Mulheres Contra o Capital!
Mulheres do MST divulgam Carta à sociedade sobre pautas de Jornada Nacional de Lutas
O documento denuncia o poder do capital e do patriarcado sobre as camponesas e defende a necessidade da Reforma Agrária e a emancipação das mulheres

Da Página do MST
Como parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra de 2025, que acontece de 11 a 14 de março, em todas regiões do país, com o lema ”Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital!”, este ano as camponesas divulgam Carta Compromisso para a sociedade explicando o contexto da luta e o conjunto de reivindicações necessárias para combater o avanço do capital no campo, o poder do patriarcado que segue matando e violentando mulheres e meninas no campo e a necessidade de implementar a Reforma Agrária Popular para a produção de alimentos, a recuperação ambiental e a emancipação humana e social das pessoas.
“a Jornada das Mulheres Sem Terra deste ano tem como objetivo denunciar aqueles que historicamente são inimigos dos povos, nossos antagonistas de classe, que atentam contra um projeto de sociedade com soberania popular, verdadeiramente ecológico e socialista. A luta das mulheres é contra o capitalismo, contra o agronegócio e por uma vida justa, digna, com a terra democratizada para socializar os cuidados com os bens comuns da natureza, com a agricultura e a Reforma Agrária Popular”, defende a nota.
As mulheres Sem Terra também lutam por uma sociedade democrática, com soberania alimentar e justiça social, livre de todos os tipos de violências contra as pessoas e por uma “revolução cultural feminista e antirracista”, informa o documento.
Leia na íntegra:
Carta das Mulheres Sem Terra
Vivemos em uma sociedade desigual sob muitos aspectos. A nós mulheres sempre foi relegada a tarefa do cuidado, como parte de uma dominação sexual que surgiu com o patriarcado. Não importa o quanto trabalhamos em casa ou no lote, o quanto vendemos nossa força de trabalho para garantir sustento, quase sempre somos nós que, ao final do dia, somos obrigadas a fazer a organização do trabalho doméstico, garantir os cuidados com os filhos, com os idosos e com os enfermos. Quantas meninas e mulheres adultas abrem mão de seus sonhos e cedem suas vidas para seguir cuidando de todos? Queremos construir relações onde o cuidado seja uma tarefa partilhada!
Por outro lado, nossos corpos e nossas vidas seguem vulneráveis ao risco da violência sexual, física, psicológica, política, pela reprodução de uma cultura que nos considera como propriedade dos homens, sejam pais, companheiros, irmãos ou patrões.
Para superar essa condição histórica, de sempre cuidar e de conviver com ameaças constantes, é que nós lutamos: pelo fim da divisão sexual e racial do trabalho, das violências contra as mulheres, mas também para alertar que “quem hoje é vivo, corre perigo!”, como diz a música.
Nós, mulheres Sem Terra, junto às demais camponesas, quilombolas, indígenas, mulheres do campo, das águas e florestas, que cuidam ancestralmente desta terra e de quem nela vive, sabemos que há um inimigo neste planeta que não cessará sua destruição enquanto houver formas de explorar o povo e a natureza.
O capitalismo no campo tem demonstrado sua face perversa para toda a sociedade brasileira, com crimes ambientais devastadores e, ainda assim, eles continuam com seu projeto de lucro e morte. Não podemos esquecer a lama tóxica da Vale, que atravessou Mariana e Brumadinho, do afundamento da Lagoa Mundaú e dos bairros periféricos, causado pela Braskem em Alagoas, o desmatamento por agrotóxicos provocado por fazendeiros no Pantanal matogrossense e as mais de quatro mil denúncias por crimes ambientais registrados a cada mês no Brasil.
Somado a isso, há a violência contra aquelas e aqueles que mais protegem verdadeiramente a vida e a natureza. Nossos jovens e mais velhos são cada vez mais violentados pelo Estado enquanto buscam proteger as florestas, a fauna e a flora diante do avanço do incêndio criminoso da agropecuária predadora. Nossas meninas, irmãs e anciãs sofrem com a violência patriarcal nos territórios onde se instalam os megaprojetos do capital de expansão energética.
Não adianta mudarmos a matriz enérgica se o modelo de desenvolvimento continuar sob a lógica do capital, pois trocam-se os combustíveis fósseis pelo “capitalismo verde” e o impacto na natureza e nos povos continua os mesmos!
Não acreditamos nas falsas soluções de uma sustentabilidade escrita pelo agronegócio, pela especulação imobiliária ou pelos setores mínero-energéticos, pois são estes os agentes da violência e da crise ambiental que assolam a humanidade.
Por isso, a Jornada das Mulheres Sem Terra deste ano tem como objetivo denunciar aqueles que historicamente são inimigos dos povos, nossos antagonistas de classe, que atentam contra um projeto de sociedade com soberania popular, verdadeiramente ecológico e socialista. A luta das mulheres é contra o capitalismo, contra o agronegócio e por uma vida justa, digna, com a terra democratizada para socializar os cuidados com os bens comuns da natureza, com a agricultura e a Reforma Agrária Popular.
A Reforma Agrária Popular que defendemos não é apenas um processo produtivo e ambiental, é uma revolução cultural feminista e antirracista, uma ruptura com todos os elos de dominação e uma práxis permanente rumo à emancipação humana e social.
Abrindo o calendário anual de lutas do MST, a Jornada do 8 de março, colorida pelos lenços de chita, simboliza a ousadia, a rebeldia e a combatividade das mulheres Sem Terra. É a força insurgente, que impulsiona a seguir em luta, de punhos erguidos, na construção de um Brasil socialmente justo, democrático, soberano e popular.
Agronegócio é violência e crime ambiental! A luta das mulheres é contra o Capital!