Jornada das Mulheres

Um Marco de Resistência e Solidariedade no sudoeste da Bahia

Mulheres Sem Terra de Vitória da Conquista, BA organizam momentos de estudo e solidariedade no município


Foto: Michele Lima e Andrea Almeida, do coletivo de comunicação do MST na Bahia

Por Fernanda Vitória, do coletivo de comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

Nos dias 12 e 13 de março, a cidade de Vitória da Conquista, na regional sudoeste da Bahia, se tornou o cenário de um evento de grande importância para a luta das mulheres, celebrado no mês de março. A Jornada Nacional das Mulheres Sem Terra reuniu cerca de 350 mulheres, tanto do campo quanto da cidade, para fortalecer o movimento e discutir os desafios e avanços na luta pela terra, pelos direitos e pela justiça social. Com o lema “Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital!”, a Jornada destacou a importância de combater o sistema que oprime e explora as mulheres e a terra.

O primeiro dia da jornada foi marcado por uma marcha de resistência pelas ruas da cidade. As participantes, unidas pela causa, caminharam em direção ao local da plenária, onde discutiram temas fundamentais para a luta e organização das mulheres.

A plenária teve início com uma mesa de debate que teve como tema “Participação das Mulheres na Política”, conduzida pela militante do MST, Beth Rocha. Ela trouxe sua experiência de militância e luta no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), abordando a importância da presença feminina nos espaços políticos e a necessidade de ter mais mulheres no protagonismo das decisões que afetam as comunidades tanto da cidade quanto do campo. Beth destacou que “as lutas diárias das mulheres sem terra são fundamentais na construção de uma sociedade mais justa, com uma presença política que seja verdadeiramente transformadora”.

Foto: Michele Lima e Andrea Almeida, do coletivo de comunicação do MST na Bahia

Outra mesa de discussão foi dedicada ao tema “Mulheres, Classe e Raça”, e contou com a participação da advogada e presidente do conselho municipal das mulheres de Vitória da Conquista, Sâmala Santos, que fez uma análise profunda sobre a intersecção entre classe e raça, destacando como as mulheres negras são duplamente oprimidas, tanto pelo sistema patriarcal quanto pelo racismo estrutural. Ela explicou como essas questões se refletem nas realidades das mulheres do campo e como a luta contra o capital precisa ser também uma luta antirracista, que considere as especificidades das mulheres negras, especialmente aquelas em contextos rurais.

O segundo dia da jornada foi marcado por ações concretas de solidariedade e apoio à comunidade. A grande conquista do dia foi a inauguração da Cozinha Solidária Terra Justa no galpão do MST, em Vitória da Conquista, BA, uma parceria com o governo do estado, vinculado ao programa Bahia Sem Fome. A cozinha tem como objetivo fornecer refeições nutritivas e de qualidade para as famílias em situação de vulnerabilidade social, além de promover a solidariedade entre as mulheres de movimentos sociais e as comunidades mais carentes da cidade. A inauguração contou com a presença de diversas lideranças, como Fabya Reis, Secretária da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SEADES-BA), Eliane Oliveira, da direção nacional do MST, Jazian Mota, do Setor de Gênero do MST na Bahia, e Lucinha do MST, deputada estadual, entre outras lideranças políticas da região.

Fotos: Michele Lima e Andrea Almeida, do coletivo de comunicação do MST na Bahia

Logo após a inauguração, as participantes da Jornada realizaram a distribuição de 200 marmitas nas periferias de Vitória da Conquista. O evento contou com a doação de 200 mudas de árvores frutíferas, fruto de uma parceria com a Biofábrica e a Bahiater. A entrega dessas mudas representa o compromisso com a luta pela terra e a valorização da agricultura familiar, pilares essenciais para o fortalecimento das comunidades rurais e para a preservação do meio ambiente.

Jazian Mota, que coordena o setor de Gênero do MST na Bahia, ressaltou a importância da Jornada Nacional das Mulheres Sem Terra para fortalecer a luta das mulheres e a união entre as camponesas e as mulheres urbanas. “A jornada é um espaço de fortalecimento e reflexão, mas também de ação concreta. A luta das mulheres é contra o capital e pelo direito à terra e à dignidade”, afirmou Jazian.

Fotos: Michele Lima e Andrea Almeida, do coletivo de comunicação do MST na Bahia

A Jornada Nacional das Mulheres Sem Terra em Vitória da Conquista foi um momento marcante de resistência e ação. Com debates enriquecedores sobre a luta política das mulheres, a intersecção entre classe e raça, e ações concretas de solidariedade, o evento reafirmou a importância de continuar a luta contra o agronegócio e todas as formas de opressão que atingem as mulheres, especialmente as camponesas.

A jornada foi um marco na construção de um Brasil mais justo e igualitário, onde as mulheres Sem Terra continuam a ser protagonistas na luta pela Reforma Agrária Popular, pelos direitos humanos e pela justiça social. O evento não apenas discutiu os problemas enfrentados pelas mulheres, mas também construiu soluções práticas e solidárias, fortalecendo a rede de apoio e resistência entre as mulheres do campo e da cidade.

*Editado por Fernanda Alcântara