Lutas Populares
Café na Feira Nacional mobiliza entidades do Campo Popular
O momento contou com amplo debate acerca dos rumos da esquerda no Brasil, reforma agrária e o combate à fome

Por Flora Villela/ Equipe de texto da 5ª Feira da Reforma Agrária
Da Página do MST
Como parte dos debates da V Feira Nacional da Reforma Agrária, fechando o primeiro dia, nesta quinta feira (8) aconteceu o Café com as Forças Populares. O evento reuniu movimentos sociais, sindicais, partidos políticos e organizações comunitárias em torno do debate da conjuntura política brasileira, da luta coletiva do campo popular e do projeto da reforma agrária popular.
O momento contou ainda com um café da tarde de produtos da Reforma Agrária para os convidados. Com uma fala inicial de análise da conjuntura, representando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, líder histórico do movimento, destacou o acúmulo político de 40 anos do Movimento.
“A luta por reforma agrária precisa estar vinculada a um projeto de país, e não pode ser uma tarefa só do MST. Para avançar é preciso um grande movimento de massas que envolva os trabalhadores da cidade e suas representações, sejam os partidos, os sindicatos ou os movimentos populares”, afirmou Stédile.
Estiveram presentes diversas organizações, dentre elas o Movimento Negro Unificado (MNU), o Movimento Brasil Popular (MPB), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o Levante Popular da Juventude, o Sindicato dos metalúrgicos do ABC, o Sindicato dos Jornalistas de SP e muitas outras. Representações do Partido dos Trabalhadores (PT), do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) também compareceram.
Parceria com a China
Outro destaque na fala de Stédile foi a recente parceria firmada com a China, que possibilitará a transferência de tecnologias sustentáveis de fertilização e energia limpa, além da instalação de 5 fábricas de maquinário agrícola adaptado ao modelo agroecológico e familiar de produção.
“Precisamos implementar a agroecologia como um conjunto de técnicas e formas para aumentar a produtividade do trabalho e do solo, produzir comida boa. Por isso, nós estamos construindo essa parceria com a China, que se dispõe a nos passar tecnologias que vão nos ajudar a resolver a fertilização orgânica, com o que sobra na sociedade, implantação de fábricas para produção de maquinário e energia solar”, ressaltou ele.
A iniciativa tem potencial de possibilitar a massificação da agroecologia, modelo de produção sustentável, defendido pelo MST. O movimento defende ainda a participação ativa de outras organizações no Plano Nacional Plantar árvores, produzir alimentos saudáveis, que pretende realizar o plantio de 100 milhões de árvores até 2030, no intuito de contribuir com a mitigação climática.
A solução para a carestia é a reforma agrária popular

Com a alta no preço dos alimentos, que gera miséria e fome, o tema da carestia também esteve muito presente. Na análise de Raimundo Bonfim, coordenador nacional da central de movimentos populares, “Nesse modelo de sociedade não há só solução para o problema ambiental, nem para combater a fome e nem do ponto de vista da saúde física e mental”.
Simone Nascimento, do Movimento Negro Unificado deu ênfase ao tema ao afirmar que “construir a reforma agrária é, sem dúvida alguma, o único caminho para que possamos abolir a lei de terras, que nos condenou a uma escravidão eterna sem direito à alimentação, à moradia e à soberania popular. Essa luta é sem dúvida um luta que está no cerne da abolição do capitalismo e da escravidão”, pontuou ela.
Entre os anos de 2021 e 2023, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU), 8,4 milhões de brasileiros, cerca de 3,9% da população nacional, passaram fome. Embora os números alarmantes tenham diminuído nos primeiros anos do governo Lula, a Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan), ainda calcula que, cerca de 1,3 milhão de famílias não superaram a linha de pobreza e seguem vulneráveis à insegurança alimentar.
Por isso, a defesa da soberania alimentar, como fonte da solução, foi central “a luta pela terra só faz sentido se for para produzir alimentos saudáveis para o povo brasileiro” afirmou João Pedro Stedile.
Em consonância, Moisés Selerges Júnior, presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, resumiu: “O nosso projeto, se pudéssemos resumir, é que temos o direito de ser feliz, porque somos nós que produzimos a riqueza do país. E a gente não vai abrir mão desse projeto”.
Não há mudança sem mobilização de massas
Outro ponto fortemente destacado ao longo das falas foi a impossibilidade de avanço político real sem mobilizações massivas. “Temos a certeza que para a sociedade que queremos, a gente tem que se unir. Ninguém vai fazer nada sozinho. Precisamos sair da retaguarda e retomar os direitos das trabalhadoras e trabalhadores, para que eles possam voltar a sonhar”, disse o presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC paulista.
Frente a uma ofensiva mundial da extrema direita, que no Brasil se demonstra na disputa em torno do tema da anistia para os golpistas do oito de janeiro, as opiniões convergiram para a necessidade de ir às ruas.
“Só a luta de massas arranca conquistas reais, sem povo organizado não há conquistas nem no Vaticano. Portanto, as classes oprimidas tem que se mexer.” afirmou Stédile.
Em consonância, o deputado federal por São Paulo, Rui Falcão reafirmou que “sabemos que a ação institucional é importante, mas é um pé no parlamento e vários pés nas ruas e nas lutas, um pé na instituição e outro fora.”
*Editado por Fernanda Alcântara