Reforma Agrária Popular
Conheça o assentamento Irmã Dorothy, no Paraná
A comunidade celebra 20 anos de existência e faz parte das terras entregues pelo presidente Lula nos decretos desta sexta-feira (7)

Por Isabela Cunha, do Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST
Há 20 anos, no dia 21 de novembro de 2005, munidas de coragem e desejo de justiça, aproximadamente 50 famílias camponesas ocuparam as terras da então Fazenda São Paulo, no município de Barbosa Ferraz, no interior do Paraná.
Propriedade conhecida na região, a fazenda registrava, segundo pesquisadores, baixa produtividade, crimes ambientais e maus-tratos aos animais, que tornavam o latifúndio um perigoso foco de febre aftosa para a região. À época, profissionais veterinários também relataram o abandono da fazenda e dos rebanhos.
Assim, em denúncia ao descumprimento da lei e em busca do direito à terra para morar e produzir, as famílias camponesas fundaram o então acampamento Irmã Dorothy, em homenagem à religiosa Dorothy Stang, defensora dos pobres e da natureza, que havia sido assassinada naquele ano. A fazenda faz parte do pacote de 12 mil hectares destinados pelo presidente Lula para a Reforma Agrária, na tarde desta sexta-feira (7).
Michele Pereira, moradora do Irmã Dorothy, comemora a conquista: “Antes, quando as famílias chegaram, era tudo abandonado: mato alto, casas desabando. Agora está tudo cheio de plantação, e cada um já mora no seu lote. Temos água, e há dois meses chegou nossa energia”, relata.
Para o futuro, o que não faltam são planos. “Agora que estamos oficialmente assentados, temos projetos para colocar em prática. Queremos fazer uma cozinha coletiva para que nossas companheiras possam produzir e tirar o sustento, acessar crédito para fomentar nossa agricultura familiar, ter casas melhores, melhorar as estradas e tudo o que nos dê condições de garantir o futuro e criar nossos filhos”, concluiu.
História de organização e resistência
A partir da ocupação, as famílias passaram a enfrentar coletivamente os desafios da luta pela terra. Além de transformar o antigo latifúndio improdutivo em terra cultivável, ao longo dos 20 anos que se seguiram, a comunidade organizou, com seus próprios esforços, as moradias, a produção de alimentos e a vivência comunitária no território. Tudo isso enfrentando também a repressão policial.
“Em 2008, no dia 10 de junho, a comunidade enfrentou uma primeira tentativa de despejo, mas conseguiu permanecer na área após uma negociação. Porém, depois de 15 dias de tensão, no dia 25 de junho daquele ano, a polícia militar veio e despejou as famílias, que ficaram acampadas em uma propriedade próxima, cedida provisoriamente pelo município”, relembra João Flávio, uma das lideranças do MST na região. “No dia 10 de julho daquele ano, demonstrando sua coragem, as famílias fizeram a reocupação da fazenda, e desde então permanecem na área que finalmente conquistaram nesta sexta”, conclui.
Pré-assentamento e assentamento
A resistência das famílias do acampamento Irmã Dorothy garantiu a construção de uma bela comunidade, ativa e produtiva. Recentemente, as famílias se reorganizaram, a fim de otimizar o uso da terra e a relação com a produção, e repartiram o território no que seriam os 33 lotes do assentamento. Rebatizando a área como “pré-assentamento”, a comunidade deu saltos na produção de grãos, tubérculos, hortaliças, frutas e na criação de animais. A produção hoje é comercializada na feira do produtor na cidade de Barbosa Ferraz e garante às famílias o sustento e o prestígio da sociedade do entorno.
Em um ato histórico que reuniu mais de 5 mil pessoas, o presidente Lula anunciou nesta sexta-feira, 7, novos decretos de desapropriação de terras para a reforma agrária em todo o Brasil. As áreas contempladas são simbólicas para a luta do MST, representando conquistas fundamentais na garantia do direito à terra e na produção de alimentos saudáveis para o povo brasileiro. O assentamento Irmã Dorothy é uma das áreas conquistadas pelo Movimento.
Cerca de 7 mil famílias ainda lutam pela regularização de suas comunidades no Paraná, e mais de 60 mil em todo o Brasil. Ao todo, são 80 acampamentos, alguns com mais de 30 anos de espera do assentamento definitivo. O MST segue cobrando o avanço urgente da Reforma Agrária, como caminho para o aumento da produção de alimentos saudáveis para toda a sociedade e por uma vida digna ao povo camponês Sem Terra.


*Editado por Fernanda Alcântara