas, que aconteceu em janeiro, em Pernambuco.

Quais ações você tem desenvolvido enquanto jovem mulher do MST em parceria com entidades sociais da França?

As missões que me foram confiadas consistiam em conhecer associações, organizações e movimentos sociais que apoiam a agroecologia e os princípios do MST, além de participar de eventos, exposições fotográficas, mesas-redondas, debates e festivais, como o Festival de Cinema de Douarnenez, o Festival Alimenterre e o Festival de Cinema Brasil em Movimento.

Além disso, tive a oportunidade de visitar escolas e me encontrar com jovens que estão em formação agrícola, fazendo, de fato, um ‘trabalho de base’, apresentando o MST em todos os locais possíveis.

Conhecer as mulheres francesas que iriam participar do intercâmbio no Brasil, entender suas realidades, as formas de produção agroecológica e iniciar as trocas de saberes com elas. Essas mulheres, posteriormente, viriam para o Brasil, para a minha região, e teriam a oportunidade de conhecer a realidade das trabalhadoras rurais e ver na prática como a reforma agrária funciona.

As entidades francesas estão se comprometendo a incentivar mais militantes a conhecerem as experiências na França. Da mesma forma, o MST em Pernambuco se prepara para receber militantes franceses, fortalecendo ainda mais o intercâmbio e a troca de aprendizados.”

INTERNACIONALIZESMO A LUTA, INTERNACIONALIZEMOS A ESPERANÇA!