Reforma Agrária Popular

Luta e Resistência no assentamento Capitão Carlos Lamarca

Após 25 anos, famílias Sem Terra em Muquém do São Francisco, BA, recebem o título da terra.

Foto: Arquivos MST na Bahia

Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

A história do assentamento Capitão Carlos Lamarca é marcada por luta, violência, resistência e conquista. Tudo começou em fevereiro de 2000, quando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST iniciou a organização de famílias camponesas na recém-criada Regional São Francisco, na Bahia. Os militantes Evanildo, Élcio e Paulinho foram os primeiros a atuar nessa construção.

Ao chegarem ao município de Muquém do São Francisco, iniciaram um intenso trabalho de base nas periferias e comunidades, mobilizando famílias para a luta pela terra e pela Reforma Agrária. Foi identificada uma área improdutiva pertencente à União, a Fazenda Sempre Verde, localizada à margem do Rio São Francisco. Esse seria o território que iniciaria a luta pela terra do MST na região.

Foto: Arquivos MST na Bahia

Com a adesão de várias famílias, o acampamento foi formado, chegando a reunir 110 famílias. Entretanto, com apenas 30 dias de ocupação, um despejo violento marcou a primeira grande ofensiva contra os trabalhadores. A ação contou com forte intervenção policial e brutalidade de jagunços de fazendeiros da região, que incendiaram barracos e destruíram pertences das famílias. Expulsos da área, os acampados se refugiaram em uma pequena ilha próxima, onde permaneceram por oito dias. Mesmo diante da repressão, a resistência se manteve. Com apoio do MST e da Pastoral da Terra, os trabalhadores retornaram ao acampamento. Frei Dom Luís Cáppio, com seu histórico de defesa das causas populares, obteve junto à Comarca de Barra a comprovação de que a área era de domínio da União. Essa confirmação impediu novas investidas ilegais dos latifundiários contra as famílias.

Ao longo de 25 anos, diversos militantes fortaleceram a luta, oferecendo suporte e formação aos acampados. Entre eles, destacam-se Givaldo, Sorriso, Arlêo, Paulo César (PC), Betão, e, mais recentemente, Antônio Martins e Cintia Sousa. Durante esse período, muitos resistiram, mas também muitos tombaram na batalha, como Milton Oliveira, Maria de Lourdes Teixeira, Antônio de Souza, Anfrísio Pacheco e Maria Lúcia Alves Ribeiro.

Foto: Arquivos MST na Bahia

A esperança finalmente se concretizou. Na última semana, o governo federal assinou portarias para a criação de novos projetos de assentamento em terras adquiridas para solução de conflitos agrários. No total, serão investidos R$ 383 milhões em recursos do orçamento de 2024. Entre as áreas contempladas está o acampamento Capitão Carlos Lamarca, que agora se torna oficialmente um assentamento da Reforma Agrária. Após 25 anos de luta, resistência e enfrentamento às violências do latifúndio, 45 famílias serão finalmente assentadas em uma área de 1.360 hectares. Com essa conquista, os trabalhadores poderão plantar, produzir alimentos saudáveis e criar suas famílias com dignidade. A terra que um dia foi palco de despejos e repressão agora se tornará um espaço de vida, trabalho e soberania alimentar.

Essa vitória é um marco para a Reforma Agrária Popular e reafirma que a terra deve cumprir sua função social: alimentar e garantir condições dignas para quem nela trabalha e dela vive.

Foto: Arquivos MST na Bahia

*Editado por Fernanda Alcântara