Mulheres em Luta
14º Acampamento de Mulheres do Campo e da Cidade: a luta das Mulheres é contra o capital
O Acampamento reuniu cerca de 600 mulheres de todas as regionais do MST em Salvador, de 28 a 30 de março de 2025
Por Catarina Silva
Impulsionadas pelo sonho de uma sociedade mais justa, as mulheres deram início ao Acampamento com um gesto poderoso de unidade e resistência. Entre os dias 28 a 30 de março de 2025, cerca de 600 mulheres do campo e da cidade se encontram em Salvador para o 14º Acampamento Estadual das Mulheres do Campo e da Cidade.
Com o tema “Mulheres em luta, em defesa dos nossos corpos e territórios, contra o agronegócio e pelo Bem Viver!”. O primeiro dia foi marcado pela reafirmação de sua força coletiva, traçando novos rumos para a luta.
O amanhecer foi embalado por um grito de guerra que ecoou com vigor: “O agronegócio é violência e crime ambiental: a luta das mulheres é contra o capital.” Trata-se de uma denúncia aos impactos do agronegócio ao meio ambiente e a vida das mulheres.

A mística do encontro trouxe à tona uma crítica contundente à violência doméstica, realidade que ainda marca a vida de tantas mulheres. Em um ato carregado de simbolismo e emoção, elas reafirmaram seu compromisso com a luta pela preservação das vidas femininas e pelo direito de existir sem medo.

O Acampamento reuniu mulheres de todas as regionais do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), vindas do Extremo Sul, Sul, Baixo Sul, Sudeste, Norte, Nordeste, Oeste, São Francisco, Chapada Diamantina e Recôncavo. Somaram-se a elas movimentos como o Levante Popular Juventude, Marcha Mundial das Mulheres, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento das Pequenas e dos Pequenos Agricultores (MPA), entre outros, fortalecendo ainda mais este momento de unidade e resistência.
A mesa de abertura contou com a presença de diversas lideranças e referências na luta popular: Jazian Mota (MST), professora Mônica, Saiane (MPA), Alidaí (CUT), Osny, Thifanny Conceição, Mãe Jaciara, Josi Pataxó, Adriana Marmori, Nini Oliveira, Rosilane Lisboa, Lucinéia Durães (PT-BA), Débora (CONSEA) e Eliane Oliveira (MST).
As mulheres em luta se unem para enfrentar o entrelaçamento de violências: o racismo, o patriarcado, o capital, a concentração de terras e a ausência de justiça fundiária. Jazian Mota iniciou a mesa ressaltando que o patriarcado atinge todas as mulheres e, por isso, é fundamental construir esse espaço coletivo e unitário de luta. A resistência das mulheres urbanas, rurais, das águas e das florestas é essencial para enfrentar as violências que as atravessam historicamente.

Alidaí, da CUT, abordou a questão da jornada tripla de trabalho a que as mulheres são submetidas e como essa situação se agrava diante da atual precarização do trabalho.
Thifanny Conceição destacou a importância do acampamento: “Esse espaço representa nossos corpos e nossa diversidade de identidade. Aqui conseguimos nos unir, pensar e sintetizar políticas coletivas, permitindo que saiam daqui propostas assertivas para nós.”

Mãe Jaciara agradeceu pela oportunidade de ocupar a mesa e trouxe a voz das mulheres de terreiro, ressaltando os conflitos que existem nos territórios tradicionais, especialmente os de religião de matriz africana.

Josi Pataxó, representante dos povos indígenas de Santa Cruz Cabrália e professora em seu território, expressou sua angústia ao relatar que, naquele momento, seu povo estava na beira de pista, passando fome e sede, devido à violenta expropriação territorial promovida por grupos bolsonaristas sob a bandeira do movimento “Invasão Zero”. Em suas palavras: “Nós não somos nada sem nossos territórios. Nós não produzimos, nós não colhemos sem nossos territórios. Minha fala não é só pelo meu povo, mas por todos aqueles que precisam de sua terra.”

Saiane Santos, da Direção Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores, enfatizou a importância do acampamento para reafirmar a luta contra o feminicídio e contra a fome que assola a vida das mulheres no campo e na cidade.

Eliane Oliveira reforçou: “Estamos aqui no 14º Acampamento das Mulheres em nossa defesa, afirmando que o agronegócio é violência. Estamos aqui para resistir.”
A análise de conjuntura foi conduzida por Lucinha do MST, deputada estadual, e Lucineia Durães, chefa de gabinete do deputado federal Valmir Assunção, que trouxeram reflexões sobre a política internacional e nacional. Alertaram para os riscos da reeleição de Donald Trump, que tem ampliado as guerras e o conservadorismo. Destacaram também a influência das redes sociais administradas por Elon Musk – atual chefe do Departamento de eficiência do Governo de Trump – pois, têm sido utilizadas para disseminar discursos que promovem a precarização do trabalho, a “uberização” e a supressão dos sindicatos. Ressaltaram, ainda, a necessidade de seguir defendendo a democracia, uma vez que o conservadorismo continua sendo uma ameaça ao bem-viver da população. Grupos conservadores e o agronegócio têm fomentado discursos enganosos sobre a inflação alimentar, e é preciso estar atento a essas estratégias.
O primeiro dia do 14º Acampamento das Mulheres do Campo e da Cidade demonstrou a força de um movimento comprometido com a transformação social, reafirmando que a resistência feminina contra o capital é essencial para a construção de um mundo mais justo e igualitário.
*Editado por Gabriel Vargas