8M SP

Organizações populares assinam manifesto pelo Dia Internacional das Mulheres, em Campinas/SP

A atividade aconteceu no último sábado, dia 8 de março, e contou com participação de assentadas e acampadas do MST da região de Campinas

Foto: Cintia Zaparoli

Por MST São Paulo
Da Página do MST

Com o lema “Mulheres em defesa da democracia, por trabalho digno, legalização do aborto, reparação e Bem Viver! Contra o fascismo e o racismo #SoniaLivre”, mais de 150 mulheres organizadas em movimentos sociais e organizações populares do campo e da cidade, de Campinas (SP) e região, participaram de ato pelo Dia Internacional das Mulheres, no último sábado, dia 8 de março.

Vinculado às ações da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, a partir da participação de mulheres assentadas e acampadas do MST na região, a ação resultou em um manifesto que aborda a pauta de luta das mulheres do campo e da cidade.

Confira abaixo o manifesto na íntegra:

MANIFESTO FEMINISTA | 8 DE MARÇO DE 2025

Mulheres em defesa da democracia, por trabalho digno, legalização do aborto, reparação e Bem Viver! Contra o fascismo e o racismo #SoniaLivre

Somos feministas! Estamos despertas! Neste 8 de março de 2025, estamos com a força coletiva e organização para mudar o mundo. Queremos romper com as engrenagens da opressão capitalista, machista, patriarcal, racista e fascista que nos ameaça e nos quer cada vez mais exploradas.
Denunciamos o contexto político mundial, marcado pelo avanço do fascismo que gera e amplia o ódio, o racismo, a misoginia, a intolerância e a discriminação. Isso se reforçou com a posse de Trump e seu alinhamento às big techs que agem promovendo fake news e incitando o ódio; devemos denunciar e combater essas ações, defendendo a luta pela soberania e autodeterminação dos povos. Também enfrentamos a radicalização e o aprofundamento da violência militarizada, usada para controlar nossos territórios, corpos, mentes, terras, águas, florestas, conhecimentos e, inclusive, nossa ancestralidade, nosso presente e nosso futuro.

Somos solidárias à luta das mulheres e dos povos que enfrentam ataques em seus territórios, como na Palestina e no Líbano. Queremos o fim das guerras e a devolução imediata das terra usurpadas do povo palestino; assim como a reconstrução de suas cidades. Exigimos uma Palestina Livre do rio ao mar! e punição para o Estado de Israel e o mandante dos seus crimes, Benjamin Netanyahu.

No Brasil, lutamos por um país democrático que respeite a vida e garanta os direitos de todas as mulheres: do campo e da cidade; negras e indígenas; lésbicas, bissexuais e transexuais; imigrantes; mulheres com deficiência e mães de crianças atípicas; trabalhadoras e mulheres em situação de rua. A democracia não é possível sem a plena participação das mulheres e a garantia de direitos e dignidade para todas! Queremos a ampliação da participação popular nas decisões centrais dos rumos do país; seja nas políticas de proteção social ou no planejamento público sobre os avanços da exploração dos recursos naturais da nossa terra.

Exigimos a punição de todos os envolvidos nas tentativas do golpe de 8 de janeiro de 2023! Sem anistia e prisão para Bolsonaro! Quando o fascismo avança, os direitos das mulheres retrocedem!
Vemos a misoginia, o racismo, o conservadorismo e a LGBTQIA+fobia escancarados e incentivados pelas grandes empresas que lucram com o ódio e monopolizam o mercado das redes sociais. Sem regulamentação ou punição contra seus crimes, defendem a violência contra nossas vidas como sinônimo de liberdade de expressão. Queremos um Brasil com soberania tecnológica e comunicacional! Denunciamos o poder das grandes empresas de tecnologia da comunicação e informação que avançam sobre nossas vidas para aumentar seus privilégios econômicos e políticos. Transformam em lucro nossas informações e dados; nossos sentimentos; nossos corpos e territórios; destruindo a biodiversidade do planeta e ampliando a exploração material e informacional sobre a classe trabalhadora.

Direito ao nosso corpo: garantia ao direito ao aborto legal e pela legalização do aborto
Lutamos para que todas as mulheres e pessoas que gestam tenham autonomia sobre seus corpos. O direito de decidir sobre a capacidade de gestar é parte essencial das decisões sobre os rumos de nossas vidas. Em nossa sociedade patriarcal, a maternidade é vista como um destino compulsório para as mulheres.

Somos todas clandestinas, mas as que têm dinheiro e informação, interrompem a gestações indesejadas em condições seguras. São as mulheres negras que são as mais prejudicadas quando recorrem à abortos inseguros e as que mais morrem.

Denunciamos a ação da extrema direita no Brasil e sua guerra fundamentalista contra nossos direitos reprodutivos. Os pró-morte não se importam com a vida das mulheres, menos ainda com crianças, as maiores vítimas das violência patriarcal e abuso sexual em nosso país e que estão sendo forçadas à parir outras crianças!

Por isso gritamos: criança não é mãe! Estuprador não é pai! Lutaremos contra todo retrocesso sobre o serviço de aborto legal. É pela vida das mulheres! Legalizar o aborto, direito ao nosso corpo! Para isso, é inseparável a defesa radical pelo fortalecimento do SUS e a implementação de protocolos de orientação sobre o direito ao aborto previsto em lei nas unidades de saúde!

Repensar o trabalho, distribuir a riqueza e os Cuidados

Reconhecemos como um avanço importante o aumento de pessoas empregadas com carteira assinada nos últimos meses, porém, a realidade do trabalho para as mulheres segue sendo de sobrecarga, precarização e insegurança.

A maior parte das atividades realizadas por nós mulheres é trabalho doméstico e de cuidados não pagos. As mulheres, sobretudo as mães, devem ter direito de acesso a trabalho remunerado com dignidade e direitos; acesso ao sistema de ensino público; como também nossas crianças devem ter direito ao desenvolvimento integral. Tentam nos convencer de que o empreendedorismo é a saída para conciliar toda a sobrecarga e arcar com as incertezas da economia, mas isso é uma máscara para nos subjugar diante de condições tão precárias de trabalho e que ficam ainda mais agravadas no caso de mães atípicas e mães de crianças atípicas.

As manifestações pelo fim da escala 6×1 denunciaram os abusos de longas jornadas de trabalho, sem direito a descanso e que tem afetado toda a classe trabalhadora. Queremos a revogação da reforma trabalhista e da previdência, a diminuição da jornada de trabalho com a manutenção do salário integral e a retomada da política de valorização do salário mínimo. Assim, criaremos mais postos de trabalho digno que permitam que as trabalhadoras tenham tempo para uma vida vivida além do trabalho.

A pressão do mercado financeiro, operada pelo Centrão no Congresso Nacional, para a redução dos gastos públicos, é uma estratégia contra a soberania do Estado e os direitos sociais, e é amplamente propagandeada pela mídia hegemônica. Isso reduz a oferta e a qualidade dos serviços públicos oferecidos em nosso país. As mulheres acabam por ser silenciosamente responsabilizadas com as atividades necessárias para a sustentação da vida. A ausência de saúde; cuidado com os idosos; creches; escolas em tempo integral; políticas de alimentação saudável e combate à fome; dentre outras, se convertem em aumento drástico do trabalho doméstico e, consequentemente sobrecarga.

O desmonte das condições formais de trabalho e dos serviços públicos, acaba por depositar um excesso de gestão de cuidados sobre as mulheres. Isso se materializa de forma contundente na vida das trabalhadoras domésticas: 92% da categoria é de mulheres, sendo 66% delas, mulheres negras. Os direitos trabalhistas adquiridos com a Lei das Domésticas foram desmontados após a Reforma Trabalhista e a PEC da Terceirização, diminuindo a remuneração da maioria dessas mulheres a uma renda inferior a um salário mínimo mensal; ainda que o trabalho de cuidado seja cada vez mais necessário num momento de crise e recessão econômica. Por isso, a Política Nacional de Cuidados deve ser um direito de todas as mulheres brasileiras e com orçamento público que garanta sua implementação e alcance universal.

Mulheres em luta por uma vida sem violências

Denunciamos a violência machista e racista como instrumento de dominação dos corpos, da vida e do trabalho das mulheres. Essas múltiplas violências têm se intensificado com os discursos de ódio e a naturalização do feminicídio, propagandeados pela extrema direita no Brasil.
Queremos que todas as violências sejam combatidas e que todas as mulheres tenham liberdade para exercer sua identidade e sexualidade!

Para combater as violências e mirar em sua superação, sabemos que é fundamental o compromisso do governo, a partir de uma atuação conjunta dos Ministérios, com garantias da valorização real das mulheres no mundo do trabalho; nas políticas públicas de cuidados; na política de acesso à moradia; na educação e nas políticas de assistência e garantia de direitos sociais. Priorizar o atendimento às mulheres em situação de violência doméstica no acesso aos programas de moradia, é uma ação urgente para que elas e suas crianças fiquem protegidas.

Igualmente fundamental, é a formulação de uma política de segurança pública que combata a violência policial e de Estado e que assegure a integridade das crianças e da juventude negra – o povo negro quer viver!

Denunciamos a violência e precarização das condições de vida material e simbólica das mulheres trans e travestis; transmuculinos e pessoas trans. O Brasil segue sendo o país que mais mata pessoas trans no mundo, sendo a maioria de pessoas negras. Exigimos políticas públicas de enfrentamento e proteção às pessoas-gênero dissidentes em nosso país!

A crise não se resolve com ajuste fiscal: queremos comida no prato e Reforma Agrária já!

Se falta orçamento para a efetivação de políticas públicas, devemos repartir as riquezas! Estamos mobilizadas pela taxação das grandes fortunas e por uma reforma tributária progressiva onde quem ganha mais pague mais. Não vamos pagar a conta da crise!

A política de ajuste aplicada pelo governo Lula/Alckmin como corte no BPC vão na contramão principalmente da necessidade das mulheres realizando corte em setores como saúde e educação. Por outro lado, garantindo o pagamento da dívida para banqueiros. Além do aumento do salário-mínimo ter um teto de 2,5% de crescimento agora, o Bolsa Família não terá reposição da inflação esse ano e também será reajustado apenas bianualmente segundo o relatório do Tesouro, em outras palavras, será gradualmente diminuído. Por isto lutamos para pôr abaixo o arcabouço e toda política de ajuste fiscal.

Saímos do mapa da fome da ONU, mas o preço dos alimentos ainda empurra o povo para a insegurança alimentar, onde boa parte dos já baixos salários das mulheres é destinada à compra de alimentos. Responsabilizamos o agronegócio pela concentração de terras, pelo desmatamento e pelas mudanças climáticas.

A superação da fome está diretamente ligada ao trabalho das mulheres rurais: se o campo não planta, a cidade não janta!

Queremos soberania alimentar e autonomia de cultivo. Defendemos o direito de produzir e comer comida sem veneno! Para isso, é urgente uma reforma agrária popular e condições de vida digna e livre de violência para as mulheres no campo.

Os ataques contra assentamentos e territórios indígenas dispararam no Brasil. Não aceitaremos! Queremos a demarcação das terras indígenas e quilombolas, o fim da autorização do uso dos agrotóxicos e a revogação dos já autorizados e a ampliação dos espaços urbanos para produção de alimento saudável!

De Março à Novembro, Antirracismo em Marcha por Reparação e Bem Viver

Neste ano completam 10 anos da realização da 1ª Marcha das Mulheres Negras. Inspiradas nesta luta, as organizações feministas se articulam contra o racismo e a violência, defendendo o Bem Viver como nossa utopia antirracista e feminista. A construção coletiva é a nossa base ancestral por equidade, solidariedade e bem-estar; guiando nossa luta anticolonial de enfrentamento às injustiças, desumanização e explorações.

Defendemos o paradigma do autocuidado, priorizando a saúde mental de todas as pessoas; o acesso à alimentação saudável; desenvolvimento intelecto pleno; e a celebração de nossa espiritualidade. Por isso, o fortalecimento de políticas públicas de saúde, educação, segurança pública e meio ambiente é a chave para que o autocuidado seja possível para todas, e não um privilégio de quem pode pagar por serviços de cuidado.

Estamos em luta por mais direitos trabalhistas e políticas sociais justas e equânimes! Pelo direito à diversão; à sociabilidade; de exercitar prazerosamente o próprio corpo; de comer e dormir bem; de desfrutar da companhia de quem se ama em comunidade. Para que a população negra não seja mais vítima de nenhum tipo de violência ou negligência de Estado.

Em Campinas estamos em luta permanente e nas ruas!

Campinas, uma das maiores cidades do país e do estado, que infelizmente é uma das piores para quem mais precisa! É revoltante o descaso com as políticas públicas essenciais, enquanto não se medem esforços para beneficiar a especulação imobiliária e o cartel do transporte. Enquanto mulheres sofrem com a falta de moradia, saúde, educação e segurança, o poder público prioriza os interesses de poucos em detrimento da vida de muitas.

O governo municipal de Dário Saadi compactua com as mazelas impostas pelo governador Tarcísio, que ataca diretamente a classe trabalhadora. Sucateiam a saúde e a educação, promovem a privatização dos serviços públicos e vendem o patrimônio que é de todos nós. É um projeto que precariza a vida e amplia as desigualdades, atingindo principalmente as mulheres, que são as mais impactadas pelo desmonte das políticas sociais, cujo desmonte concretizou no último período o aumento de suicídios, entre nós mulheres na cidade.

O Boletim do Sistema de Notificação de Violências revelou que no período entre 201 e 2023 foram 2670 suicídios, sendo 78 casos envolvendo homens e 1886 casos envolvendo mulheres.
Por isso, neste 8 de Março, nós, mulheres em luta, defendemos:

1. POLÍTICAS PÚBLICAS QUE TRANSFORMEM A VIDA DAS MULHERES!

  • Exigimos saúde, educação, moradia, segurança, trabalho e renda dignos!
    Chega de violência! Basta de feminicídios: 21 em 2024 e 6 em 2025 na região!
  • Políticas de cuidados para enfrentar a dupla e tripla jornada das mulheres!
  • Valorizar as experiências de resistência das mulheres na cidade, como as ocupações Maria Lúcia Petit Vive! e a Casa Laudelina. É urgente a cessão de novos imóveis para que continuem seus trabalhos!

2. CONTRA A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E O DESMONTE DAS POLÍTICAS SOCIAIS!

  • Campinas é a cidade com o maior aumento de aluguel! Chega de especulação!
  • Denunciamos o massacre na educação e as políticas anti-trabalhadoras do governo Tarcísio!
  • Apoiamos o Movimento de Moradia contra a pressão da especulação!
  • ⁠Contra o desmonte dos direitos trabalhistas das mulheres!
  1. MOBILIZAÇÃO E DIÁLOGO COM AS MULHERES DAS PERIFERIAS!
  • Vamos alcançar as mulheres onde elas estão: nas comunidades, nos territórios!
  • A comunicação é ferramenta essencial para ampliar nossa luta!
  • Enfrentar as mudanças climáticas, que impactam diretamente a vida das mulheres!
  • Pelo fim do trabalho escravo que submete tantas mulheres trabalhadoras domésticas a situações indignas de exploração e opressão. Por liberdade imediata para Sônia Maria de Jesus!

Vamos às ruas por direitos, justiça e democracia!

#MulherespelaDemocracia #8M #MulheresEmLuta