Cultivando Memórias

Há 30 anos, MST no Paraná fazia encontro da coordenação estadual

A reunião foi decisiva na luta pela Reforma Agrária Popular no estado naquele período

Foto: Acervo MST no PR 

Por Juliana Barbosa do Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR*
Da Página do MST

Há exatos 30 anos, entre os dias 8 e 11 de maio de 1995, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) realizou um encontro em Curitiba, no Paraná, que contou com cerca de 80 pessoas participando no antigo espaço do Centro de Promoção de Agentes de Transformação (CEPAT), no bairro Sítio Cercado, em Curitiba. A reunião foi decisiva na luta pela Reforma Agrária Popular no estado naquele período.

O período histórico em que ocorria o encontro foi marcado pelo primeiro ano do governo Jaime Lerner. “O MST já sentia que era vítima de um grande cerco político-institucional de violência que o governo estava preparando. A reunião já marcava uma perspectiva de se preparar e pensar em iniciativas de maior envergadura para resistir à era Jaime Lerner”, relata o companheiro Roberto Baggio, atualmente integrante da coordenação nacional do MST e, na época, da direção estadual.

O cenário político era desfavorável à luta pela Reforma Agrária Popular. Foram debatidos o tema da organicidade e quais ações o MST poderia construir para resistir e contrapor o cerco político e militar do governo Jaime Lerner, bem como combater as elites do agronegócio e os meios de comunicação, que eram diretamente contrários à luta dos trabalhadores Sem Terra.

Um ano após o encontro, em 1996, ocorreu a ocupação de uma vastidão de terras griladas, que mais tarde se tornaram o maior complexo da Reforma Agrária da América Latina. “O encontro já era um momento de reflexão e amadurecimento interno sobre como construiríamos outras ações para romper o cerco midiático, jurídico e militar das milícias sobre o MST. Era, portanto, um ensaio nessa perspectiva de análise da realidade e da necessidade de o Movimento dar um passo adiante, culminando na grande ocupação da fazenda Giacomet-Marodin”, afirma Roberto Baggio.

Em uma madrugada fria, no município de Rio Bonito do Iguaçu, região central do Paraná, mais de 10 mil homens, mulheres e crianças ocuparam uma parte da área da madeireira Giacomet-Marodin. Em agosto de 1997, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) formalizou a criação do assentamento Ireno Alves dos Santos, com 900 famílias, nas terras do acampamento Buraco. Era o maior assentamento do Brasil até 2002, quando foi criado, em Quedas do Iguaçu, o assentamento Celso Furtado, com 1.200 famílias. Nos anos seguintes, novos acampamentos e assentamentos foram criados na região. Hoje, são mais de 5 mil famílias acampadas e assentadas nas terras griladas pela atual Araupel.

Na reunião, estavam presentes muitos dirigentes do MST do Paraná, incluindo lideranças daquele período histórico que conduziam o Movimento na época, entre elas a militante Iraci Salete Strozak e o companheiro Ireno Alves dos Santos.

A esquerda no quadro a militante Iraci Salete Strozak, grande lutadora que coordenou a ocupação Giacomet Marodin, faleceu em um acidente de carro em 1997 no Paraná. Foto: Acervo MST no PR
A esquerda o militante Ireno Alves dos Santos, uma das principais lideranças da época. Faleceu em 1996 em um grave acidente. Foto: Acervo MST no PR

Desde o início de seu mandato até o final, em 2002, Jaime Lerner foi um arquiteto da violência contra os camponeses Sem Terra. O ex-governador ordenava despejos violentos, realizados durante a madrugada, e, sob seu governo, a Polícia Militar espionou ilegalmente militantes, perseguiu agricultores acampados e assentados e promoveu diversos abusos e violências em todas as regiões do estado, principalmente na Região Noroeste. No Tribunal Internacional dos Crimes do Latifúndio e das Políticas Governamentais de Violação dos Direitos Humanos no Estado do Paraná, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e diversas organizações denunciaram 16 assassinatos, 7 casos de tortura, 478 prisões, 323 feridos, 45 ameaças de morte e 131 ações de despejo ilegais.

O encontro foi um marco de resistência das companheiras e companheiros. Hoje, torna-se uma grande memória para recordarmos e nos enchermos da chama da esperança por uma sociedade mais justa e igualitária, na luta pela construção da Reforma Agrária Popular

Fotos: Acervo MST no PR

*Essa matéria faz parte da série Cultivando memórias do MST no Paraná. Confira esse texto também: Camponesas relembram 1º Encontro Estadual de Mulheres do MST no Paraná, em 1988

**Editado por Fernanda Alcântara