Plantas Medicinais

Associações de Cannabis Medicinal demarcam importância do uso medicinal da planta

Participação na 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária chamou atenção para os benefícios da planta em tratamentos médicos alternativos e a necessidade de romper os preconceitos

Foto: Ana Sales

Por Ana Sales/Equipe de texto da 5ª Feira da Reforma Agrária
Da Página do MST

Retratando a biodiversidade dos biomas brasileiros e a potencialidade no uso das plantas e seus benefícios para a medicina popular, com justiça ambiental, 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, realizada de 8 a 11 de maio, em São Paulo, contou com a participação de associações de Cannabis Medicinal, que realizam o debate sobre o uso medicinal da planta.

Entre os produtos da medicina popular que tem chamado a atenção para sua importância no tratamento de doenças neurológicas, dores crônicas, saúde mental e insônia, fugindo da lógica medicalocêntrica, tem sido o cannabidiol, que pode ser beneficiado como óleo, pomada e fitocosmédicos.

A presença das associações de Cannabis Medicinal, na 5ª Feira da Reforma Agrária foi importante para contribuir na ampliação do debate sobre saúde, ciência popular e soberania dos corpos. São grupos de trabalhadoras/es que ser organizam para a prática da medicina popular e ainda enfrentam a criminalização, porém, apresentam uma alternativa prática, com outro outros modelo de cuidado coletivo, acessível e baseado no cultivo da terra. Além de reafirmar que a luta pela Reforma Agrária também é uma luta pelo direito de cultivar e ter acesso à saúde popular e milenar.

Associação Flor da Vida

Foto: Ana Sales

No estado de São Paulo, se encontra em desenvolvimento a experiência da Associação Flor da Vida. A iniciativa começou dentro da própria casa da família, motivada pelo diagnóstico de autismo do sobrinho do casal. Inicialmente foi iniciado a produção de óleo artesanalmente em casa e percebeu-se uma melhora significativa no comportamento da criança. Ao compartilhar o óleo com outros cuidadores de crianças autistas houve uma grande demanda após resultados positivos.

Diante disso, a família decidiu continuar a produção do óleo e formalizou a associação, que atualmente possui 90 funcionários, que atendem cerca de 15 mil pacientes em todo o Brasil e possuem autorização legal para o plantio, extração e fornecimento do óleo de cannabis medicinal.

Paula Moraes, uma das coordenadoras da associação relata um dos casos de pacientes que mais lhe chamou a atenção nesta trajetória. “Um dos nossos casos mais marcantes veio de um paciente do Rio de Janeiro, que era um homem adulto com esquizofrenia que vivia há 20 anos em uma gaiola, nu, agressivo e completamente isolado. Aí a família nos procurou para iniciar o uso do óleo de cannabis, e sua transformação foi radical. O homem passou a se vestir, a andar de bicicleta, hoje ele interage com a família e convive melhor com as pessoas”.

Paula destaca que muitas pessoas já utilizam a cannabis medicinal, inclusive com produtos importados, sem saber que existem associações no Brasil que fornecem óleo de forma legal e acessível. O uso está sendo cada vez mais bem aceito, e a Flor da Vida aponta ser fundamental a valorização e colaboração entre associações, reforçando que esse não é um mercado competitivo, mas um movimento coletivo com base na solidariedade e na partilha.

Foto: Associação Flor da Vida

CEBRAPCAM

Também esteve presente na 5ª edição da Feira Nacional da Reforma Agrária, o Centro de Pesquisa e Estudos da Cannabis Medicinal (CEBRAPCAM) da Paraíba, que tem como objetivos principais a construção de uma sociedade solidária, com a redução das desigualdades sociais, o fortalecimento da agricultura familiar e agroecológica, o acesso a políticas públicas de saúde e demais direitos sociais, fundamentais para qualquer pessoa que necessite e tenha indicação médica de tratamento à base de compostos derivados da Cannabis.

O Centro possui autorização para o plantio e produção de óleos e derivados e também busca consolidar e expandir a inclusão social. Segundo a acolhedora do Centro, Larissa Brito, o espaço valoriza o respeito aos direitos humanos dos/as pacientes de Cannabis Sativa L. Medicinal, nas suas diversas expressões; na busca pela criação de uma cultura de acolhimento, autonomia e superação dos preconceitos enraizados na sociedade, garantindo assim a convivência saudável e aceitação incondicional dos/as pacientes por parte de todas as pessoas e segmentos sociais.

“Queremos promover a educação, disseminação de conhecimentos populares e sistematizados acerca do uso medicinal da Cannabis. E assim, a consequente conscientização da sociedade quanto ao acesso, benefícios e possibilidades terapêuticas decorrentes da utilização do potencial medicinal da Cannabis. Além disso, desejamos atuar por conta própria ou em parcerias com entidades da sociedade civil organizada nacionalmente e internacionalmente, e junto ao Poder Público”, aponta a acolhedora do Centro, Larissa Brito.

O Centro considera fundamental a participação da Feira Nacional do MST, por reunir produtores e produtoras da agricultura familiar e da Reforma Agrária de diversas regiões do país, além de representar um marco significativo na intersecção entre saúde, agroecologia e justiça social.

Durante a feira o CEBRAPCAM apresentou à população sua produção de fito fármacos, buscando valorizar o trabalho das famílias camponesas e fortalecer o acesso da população mais vulnerável a mais essa alternativa de produtos naturais, à base de plantas. “A luta pela inclusão dos nossos fito fármacos mostra a potencialidade que tem nosso país em produzir mais medicamentos a base de cannabis, por meio da produção popular. Eventos como esses são vitais para mostrar como a Reforma Agrária pode ser um caminho para inovações sociais, incluindo a democratização da Cannabis Medicinal e avançar para além da alimentação, abrangendo bem-estar e acesso a medicamentos naturais com preço justo e acessível”, resumo Larissa.

As pesquisas do Centro são realizadas por meio da colaboração de pesquisadores e pesquisadoras, professores e professoras, agricultores e agricultoras, além de diversas profissões voluntariadas. O espaço também possui diversas parcerias com figuras representativas do povo brasileiro.

A luta institucional para uso medicinal da cannabis

A Associação Saberes da Terra, de Pernambuco, que busca a facilitação coletiva no acesso jurídico para o plantio de Cannabis Medicinal, voltado para tratamentos de saúde também participou da 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo.

Foto: Ana Sales

A entidade surgiu a partir de um coletivo de assentamentos rurais no estado, que já desenvolvia práticas com plantas medicinais, como a produção de pomadas, xaropes e tinturas. Ao identificarem membros de assentamentos que necessitavam do uso da cannabis medicinal e não tinham acesso ao tratamento, seja por falta de prescrição ou pelo alto custo do óleo, decidiram estudar o tema.

Atualmente, a associação está se preparando para ingressar com pedido judicial que permita o cultivo e a produção de Cannabis Medicinal. O movimento é respaldado pela legislação estadual da Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), que reconhece a cannabis como medicamento. Porém, mesmo assim enfrenta a resistência de profissionais de saúde no estado, muitos se recusam a prescrever os derivados da cannabis por falta de informação ou preconceito.

**Editado por Solange Engelmann