Educação
Começa o Curso Nacional de Educação e Infância: formação, luta e compromisso com as crianças
As atividades de abertura foram realizadas na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis (SC), na última sexta-feira (30)

NB de Comunicação da turma de Especialização em Educação e Infância
Da Página do MST
No dia 30 de maio, foi realizada a abertura oficial do Curso de Especialização em Educação e Infância nos Movimentos Sociais do Campo, resultado de uma construção coletiva entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). O curso integra as ações do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) e contará com a participação de estudantes oriundos das cinco regiões do país, além de professores de sete universidades públicas e intelectuais latino-americanos dedicados à reflexão sobre a infância como um sujeito político e social.
As atividades de abertura ocorreram ao longo de todo o dia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis/SC, e envolveram três momentos principais: o ato político de abertura, a aula inaugural e um ato brincante, que celebrou a infância como parte essencial da luta e da formação humana.
Aula inaugural: experiência cubana e o papel transformador da educação
A aula inaugural foi conduzida por Guillermo Arias Beatón, professor aposentado da Universidade de Havana, que apresentou reflexões teóricas e práticas sobre a experiência educacional cubana. Em sua fala, destacou a importância de movimentos sociais e grupos organizados promoverem o que chamou de “verdadeira educação” para as crianças, ressaltando:
“Essa educação é essencial para formar seres humanos ativos, conscientes e plenos, que possam, por sua vez, contribuir para o desenvolvimento da sociedade e da humanidade”.

Sua intervenção reafirmou a necessidade de uma educação integral, que articule espaços formais e não formais, unindo teoria e prática em uma relação dialógica e transformadora.
O compromisso histórico do MST com a educação infantil
Durante o ato de abertura, Greti Aparecida Pavani, do Setor de Educação do MST, reafirmou o compromisso do Movimento com a formação de educadores e educadoras do campo, ressaltando que:
“O Movimento, desde seus primeiros passos, sempre observou com cuidado as necessidades das crianças Sem Terrinha. Ao longo das décadas, a elaboração coletiva trouxe a demanda pela formação contínua dos educadores que atuam nas escolas do campo, nas cirandas infantis e em outros espaços pedagógicos.”

Ela reforça a importância de uma educação comprometida com a transformação social e reafirma: “Sabemos que o conhecimento se constrói na relação entre teoria e prática, que as crianças são sujeitos de sua história, que requerem cuidado e respeito, e que os educadores são fundamentais na mediação e construção coletiva desse processo. Por isso, o Pronera e a relação com a universidade são fundamentais na transformação da realidade no campo.”
A universidade como espaço de transformação social
A professora Maria Isabel Serrão, da UFSC, recordou a trajetória do curso, que começou a ser construído há cerca de dez anos, foi aprovado em 2017 e, somente agora, pôde ser efetivamente iniciado. Em sua fala, destacou a coragem histórica do MST.
“Parece que há 40 anos os Sem Terra ouviram Guimarães Rosa quando ele disse que a vida quer da gente coragem, pois tiveram CORAGEM de agir com o coração diante das injustiças na distribuição das riquezas, entre elas a TERRA. Foi assim que o MST rompeu cercas, colocou fogo na ponte, armou barracos e conquistou coletivamente a TERRA”, enfatizou a professora Maria Isabel Serrão.
A professora reforçou, ainda, o papel imprescindível da universidade pública na participação ativa deste processo de transformação, refletindo sobre que mundo se quer deixar para as crianças e reconhecendo nelas as máximas potencialidades.
A importância do PRONERA para a Reforma Agrária Popular
Em Santa Catarina, este é o 19º curso realizado pelo PRONERA, sendo 14 deles em parceria com a UFSC, o que evidencia a relevância e a continuidade dessa política pública de educação do campo. A gestora regional do Pronera pelo INCRA, Jovania Muller, destacou que: “O MST, em nível nacional, sempre colocou o Pronera no centro das suas pautas de reivindicações junto ao governo federal, reafirmando que sem uma educação de qualidade, que atenda às especificidades dos sujeitos do campo, não há avanço efetivo na construção de uma Reforma Agrária Popular.”

Complementando essa visão, Dirceu Drech, superintendente do INCRA em Santa Catarina, sublinhou que o Pronera e a educação são elementos estratégicos para a reconstrução do Brasil, a transformação dos assentamentos, o fortalecimento da luta pela terra e o aprofundamento da democracia.
Hamilton Wielewicki, diretor do Centro de Ciências da Educação da UFSC, frisou a importância da presença do MST no espaço da universidade pública como forma de “Apresentar e debater seu projeto de sociedade, que consiste em produzir comida que gera vida, trabalho digno e que é parte da construção de uma sociedade justa e solidária.”
Encerrando a programação, o ato brincante reuniu alegria e resistência. Os estudantes do curso pintaram a universidade com as cores da infância, cantaram músicas, recitaram poemas e entoaram gritos de ordem. Reafirmaram, assim, que os educadores do campo têm direito de acessar a universidade pública, que o Pronera é uma ferramenta estratégica para avançar na construção de uma vida digna no campo, e que as crianças são sujeitos de sua própria história e protagonistas deste processo.