Frutos da Luta
“Eu amo a luta do MST”, diz assentada do Pará presente na 5ª Feira da Reforma Agrária
Cleonice, ou melhor, Cleó, é uma das primeiras assentadas do estado e hoje planta, produz e vende graças à luta pela Reforma Agrária no país

Por Vanessa Gonzaga/Equipe de texto da 5ª Feira da Reforma Agrária
Da Página do MST
A história de Cleonice Alves dos Santos se confunde com a história do MST no estado do Pará. Cleó, como é chamada pelos companheiros da delegação paraense que veio para a 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, participa do evento pela segunda vez. Na barraca do estado, ela vende parte da sua produção. O menu é diversificado.
Eu trouxe a farinha, eu trouxe a tapioca, feijãozinho, trepa-pau [outra variedade de feijão], eu trouxe o tucupi”, lista Cléo.
Mas até chegar aqui para vender os produtos que ela mesma planta e beneficia, o caminho foi longo. Cleó é militante do MST desde a década de 80, quando o Movimento iniciou o processo de ocupação de terras em vários estados do país. Questionada sobre como entrou no MST, ela deu uma risada e respondeu: “É uma longa história…Lá nos anos 80, em 1984, foi nossa primeira organização. A gente se reunia, fazia reunião de base lá em Curionópolis, a reunião sempre foi na minha casa. Aí quando a gente conseguiu entrar na terra, foi a primeira ocupação que foi no Cinturão Verde. Acho que foi 1993”, relembra.
Na época, com a luta por Reforma Agrária travada, ela conta como a conquista da terra era difícil. “A primeira quando nós chegou [sic] para entrar, o pessoal já tinha sido despejado. E aí a gente voltou, acampou lá mesmo na cidade, aí ocupamos o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], ficamos quase um ano lá. Depois a gente foi pra Brasília, ficamos uns 34 dias lá e voltamos. Esse primeiro assentamento nosso foi muito difícil. A gente só ganhou mesmo porque a gente teve pulso e resistiu”. Hoje, 537 famílias vivem assentadas no local, que foi batizado como assentamento Palmares II.


A data que marca a conquista do assentamento 26 de junho, é, por coincidência, a mesma data do aniversário de Cleonice, que tem 64 anos. “Todo ano tem festa lá”, relata. Mãe de 11 filhos, parte deles nasceu e segue na luta. “Tive 11 filhos. As mais novas nasceram na luta. Sempre me acompanharam. Hoje eles são empregados, mas eles vão pra roça para me ajudar. Hoje eu tenho duas filhas que estão acampadas lá no acampamento Terra e Liberdade, são Rosimeire e a outra é Rosilda”, conta a assentada.
Cleó é uma das cooperadas da Cooperativa dos Produtores Rurais de Alimentos de Paraupebas (COOPA), localizada no sudeste do estado e que tem a missão de contribuir não apenas com os cooperados, mas também de atender a comunidade. No assentamento, o beneficiamento da mandioca só é possível graças uma agroindústria que possibilitou a construção de uma casa de farinha, que foi construída em um lote cedido pela assentada.
Nossa farinheira é lá mesmo dentro do lote que a gente ganhou da luta. Eu entrei com o lote, tirei lá uma área para fazer a casa de farinha. Hoje nós estamos produzindo nela”, relata a assentada.
Hoje, a casa de farinha tem boa produtividade. “São 200, 300 sacos de farinha por mês, fazendo todo dia. A gente planta, colhe e fabrica”, explica Cleó. Nessa edição da feira, ela trouxe menos produtos, mas espera voltar pra casa sem eles. “Quando a gente faz boa venda é bom demais, né? A primeira vez que eu vim, eu vendi de minhas coisas tudo [sic]. Tomara que eu venda tudo”, projeta. A banca onde Cleó e seus companheiros vendem os produtos fica montada até este domingo (11), no Parque da Água Branca, em São Paulo.
Com uma vida inteira dedicada e mudada graças à luta pela terra, Cleonice não consegue ver como seria sua vida longe do MST. “A gente imagina assim, mas ia ser uma coisa meio diferente, né? Porque eu sempre fiz parte da luta, eu amo a luta do MST”, finaliza.
*Editado por Solange Engelmann