Reforma Agrária

5ª Feira da Reforma Agrária garante espaços de cuidado e cinema, no Parque da Água Branca 

A permanência dos 2 mil militantes em 4 dias de Feira contou com espaços como saúde, Ciranda Infantil, Mostra de Cinema, entre outros para garantir o bem-estar e bom funcionamento das atividades

Foto: Ana Sales

Por Ana Sales/Equipe de texto da 5ª Feira da Reforma Agrária
Da Página do MST

Como parte da cultura Sem Terra, arraigadas em encontros e espaços nacionais e regionais do MST, na 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária não foi diferente, os trabalhadores/as do Movimento montaram uma verdadeira cidade improvisada com diversos espaços de cuidado, saúde, lazer, alimentação, comunicação, comercialização e debates, bem como toda a infraestrutura necessária para garantir a permanência de 2000 militantes envolvidos em diversas equipes de trabalho.

A 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária que vai até às 21h30 deste domingo (11). A atividade teve início na última quinta-feira (8) e contou com a participação de mais de 300 mil pessoas, que passaram pelo Parque da Água Branca, em São Paulo.

Para garantir a alimentação dos feirantes e integrantes das equipes de trabalho, garantindo o direito de comer como um ato político durante os quatro dias de feira foi construído uma cozinha para garantir as três alimentações diárias de todos os militantes presentes na Feira.

Segundo Adriana Oliveira, coordenadora da cozinha, a ideia é que o espaço da alimentação seja uma expressão de cuidado, afetividade e esperança para as/os profissionais da feira. “A nossa cozinha pensa a alimentação como um ato político, onde é direito de todos ter acesso a uma alimentação diversificada e saudável. No cardápio comidas mais regionais, desde sucos variados, com pratos típicos, como cuscuz, batata doce, banana comprida, moqueca e entre outros, remetendo ao trabalhador rural e sua alimentação no campo em seu cotidiano”, explica.

A cozinha desta Feira prestou homenagem a Josué de Castro, pensador e pesquisador que discute a geografia da Fome, discutindo a questão da fome como uma questão social e um problema político. Chamando a atenção para a importância da alimentação saudável, como um direito de todos/as.

Ciranda Infantil: cuidado, formação e protagonismo dos Sem Terrinha

Atividade da Ciranda Infantil. Foto: Juliana Adriano

Já no espaço da Ciranda Infantil durante a Feira, garantiu o acolhimento de crianças para que mães, pais e responsáveis pudessem participar das atividades políticas e organizativas. Coordenada por Daiane Ramos, a Ciranda é um espaço conquistado pela luta das mulheres Sem Terra e também de formação para as crianças, que são tratadas como sujeitos do processo.

Um dos destaques foi a Feirinha dos Sem Terrinha, realizada na tarde do sábado (10), onde as crianças estudaram sobre alimentos saudáveis e a importância da Feira. Em seguida, circularam pelas bancas, dialogaram com feirantes e organizaram sua própria feira, com produtos de todas as regiões do país, um ato simbólico que mostrou o protagonismo infantil.

Foto: Juliana Adriano

A Ciranda também se organizou em Núcleos de Base (NBs) com nomes de árvores. Um deles, o NB Girassol, foi pensado especialmente para crianças com Transtorno do Espectro Autista, garantindo inclusão e acolhimento. A experiência reafirma a Ciranda como um espaço de cuidado e construção política para os Sem Terrinha, assegurando a inclusão da infância Sem Terra no processo de luta e continuidade da organização.

Espaço de Saúde Maria Aragão

Foto: Lucas Conceição

O Espaço de Saúde Maria Aragão, presente na 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, foi construído como um local de cuidado integral voltado às necessidades dos trabalhadores e trabalhadoras da Reforma Agrária. O nome homenageia Maria Aragão, médica, comunista e militante histórica dos direitos do povo brasileiro.

Mais do que um local de atendimento, o espaço se consolida como um território de troca, escuta e acolhimento. A presença desse cuidado coletivo faz com que a militância se sinta valorizada e protegida, só o ato de ser ouvido já representa uma forma de cura. A troca ali acontece de forma comunitária e simbólica, pois agrega pessoas de diversos estados do país, muitas delas detentoras de saberes ancestrais que, ao chegarem, se conectam e compartilham seus conhecimentos em uma construção coletiva.

O espaço oferece uma variedade de serviços terapêuticos e integrativos, como massagem, ventosaterapia, auriculoterapia, escalda-pés e escuta qualificada com profissionais da saúde física e mental, entre outros atendimentos. Além disso, promove formações e rodas de conversa, articulando os saberes da medicina popular com a saúde coletiva.

O Espaço de Saúde tem sido essencial, não apenas para oferecer atendimentos, mas para cuidar de quem está na “lida” e atividades da Feira, construindo e sustentando esse grande encontro popular. Ele reafirma que a Reforma Agrária também é um projeto de cuidado com o corpo, a mente e os territórios, e que os sujeitos do campo merecem um modelo de saúde integral, popular e emancipador

Cinema da Terra: O Audiovisual como espaço de debate com a sociedade

Foto: Filipe Peres / @filipeaugustoperes

A comunicação social no Brasil ainda é dominada pelo poder aquisitivo, e a maioria dos produtores audiovisuais que se destacam no país ainda são oriundos da elite do país, que assim os fazem se destacarem com seus filmes, novelas, conteúdos para internet e entre outros. Buscando apresentar uma visão popular da luta pela terra no cinema foi organizada a Primeira Mostra do Cinema da Terra na Feira Nacional do MST, em parceria com o Jornal Brasil de Fato. Com a exibição de documentários e filmes de ficção em curta, que retrataram diversos aspectos da vivência nos acampamentos e assentamentos e o cotidiano da luta pela Reforma Agrária, e espaço de debate com cineastas e diretores.

Foto: Filipe Peres / @filipeaugustoperes

Cadu de Souza, do setor de comunicação do MST na Bahia e um dos coordenadores da ação, conta que a Mostra surge para divulgar filmes das/dos trabalhadoras(es) para eles mesmos, com produções que denunciam e anunciam a luta do movimento. “A proposta é mostrar que a informação é um direito para todos, porém ainda muito renegado, pois o cinema, até mesmo como ferramenta de entretenimento ainda é algo muito distante socialmente e economicamente da realidade de muitos brasileiros”, afirma.

Foto: Filipe Peres / @filipeaugustoperes

Cibele Lima, do Brasil de Fato, outra coordenadora da Mostra, comenta que as produções escolhidas dialogam diretamente com as demandas de combate do MST, que traz em sua organização temas como; “Resistências, desafios e tecnologia para o campo” e “Terras: Identidades na luta do campo”, mostrando que estes assuntos perpassam também o entendimento de evolução para a/o trabalhadora(or) rural, no sentido de que a tecnologia é algo que carece também estar nas mãos da população do campo. “Essa é uma realidade que ainda encontra muita dificuldade na sua prospecção de ações, assim mesmo como a realidade de identidade do povo rural, que enfrenta muita luta para acessar a informação até mesmo de sua razão de existir na sociedade”, conclui.

*Editado por Solange Engelmann