Luiza Ferreira Presente!

15 anos do martírio da Sem Terra que enfrentou o latifúndio e o machismo em PE

A camponesa foi brutalmente assassinada pelo marido enquanto participava de uma assembleia no assentamento Margarida Alves, em Aliança, Pernambuco

Luiza Ferreira. Foto: Comunicação MST Pernambuco 

Por Hanyelle Ohane 
Da Página do MST

No dia 11 de março de 2010, a luta pela terra e pela emancipação das mulheres no Brasil perdeu uma de suas mais corajosas militantes. Francisca Luiza Ferreira de Souza, conhecida como Luiza Ferreira, foi brutalmente assassinada pelo próprio marido enquanto participava de uma assembleia no assentamento Margarida Alves, em Aliança, Pernambuco. Seu assassinato, motivado pelo machismo e pela intolerância à sua liderança, transformou Luiza em um símbolo da resistência contra a violência de gênero e da luta pela Reforma Agrária Popular.

Nascida e criada na Zona da Mata pernambucana, Luiza Ferreira dedicou sua vida à luta pela terra e pelos direitos das mulheres. Desde cedo esteve envolvida nas lutas camponesas. Como militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dedicou sua vida à organização dos trabalhadores e à resistência contra o poder das usinas de cana-de-açúcar, que historicamente exploraram a classe trabalhadora na região.

Coordenadora de um assentamento e integrante da direção estadual do MST em Pernambuco, Luiza se tornou uma referência na luta pela democratização da terra e pelos direitos das mulheres camponesas. Enfrentou com bravura as forças do latifúndio e os desafios impostos pelo patriarcado, que tentavam silenciar sua voz e impedir sua trajetória de liderança.

O machismo e a violência que tentaram calar Luiza

A força e a convicção de Luiza despertaram admiração em muitos, mas também a intolerância de quem não aceitava sua ascensão como liderança política. Ao ser convocada pelo MST para assumir um papel de maior destaque na coordenação regional, Luiza passou a enfrentar a resistência do próprio marido, que não aceitava sua autonomia e protagonismo dentro do movimento.

Em 11 de março de 2010, Luiza estava reunida com suas companheiras e companheiros de luta quando foi surpreendida pelo seu marido, feminicida. Seu assassinato, cometido diante da comunidade que ajudou a construir, escancarou a brutalidade do machismo e da violência contra as mulheres, que segue sendo uma realidade no campo e na cidade.

Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra

A memória de Luiza Ferreira é especialmente lembrada durante a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra em Pernambuco, quando milhares de camponesas se levantam em todo o Brasil para denunciar as violências do agronegócio e reivindicar uma sociedade livre da opressão e da exploração. No mês de março, dentro das atividades dos Aromas de Março, as mulheres Sem Terra ocupam espaços e constroem ações de resistência em defesa da vida, da soberania alimentar e da justiça social.

O dia 11 de março, data do falecimento de Luiza Ferreira, é um marco na jornada, relembrando que a luta das mulheres não pode ser dissociada da luta pela terra e pela Reforma Agrária Popular e contra as violências de gênero. Assim como Luiza, tantas outras mulheres seguem enfrentando o machismo, patriarcado e o latifúndio, reafirmando que a luta das mulheres Sem Terra é pela vida, pela terra e por um futuro sem violência!

O legado que inspira novas gerações

Mesmo diante da tragédia, a memória de Luiza Ferreira segue viva e sua história continua a inspirar milhares de mulheres Sem Terra em todo o Brasil. Em sua homenagem, dois assentamentos carregam seu nome: o Assentamento Luiza Ferreira, localizado em São Lourenço da Mata, e outro assentamento em Condado-PE. Ambos simbolizam a resistência e a construção de um novo modelo de sociedade mais justo e igualitário.

A luta de Luiza também segue presente nas vozes das mulheres Sem Terra, que continuam a se organizar contra a violência de gênero e a opressão do latifúndio. O MST reforça, todos os dias, que a Reforma Agrária Popular deve caminhar lado a lado com a emancipação das mulheres, pois não há justiça social sem a superação do machismo e da violência patriarcal.

15 anos depois: Luiza Ferreira, presente!

Após 15 anos do martírio de Luíza Ferreira, seguimos denunciando a violência no campo e reafirmando que a luta dessa lutadora, mulher Sem Terra não foi em vão. Seu nome ecoa em cada acampamento, em cada roçado e em cada mulher que se levanta contra a opressão.

Seguiremos lutando para que as mulheres não tenham sua vida ceifada pelo machismo e pela violência. Seguiremos construindo a Reforma Agrária Popular e um mundo onde todas as mulheres possam viver, sonhar e lutar sem medo.

Luiza Ferreira, presente! Hoje e sempre!

*Edição: Solange Engelmann