Conquista

Em ato histórico Lula reconhece como assentamento Quilombo Campo Grande, no sul de Minas

Ao todo foram assentadas 4.883 famílias Sem Terra, criados 60 novos assentamentos de Reforma Agrária do MST e liberadas verbas para o desenvolvimento rural

Lula assinou a criação do assentamento Quilombo Campo Grande em MG e mais 3 assentamentos em áreas ocupadas pelo MST, além de outras medidas. Foto: Ricardo Stuckert

Por Flora Villela
Da Página do MST

Na manhã desta sexta-feira (7), o MST conquistou uma vitória histórica na luta pela terra no país. Durante Ato Público no munícipio de Campo do Meio, sul de Minas Gerais, o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), assinou, dentre outras medidas, o decreto de desapropriação da antiga fazenda-usina Adrianópolis e sua destinação para fins de Reforma Agrária. O território, de mais de 4 mil hectares, foi batizado de Quilombo Campo Grande, em homenagem a resistência histórica da região.

A área, desapropriada em prol de 300 famílias, foi ocupada a 27 anos e resistiu a 11 despejos, sendo o mais duro deles durante o período de pandemia, quando a escola popular Eduardo Galeano foi destruída. Com a desapropriação são reconhecidos os anos de luta e organização do povo Sem Terra na região e a sua produção farta e sustentável de alimentos saudáveis, como destacou o dirigente estadual do MST em Minas Gerais, Silvio Netto.

“O grande homenageado de hoje é esse povo que resistiu, e que essa resistência possa inspirar o governo e todos os lutadores do povo. Reafirmamos que não é o latifúndio que carrega o Brasil nas costas, e sim a agricultura familiar e camponesa”, afirmou ele.

Foto: Ricardo Stuckert

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O governo Lula anunciou a criação de assentamentos de Reforma Agrária, que ao todo somam 138 novos assentamentos, localizados em 24 estados do país. Já em territórios do MST no total foram criados 60 novos assentamentos, totalizando 4.883 novas famílias assentadas, em 16 estados e no Distrito Federal. Quanto ao total do território democratizado, o governo federal anunciou a destinação de 75.573 hectares de terra para fins de Reforma Agrária, possibilitando assim a criação de 12.297 novos lotes familiares de trabalhadores rurais.

Dentre esses assentamentos, quatro foram criados a partir de desapropriação como o Quilombo Campo Grande em MG, as fazendas São Paulo no Paraná e Horto Florestal no Rio Grande do Sul e o acampamento Dom Tomás em Goiás, totalizando mais de 13 mil hectares, com a possibilidade de atender 800 famílias Sem Terra. Os demais assentamentos foram criados a partir de aquisições e compras por parte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Para Josana Lima, da coordenação nacional da Contraf, hoje foi um dia de reafirmação do compromisso histórico com a Reforma Agrária, “pela produção de alimentos saudáveis e o fortalecimento da agricultura familiar e camponesa”, ressaltou em fala durante o ato.

Ato de conquista da terra contou com a participação massiva de trabalhadores do MST, autoridades e apoiadores da Reforma Agrária. Foto: Lucas Bois e Sara Gehren

Visando o desenvolvimento dos assentamentos, foram anunciados ainda 1,6 bilhões em crédito para a instalação em assentamentos, que irão atender 18 mil famílias e a liberação de até R$ 50 mil do Pronaf A, com 25% de rebate. Na área de produção de alimentos são 900 milhões em verba para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), sendo 100 milhões direcionados as cozinhas solidárias. E um orçamento de 48 milhões destinados ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) neste ano.

O ato

Durante a manhã o Presidente Lula e alguns ministros visitaram lotes produtivos de famílias Sem Terra, no Quilombo e realizaram o sobrevoo da área. O ato político contou com a participação de mais de 5 mil pessoas, entre parlamentares, ministros, representantes de movimentos sociais e trabalhadores Sem Terra do MST.

Segundo o Presidente Lula, o ano de 2025 será o ano de colher tudo o que o governo vem preparando nos anos anteriores.

E vamos entregar tudo o que prometemos durante a campanha, tudo aquilo que vocês acreditaram e ajudaram a construir na campanha”, enfatizou Lula.

Durante sua fala o Presidente destacou também a importância da Reforma Agrária como pagamento de uma dívida histórica no Brasil, além de sua importância como ferramenta de soberania alimentar.

“A luta pela Reforma Agrária ganha importância porque é preciso que se faça justiça neste país. Hoje o MST está colhendo tudo aquilo que tanto lutaram, e agora vocês estão orgulhosamente com todos esses direitos garantidos”.

Frente a alta no preço dos alimentos, que desafia o dia a dia do povo brasileiro, a produção de alimentos pela agricultura familiar foi destaque em diversas falas. A dirigente nacional do MST, Ceres Hadich reforçou que a fome se enfrenta com Reforma Agrária e produção de comida de verdade. “Crise ambiental se enfrenta com Reforma Agrária e plantio de árvores. A paz no campo se conquista com Reforma Agrária e políticas públicas. Por isso, reafirmamos que o MST nunca faltou e nunca faltará ao povo brasileiro!”.

Contrapondo ainda boatos de conflito entre o governo e o MST, Lula reforçou a relevância do Movimento enquanto parceiro de seu governo e pessoal, relembrando a vigília durante sua prisão.

“Todo mundo sabe que eu tenho um lado! Meus amigos são vocês, que me acompanharam durante as vigílias. Trato todo mundo com respeito, mas sei quem são meus amigos de verdade”, conclui.

*Edição: Solange Engelmann