Luta e Mobilização
Conheça a história do documentário Bom Dia Presidente!
Dirigido por José Eduardo Pereira, com co-direção de Guilherme Daldin e Camille Bolson, o longa-metragem promove memória e inspiração para um futuro mais justo e igualitário

Por Barbara Zem*
Da Página do MST
O teaser do longa-metragem inicia com crianças Sem Terrinha brincando na chuva do acampamento Maila Sabrina, em Ortigueira, região norte do Estado, enquanto João Arnaldo Teixeira, mais conhecido como João Barba, lembra a participação de grande parte da comunidade durante a Vigília Lula Livre. A Vigília foi formada em 2018 por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) de todo o Estado e de outros movimentos e partidos políticos apoiadores do presidente Lula.

“A nossa contribuição, sim, foi um ato de pressionar, mas também um ato de companheirismo para que ele não se sentisse tão isolado lá dentro”, relembra João Barba, da comunidade Maila Sabrina, em sua casa assistindo uma parte do documentário que irá para as telonas em breve.

O projeto teve início em 2017 e é fruto de um processo colaborativo e militante da produtora Canteiro Audiovisual, à época formada por José Eduardo Pereira, Camille Bolson e Guilherme Daldin. Muitas companheiras e companheiros participaram do processo de criação do filme, assumindo as mais diversas funções.
O filme trata de um processo importantíssimo da história recente de nosso país, capturando momentos de luta, solidariedade e superação da classe trabalhadora organizada. Esse momento foi a Vigília Lula Livre, o que era para ser, e o que se tornou depois dos 580 dias que o presidente Lula ficou preso no prédio da Superintendência da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida, em Curitiba. Durante esse período militantes da classe trabalhadora, camponeses e operários se uniram em um ato contínuo de resistência e denúncia contra a prisão. A vigília foi um espaço de formação política, de aprendizado e de fortalecimento de laços comunitários.
José Eduardo conta que, em 2021, com a reabilitação política de Lula e a exposição de irregularidades na Operação Lava Jato, surgiu a ideia de resgatar o vasto material bruto que foi produzido durante a Vigília. “Esse acervo, composto por imagens, depoimentos e registros das atividades, deu origem a um projeto maior: um documentário que não apenas narra os 580 dias de resistência, mas também reflete sobre o poder da organização popular e sua relevância no cenário político brasileiro a partir do território de luta por reforma agrária”, explica.
Para que o filme ganhasse uma base ainda mais sólida, José retornou ao acampamento Maila Sabrina, em Ortigueira, onde construiu laços de amizade e afeto. A comunidade é um exemplo de resistência e luta pela Reforma Agrária Popular, representando décadas de dedicação e organização comunitária.


José Eduardo reforça que entender a dinâmica da comunidade enriqueceu ainda mais a narrativa do documentário, conectando a luta urbana com a rural, e destacando a força da união entre diferentes setores da sociedade.
Sobre a escolha da comunidade para participar do filme, Jocelda Ivone de Oliveira, dirigente estadual do MST e liderança da comunidade, lembra: “A Fazenda Brasileira foi ocupada no dia 8 de janeiro de 2003, fazia 8 dias que o Lula tinha assumido o primeiro ano de presidência. (…) Quando o Lula começou o mandato nós começamos o Maila Sabrina, então nós e Lula começamos juntos, ele de presidente e nós de acampado. E quando o Lula foi preso em 2018, foi um choque para nós da comunidade, dois dias depois nossa comunidade estava com 2 ônibus na frente da polícia federal, cozinhando na rua, dormindo no chão, não tinha banheiro, aquele sofrimento, foi muito difícil”.

Jocelda também reforça que essa luta foi pelo presidente, mas não só por ele. “A comunidade pegou como compromisso tirar o Lula da cadeia, assumiu a vigília como se fosse uma parte de nós, o pessoal trabalhava, nós tínhamos escala, o pessoal trabalhava em suas lavouras, mas tirava um momento, que era esses 15 dias pra cumprir seu papel com a democracia. Não era só pelo Lula, mas também pela democracia, era uma coisa muito maior que estava em jogo”, comenta.

Bom Dia Presidente! combina história, reflexão e ação, sobre um processo coletivo do qual o documentário também participou. “Ele nasce de um momento de resistência, alimenta-se da esperança e destina-se a todos que acreditam no poder da transformação social através da união e da luta coletiva. Uma obra que promove não apenas a memória, mas também a inspiração para um futuro mais justo e igualitário”, descreve José Eduardo.

É um filme militante, e isso significa que produção e audiência são partes da mesma classe, da classe trabalhadora. Não é somente um público, sentado em poltronas: o filme é construído para os sujeitos históricos, companheiras e companheiros de classe, como se a sessão de exibição fosse uma mística do MST.
*Do Setor de Comunicação e Cultura do MST PR.