Cultura
MST na Venezuela e também no teatro: Festival Internacional de Teatro Progressista 2025
MST e organizações venezuelanas promovem intercâmbio cultural e político, destacando a importância da arte na luta pela soberania alimentar

Nos últimos dias circulou muito a notícia de que o MST seria o principal articulador de um projeto que envolve a produção em 180 mil hectares na Venezuela. Conforme divulgado pelo próprio governo bolivariano da Venezuela e nas redes do MST, a parceria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra com as organizações comunais da Venezuela será em um esforço conjunto para tornar produtivo, de forma agroecológica, esse grande território no sul da Venezuela, apoiando a soberania alimentar do país vizinho, tão bloqueado na arena internacional pelos inimigos da Revolução Bolivariana.
Nossa relação com esse povo em luta, no entanto, vai além da produção de alimentos: há também uma grande construção, desde cada povo, que passa pela cultura e, neste caso específico, pelo teatro. Duas companhias que têm ligação orgânica com o MST estiveram na Venezuela para o Festival Internacional de Teatro Progressista 2025, que aconteceu de 10 a 20 de abril.
Sob o lema “Que Seja Humana a Humanidade”, o festival recebeu 25 peças teatrais de 19 países. O Brasil foi representado por três obras, sendo duas delas apresentadas por coletivos com vínculos com o MST. Os grupos Companhia Antropofágica e Coletivo Dolores Boca Aberta integram a nossa Coordenação Político-Pedagógica da Escola Popular de Teatro e Vídeo do MST de São Paulo (EPTV-SP). Além disso, alguns de seus integrantes são dirigentes e militantes do MST.
Essa construção coletiva se dá, inclusive, na prática da luta pela terra: em um dos acampamentos mais antigos do MST em São Paulo, a Comuna da Terra Irmã Alberta, a Companhia Antropofágica organiza o Território Cultural Okaracy: uma das frentes pela qual o território da Reforma Agrária Popular resiste e mostra que a luta pela terra floresce no solo, mas também na arte, na cultura, em novas formas de convivência, de trabalho e de imaginar o mundo.


A participação no festival se deu por articulação política envolvendo o setor internacionalista do movimento, via Brigada Apolônio de Carvalho, em Caracas, a Brigada Nacional de Teatro Patativa do Assaré e a Cooperativa Paulista de Teatro, com curadoria de Carlos Arroyo, diretor do festival e da Companhia Nacional de Teatro da Venezuela, além do apoio do Ministério do Poder Popular para a Cultura através do ministro Ernesto Villegas Poljak e da vice-ministra Karen Millán.
As obras apresentadas no festival foram Bóris Não Está Pronto e Labirinto do Fascismo, a primeira do Coletivo Dolores e a segunda da Companhia Antropofágica.
Em Bóris, o Dolores leva o debate sobre masculinidade, patriarcado e machismo numa perspectiva de classe, crítica e dialética. Somente homens estão em cena e as contradições são ampliadas quando a única mulher é representada por um objeto que fala, uma caixa de som. Em Bóris Não Está Pronto fica evidenciado o caráter de relação social do machismo que maltrata toda a sociedade. Essa relação reproduzida por todos, atingindo o conjunto da sociedade. A peça foi muito bem recebida pela crítica e pelo público do festival. Foram quatro apresentações que inauguraram o teatro CELARG (Centro de Estudos Latino-Americanos Rómulo Gallegos).
Já a Antropofágica esteve representada por 13 de seus integrantes e realizou três apresentações de Labirinto do Fascismo no centenário Teatro Municipal de Caracas, onde hasteou em cena a bandeira do MST e recebeu das mãos da vice-ministra de Cultura uma estatueta comemorativa do festival em ato solene. Numa atmosfera visualmente estimulante que remete a um ateliê de pintura, a peça intercala textos históricos e sociológicos de Clara Zetkin, Clara Mattei e Walter Rodney, entre outros, e se apresenta como obra de combate, no sentido de provocar a reflexão crítica antifascista e pensar sobre o que resta das instituições e da práxis política na atualidade.

A presença da Antropofágica e da Dolores no festival destaca a importância da troca cultural entre artistas brasileiros e venezuelanos. Esta interação promove um enriquecimento mútuo, permitindo que diferentes linguagens artísticas se entrelacem e fortaleçam a luta antifascista. O festival, que celebra a autodeterminação dos povos, o pensamento crítico e libertador e a proteção do planeta e seus recursos naturais, oferece um espaço vital para expressar formas genuínas de ser, profundamente humanas.
Para além das apresentações teatrais, foi ministrada uma oficina de teatro popular e revolucionário para as mulheres construtoras das Comunas de Caracas e outras regiões. A condução da formação foi tarefa de Luciano Carvalho, do coletivo Dolores e MST-SP. A oficina resultou numa cena de teatro sobre o feminismo comunero. A iniciativa coloca a Venezuela como potencial integrante da Rede Nuestra América de Teatro Político, ação organizada pelo coletivo nacional de cultura do MST.
A companheirada ainda concedeu entrevistas para a rede intercontinental Telesur e outras mídias locais, e integrantes da comitiva brasileira estiveram com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em seu programa televisivo Con Maduro +.
O fortalecimento dos vínculos entre os povos em luta, seja na produção no campo ou na cultura, é essencial para a superação das nossas barreiras e para fortalecer o campo popular.
Internacionalizemos a luta, integremos os povos!
*Editado por Fernanda Alcântara