COP30

Marabá sedia 1ª Pré-COP de organização popular e propõe agenda comum para a COP30

Foto: Agenda Regional sobre o Clima

Da Página do MST

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada este ano na capital do estado do Pará, Belém, tem gerado muitas polêmicas, e a principal delas é a garantia de participação democrática e representativa dos povos que vivem na Amazônia. Levantando esse questionamento, Marabá sediou o primeiro encontro Pré-COP com o intuito de articular formas de visibilizar as dificuldades de quem efetivamente sente na pele os efeitos da crise climática em seus territórios nessa parte da Amazônia. Organizado pela Cúpula dos Povos e pela COP do Povo, o evento reuniu na última sexta-feira e sábado (dias 16 e 17) representantes indígenas, quilombolas, ribeirinhos, agroextrativistas, camponeses, movimentos populares, organizações da sociedade civil e universidades.

A exemplo de diversas outras organizações pelo Brasil, os dois dias foram de unificação da agenda climática na região, sistematizando como os diferentes territórios têm sido impactados e, a partir disso, construir uma agenda comum que envolve a temática da COP30 para a região Sul e Sudeste do Pará. Os movimentos sociais manifestam a preocupação de que a resolução dos problemas climáticos não terá centralidade nos objetivos dos líderes mundiais que estarão na COP30, pois “se fosse, eles estariam organizando escutas pelos territórios e garantindo nossa participação na COP30 com capacidade de incidência nas decisões. Mas não é o que está acontecendo”, destaca a agroextrativista Claudelice Santos, do Instituto Zé Claudio e Maria (IZM) e representante da COP do Povo.

A COP30 será palco para líderes políticos e também para os gigantes do mundo empresarial, o que tem gerado grande desconfiança sobre os acordos que serão firmados nessa Cúpula, que deve envolver, inclusive, os interesses das atividades com os maiores impactos ambientais. A mineração, a pecuária e a agricultura de larga escala são exemplos disso, e a região Sul/Sudeste do Pará se destaca justamente nessas áreas, com a produção de commodities, o que gera na região um grande passivo ambiental e conflitos constantes, responsáveis por colocar o Pará em primeiro lugar no ranking (1.171 casos) de violência contra defensoras e defensores de direitos ambientais e humanos entre 2019 e 2022, de acordo com as ONGs Terra de Direitos e Justiça Global.

Nesse contexto, Polliane Soares, dirigente estadual do MST, destaca que “não podemos esperar que os criadores da crise climática, que são os que mais lucram com ela, tragam solução para isso, para o que a ação deles acarreta sobre nós. A solução está em nós, no que temos construído de resistência nos nossos territórios na Amazônia, com a produção coletiva, sem agrotóxicos e degradação da natureza”. A camponesa ainda complementa que “a COP não é para nós, não é sobre nós e não trará nada de bom para nós”.

Assim como a fala de Polliane, o evento foi marcado por manifestações de preocupação com os acordos que serão fechados na COP sem a participação popular, como também destaca Cledeneuza Maria Oliveira, coordenadora executiva do MIQCB Regional Pará. “Eles falam de crédito de carbono sem fazer nada pela floresta. É a gente que faz. O projeto que será definido na COP deve aprofundar ainda mais nossos desafios, pois será um projeto definido sem nossa participação”, destaca.

A cacica Yuna Tembé faz eco essa percepção. “Somos nós, os povos que estão nos territórios, quem cuida da floresta, enfrentando, na nossa permanência no território, os impactos gerados pelos grandes empreendimentos: fumaça, agrotóxicos, menos chuva, seca dos rios, poluição das águas e do ar, os efeitos do desflorestamento”, afirma.

Jota Quilombola se deslocou do seu quilombo do Alto Acará para participar do evento e destacou que “os principais alvos da crise climática são as populações vulnerabilizadas, mais pobres, marginalizadas e, logo, é motivo de grande indignação não participarem das tomadas de decisão na Cúpula”.

Foto: Agenda Regional sobre o Clima

Pablo Neri, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e representante da Cúpula dos Povos, explica que a organização popular tem o desafio de construir espaços em todo o país para mobilizar a população como um todo sobre o que significa esse momento. “Nossa organização é para reivindicar o comprometimento dessas lideranças do mundo todo para uma outra forma de produção e relação com a natureza: ecológica, popular e soberana, em que os territórios e sujeitos estejam no centro do debate”, pontua.

Os organizadores do evento em Marabá afirmam que outros momentos como esse se repetirão na região Sul e Sudeste do Pará e convocam a se unirem às discussões movimentos de base, movimentos de mulheres, movimentos sociais, universidades e demais organizações da sociedade civil para o aprimoramento dessa agenda regional de enfrentamento à crise climática no campo e na cidade.

Saiba mais seguindo os perfis: @cupuladospovoscop30 e @copdopovo

*Editado por Fernanda Alcântara