Reforma Agrária
MST Tocantins e CooperAmazônia realizam Feira Estadual da Reforma Agrária
A Feira reúne camponeses de diferentes regiões do Estado, promovendo rodas de conversa, apresentações culturais, lançamentos de materiais e doação de alimentos

Por Elian Matos e Geíne Medrado
Da Página do MST
Nesta sexta-feira (28), iniciou-se a Feira Estadual da Reforma Agrária no Tocantins, no Espaço Cultural José Gomes Sobrinho, em Palmas, no Tocantins. O evento segue até 30 de março e reúne camponeses dos extremos do Estado, e é uma realização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Tocantins e CooperAmazônia, além de coletivos de variados seguimentos das lutas sociais e populares. O evento, que se propõe a apresentar outras alternativas de relações humanas com a natureza, com o cooperativismo, no que diz respeito a alimentação saudável, também demarca a grandiosidade do trabalho de repensar a produção e consumo.
Não apenas um espaço de exposição e comercialização, a feira promove a troca de saberes que vêm de lutas ancestrais e sabores nativos dos territórios do estado, reafirmando o compromisso com a defesa de todo meio ambiente, a nossa casa comum, o camponês, a produção de alimentos saudáveis, denunciando o latifúndio, os agrotóxicos, a monocultura e a alta especulação sobre o preço dos alimentos. Mais de 50 feirantes, de várias regiões do Estado, expõem seus produtos, oferecendo cerca de 180 tipos de produtos frutos de práticas sustentáveis de cultivo e manejo da terra, como alimentos, bebidas e artesanatos, além da oferta de camisetas, livros etc.
A programação segue até o dia 30, com rodas de conversa, apresentações culturais, lançamento de materiais e doação de alimentos.

Mística de abertura
Como no poema “Veneno e contra-veneno”, de Severiano Hermes Telles,
“Mas a pequena propriedade muita coisa nos ensina
Cuida da mata nativa, corre a água cristalina
A alimentação é saudável e cheia de vitamina”,
Assim se deu a mística de início do evento, com diversos militantes do MST, que fizeram uma passarela com cantigas de luta pela terra, trazendo consigo símbolos do campo, como ferramentas manuais, sementes, vegetais e outros, trazendo a força da poesia, das cirandas, da arte militante e da felicidade desse povo que não hesita em estar nas trincheiras da transformação das relações com o campo, com as matas, rios e nascentes e com a fauna. Ao fim da atividade e dos brados de “a terra é de quem trabalha, a história não falha, nós vamos ganhar”, sementes foram distribuídas nas mãos dos visitantes e apoiadores.

Assinatura dos contratos do crédito Fomento Mulher
Em seguida, representantes do Incra, Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Superintendência do Patrimônio da União (SPU), Secretaria Extraordinária de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh), Secretaria de Agricultura, Secretaria de Governo do Município, Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Finapop, CooperAmazônia, Universidade Federal do Tocantins (UFT), Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT), Instituto Federal do Tocantins, Coletivo Somos (PT), prefeitura de Ananás-TO, e o companheiro Paulo Mourão (PT), foram convidados a se juntar à frente do palco, com a dirigente nacional do MST, Joice Souza, para a distribuição e assinatura dos contratos da modalidade de crédito Fomento Mulher, destinada a mulheres assentadas na reforma agrária para implantar projetos produtivos. Esta iniciativa é um importante passo para manter o incentivo das mulheres trabalhadoras do campo, apresentando também, a luta pela igualdade de gênero nos territórios assentados e contemplou camponesas do assentamento Manuel Alves.

Participação dos trabalhadores
Natal Alves Rodrigues, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e diretor-presidente da Cooper Amazônia, destacou a importância da feira como um momento de visibilidade. “Estamos aqui com a perspectiva de mostrar à população palmense, a produção dos nossos assentamentos e acampamentos da reforma agrária em todo o Estado do Tocantins, desde o Bico do Papagaio até a divisa com Goiás. Essa feira traz a produção dos assentados e acampados, uma produção de qualidade, sem agrotóxicos, uma produção sadia”, disse.
Maria José Lopes Oliveira, integrante da Associação de Mulheres Extrativistas da Área de Preservação Ambiental Cantão (APA Cantão), participou da feira juntamente de outras companheiras do coletivo. O grupo trouxe produtos do cerrado, como jatobá, camu-camu, macaúba, baru, gergelim e mangaba. Além da matéria-prima, elas produzem óleos de buriti, jatobá e macaúba, pães e biscoitos. “Nossa luta é pelo cerrado em pé. Estou muito feliz de participar deste momento, emocionada com essa feira. Nós, mulheres da associação, estamos aqui para ensinar e aprender. É uma troca de saberes”, afirmou.
O Secretário de Governo da Prefeitura de Palmas, Sérgio Vieira Marques, conhecido como “Soró”, enfatizou o compromisso da gestão municipal com a agricultura familiar. “Temos que continuar fomentando e fortalecendo a agricultura familiar, que fixa o homem no campo e garante a produção de alimentos de qualidade, sem agrotóxicos, para nossa mesa. A Prefeitura de Palmas, ofereceu todo o apoio necessário para a realização deste evento. Contem conosco e que esta iniciativa seja copiada pelos outros grandes municípios para que a gente possa fomentar o pequeno produtor”, destacou. Um dos desafios agora é tentar fazer com que a Feira Estadual da Reforma Agrária seja permanente e se insira no calendário cultural do município.
A diretora de Desenvolvimento Sustentável do Incra, Rose Rodrigues, destacou a ampliação do crédito Fomento Mulher pelo governo federal. “O presidente Lula ampliou o valor do crédito de R$ 5.000 para R$ 8.000 por beneficiária. Nossa meta é aplicar, até o final do primeiro semestre, 500 créditos Fomento Mulher, garantindo que cada uma dessas mulheres possa investir em atividades que gerem renda e melhorem sua qualidade de vida”, elucidou. Ela ainda ressaltou o papel desse crédito na autonomia das mulheres assentadas. “Esse recurso é um direito das mulheres da reforma agrária. Ele permite que elas invistam em arranjos produtivos que lhes garantam protagonismo econômico e social”, explicou.
Ana Lúcia Rodrigues, representante do MST Tocantins, reforçou a importância da agroecologia e da luta pelo fortalecimento da agricultura familiar. “O MST, os povos, os movimentos e as organizações trouxeram para essa feira produtos agroecológicos, porque somos nós os guardiões da floresta e do Cerrado. Estamos aqui compartilhando saberes e sabores, porque é isso que o MST Tocantins representa. Nossa luta é por terra, arte e pão”, enfatizou.

Show do Dorivã, o “Passarim do Jalapão”
Ao final do primeiro dia, os participantes da feira foram lisonjeados pelo show do cantor natural de Cristalândia, no Tocantins, Dorivã. Conhecido como “Passarim do Jalapão”, nome que também leva seu primeiro álbum e uma de suas canções autorais, o artista é músico profissional desde os 18 anos de idade e já tem mais de 45 anos de carreira. Vencedor de festivais de música popular no Estado do Tocantins, Dorivã presenteou a plateia de luta com canções como “Meu Pé de Pequi”, que exaltam riquezas da flora tocantinense e resgatam o valor das práticas sustentáveis de alimentação, cuidado e amor pela terra, além de conduzir o público em uma grande ciranda.