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MST celebra 80 anos de Pedro Xapuri, militante histórico da luta pela terra em SP

O lutador passou pelo Acre, atuando na luta dos seringueiros, juntamente com Chico Mendes. Comemoração também relembrou os 50 anos de casamento com Maria Alberina

Foto: Filipe Augusto Peres

Por Filipe Augusto Peres
Da Página do MST

No último sábado (17), no assentamento 17 de Abril, localizado em Restinga, São Paulo, foi celebrado os 80 anos de Pedro Sebastião da Rocha, conhecido como Pedro Xapuri, militante histórico do MST no Estado, além dos 50 anos de casamento com Maria Alberina da Rocha, a Dona Alberina.

Durante o dia, em torno de 600 pessoas puderam desfrutar de um Buffet no local, com sucos, chopp, refrigerante e água à vontade.

O apelido de Pedro Xapuri, tem relação com sua passagem pelo município de Xapuri no Acre, em que conheceu Chico Mendes, que se tornou seu amigo e companheiro de luta.

A data

O dia começou com a mística em homenagem a trajetória dos 80 anos de vida do militante histórico e aos seus 50 anos de casamento e luta. Um vídeo foi exibido com falas em homenagem a Pedro Xapuri, com a participação de Ilzamar Mendes, viúva de Chico Mendes e Kelli Mafort, secretária-executiva da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Companheira desde os tempos em que migraram do Ceará para o Acre, de luta, responsável pela alfabetização de seringueiros em Xapuri, inclusive de Ilzamar Mendes, viúva de Chico Mendes, seguindo o método Paulo Freire. Dona Alberina também foi lembrada durante as homenagens pela sua militância também histórica e alicerce emocional e político de Pedro.

Foto: Filipe Augusto Peres

A Fala

Em sua fala, o dirigente histórico do MST transformou o momento em um gesto político, um testemunho de resistência e convocação coletiva à memória e ação. Com palavras simples, Xapuri fez de sua trajetória uma aula viva sobre o sentido da Reforma Agrária no Brasil.

Esse acontecimento que hoje está comemorando aqui de 80 anos é uma vitória, é uma conquista”, afirmou. 

Para Xapuri, não se trata de uma conquista individual, mas de todos que lutaram ao seu lado, que não recuaram diante do medo, da repressão ou da fome. Ela também fez questão de lembrar que a terra onde estavam pisando foi fruto de enfrentamentos.

Pedro Xapuri. Fotos: Filipe Augusto Peres

Isso aqui custou sangue, custou lágrimas, custou sofrimento. Isso aqui não é coisa pra qualquer um, não.”

O dirigente se emocionou ao citar os companheiros e companheiras que permaneceram na luta até a vitória. E agradeceu àquelas e àqueles que, vindos de universidades como a Universidade Estadual Paulista (UNESP) e a Universidade Estadual do Acre, ofereceram apoio intelectual e político à construção do assentamento. 

“São as guerreiras que estiveram junto com nós”,

Pedro ampliou o horizonte de sua fala. Em um dos momentos mais densos do discurso, definiu a luta pela terra como algo que transcende a questão fundiária.

A luta pela terra é a luta pela comida, pela vida, pela saúde, pela educação, pela moradia.” 

Para Xapuri, a verdadeira identidade nacional nasce da solidariedade e do engajamento com as causas populares. Em seguida, redefiniu o que entende por riqueza. “Riqueza pra mim não é concentração de patrimônio. É bem-estar”.

Contrastando com o modelo hegemônico do agronegócio e da especulação fundiária, que concentram a terra, mas não distribuem alimento, afeto ou futuro. Xapuri afirmou que a medida para uma vida digna, na sua opinião, é ter uma casa boa, terra para plantar, comida farta e muitos amigos.

O encerramento de sua fala foi marcada por esperança e provocação. Disse, entre risos, que já planeja a festa de 90 anos. E completou que “depois dos 100, não vai ter mais esse negócio de estar comemorando de 10 em 10 anos. É todo ano!” Lembrou ainda, com ironia, que quando o INSS negou sua aposentadoria aos 65, ele respondeu que sua expectativa de vida era de 120 anos. “E até os 120 anos eu vou partir”, afirmou, arrancando aplausos e sorrisos.

Arte e Cultura

Fotos: Filipe Augusto Peres

Após a mística, ocorreram apresentações musicais como as do Coletivo O Hierofante, Cantaraças, grupo de forró Relou entre outros que integraram a programação cultural. O final das apresentações contou com uma palhinha do grupo de rap, formado no assentamento 17 de Abril, Veneno H2 e das cantoras Priscila e Patrícia.

Pedro Xapuri

Nascido em 1945, em Jaguaretama, no interior do Ceará, Pedro enfrentou desde cedo as adversidades da vida no sertão nordestino. Em busca de melhores condições, migrou para São Paulo, onde trabalhou como metalúrgico. Aos 32 anos, mudou-se para o Acre, atraído pelas oportunidades no extrativismo da borracha.

No Acre, estabeleceu-se no município de Xapuri, onde conheceu Chico Mendes, tornando-se seu amigo e companheiro de luta. Pedro participou ativamente dos “embates”, manifestações pacíficas organizadas por seringueiros para impedir o desmatamento da floresta. Foi testemunha de casamento de Chico Mendes e esteve presente no momento de seu assassinato, em 1988.

Após a morte de Chico Mendes, Pedro mudou-se para o interior de São Paulo com sua família, estabelecendo-se no assentamento 17 de Abril, em Restinga, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em busca de segurança e continuidade em sua militância.

Ligado à regional de Ribeirão Preto, Xapuri desempenhou papel fundamental na luta pela terra na região de Franca, interior de São Paulo, especialmente no contexto do assentamento 17 de Abril. Em Franca, Pedro trabalhou como zelador no Sindicato dos Sapateiros e se inseriu-junto ao MST. Em 1998, participou da ocupação da Fazenda Boa Sorte, que levou à criação do assentamento 17 de Abril, nomeado em homenagem aos 19 trabalhadores rurais Sem Terra, brutalmente assassinados em Eldorado do Carajás, no Pará, em 1996.

Em Franca o militante seguiu com a sua luta, engajando-se na luta pela reforma agrária. No assentamento 17 de abril, o militante do MST contribuiu na organização comunitária, onde desenvolveu práticas agroecológicas e a produção agrícola sustentável. Xapuri também esteve envolvido na criação da Cooperativa de Produção e Comercialização dos Pequenos Produtores Rurais do Estado de São Paulo (COOPCRESP), a qual fornece alimentos para programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), além de realizar ações solidárias, como a doação de alimentos para comunidades carentes em Franca .

Pedro Xapuri é retratado em documentários como “Pedro Xapuri: O homem que abraçava árvores”, “Vozes da Floresta” e “A Luta não Para”, que narram sua trajetória de luta e resistência. Seu legado é marcado pela defesa da floresta amazônica, pela luta por justiça social e pela promoção da agricultura sustentável.

Sua história é um testemunho vivo da resistência e da esperança na construção de um mundo mais justo e sustentável. Pedro segue vivendo no assentamento 17 de Abril e continua ativo na comunidade, cultivando a terra e compartilhando suas experiências com as novas gerações.

*Editado por Solange Engelmann