Orgulho LGBTI
Plenária do Coletivo LGBTI Sem Terra marca os 10 anos da organização no MST
Atividade reafirma a luta por visibilidade e dignidade no campo construída pelo Movimento

Por Inaiá Misnerovicz e Anidayê Angelo
Da Página do MST
Na manhã deste sábado, 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTI, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizou mais uma importante plenária do Coletivo LGBTI Sem Terra, reunindo militantes de diversas regiões do país para debater a construção da luta por direitos, o enfrentamento à LGBTIfobia no campo e ressaltar a presença da identidade LGBTI dentro do projeto de Reforma Agrária Popular, construído pelo Movimento.
O espaço foi marcado por reflexões sobre a caminhada do Coletivo, os desafios enfrentados pelas pessoas LGBTI nas áreas de assentamento e acampamento, e os avanços construídos ao longo da última década. A plenária também reafirmou o compromisso do MST com a defesa da diversidade sexual e de gênero, combatendo todas as formas de opressão nos territórios.
Além disso, contou com a presença de representações de outros setores do MST, como cultura, educação, gênero, internacionalismo, formação, frente de massas e comunicação, demonstrando como a intersetorialidade amplia o diálogo entre espaços da organização e fortalece a luta nas diversas áreas de atuação do MST, colocando-a como centralidade de todo o conjunto do Movimento.
“É inadmissível termos práticas que negam a existência das pessoas de forma digna. O MST é um movimento que luta por justiça social e isso significa garantir que todas as pessoas possam viver com respeito, liberdade e reconhecimento dentro dos nossos territórios”, afirmou Valter Leite, da Direção Nacional do Setor de Educação do Movimento.
10 anos de Coletivo LGBTI Sem Terra: sempre estivemos aqui

O Coletivo LGBTI Sem Terra celebra, em 2025, 10 anos de participação coletiva nas fileiras de luta do MST. Mais do que uma marca simbólica, este marco representa uma década de organização política de sujeitos LGBTI que sempre estiveram presentes na luta pela terra, mas muitas vezes invisibilizados nas estruturas do campo e até mesmo dos próprios movimentos sociais.
A construção dos espaços de auto-organização de pessoas LGBTI no MST teve início em 2013, em diálogo com o setor de gênero do Movimento. Dois anos depois, em 2015, acontece o primeiro seminário “O MST e a Diversidade Sexual”, realizado na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), marcando o surgimento organizativo do Coletivo LGBTI Sem Terra.
A partir desse encontro, é elaborado um documento político que reconhece, de forma explícita, a presença e a importância das pessoas LGBTI como sujeitos da luta no interior do MST. O texto afirma a diversidade de gênero e sexualidade como parte integrante do projeto político do Movimento, destacando esses sujeitos como militantes essenciais na construção da Reforma Agrária Popular.
De lá para cá, o Coletivo tem sido um espaço de acolhimento, formação, articulação política e denúncia das violências estruturais que atingem as pessoas LGBTI no campo. Nesses 10 anos, o coletivo tem protagonizado espaços nacionais e internacionais, fortalecido práticas agroecológicas com protagonismo LGBTI e construído a partir da vivência no campo uma política interna que enfrenta a LGBTIfobia de forma concreta.
“Essa plenária é importante para a gente reconhecer os passos que demos até agora. São 10 anos de Coletivo LGBTI Sem Terra e 41 anos de presença desses sujeitos nas fileiras de luta. Essa atuação e avanço na organização coletiva só é possível devido à organicidade do Movimento”, afirma Flávia Tereza, da Direção Nacional do Coletivo LGBTI do MST.
Durante os dias 6 a 10 de maio de 2024, em Fortaleza (CE), o MST realizou o 1º Encontro Nacional de Travestis e Transexuais Sem Terra, um marco histórico na luta por diversidade e justiça social no campo. O encontro teve como propósito aprofundar a formação política sobre diversidade sexual e identidade de gênero no MST, fortalecendo o protagonismo das travestis e pessoas trans na construção da Reforma Agrária Popular. Além de refletir sobre os desafios enfrentados cotidianamente, o espaço promoveu o debate sobre a superação da LGBTfobia, do preconceito e das violências estruturais, articulando estratégias e ações concretas para uma campanha nacional contra a LGBTfobia no campo.
O encontro reafirmou que não há transformação social sem o reconhecimento pleno de todas as existências.
Campanha Contra a LGBTIfobia no Campo: criar sem pedir licença um mundo de liberdade
Durante a plenária, o Coletivo também apresentou mais uma vez a Campanha Contra a LGBTIfobia no Campo, uma ação nacional do MST que tem como objetivo aprofundar o debate sobre os direitos da população LGBTI nas áreas de Reforma Agrária e enfrentar as diversas formas de violência ainda presentes nas comunidades camponesas.
A campanha não é apenas uma ação pontual, mas um processo contínuo que articula formação política, produção de materiais pedagógicos, ações culturais, comunicação e mobilizações de base. Seu objetivo é transformar as estruturas sociais e subjetivas que sustentam a exclusão e a violência, criando uma linha de ação concreta para construir territórios mais acolhedores, livres de preconceito e onde a diversidade possa florescer com dignidade.
A plenária do Coletivo LGBTI Sem Terra reafirma com firmeza: não haverá Reforma Agrária Popular sem diversidade. A luta coletiva segue viva, pulsando com orgulho, resistência e compromisso com um projeto popular que reconhece e valoriza todos os sujeitos do campo.
Para o coletivo LGBTI e para todo o Movimento, é fundamental resgatar a memória e lutar incansavelmente por justiça para Aline da Silva, Pedro Felipe, Severino (Suzy), Nany Araújo, Lindolfo Kosmaski e Fernando dos Santos Araújo. Sabemos, com toda a certeza, que só construiremos uma verdadeira Reforma Agrária Popular quando compreendermos a diversidade humana como parte essencial dessa caminhada. Sem sujeitos políticos diversos, não avançaremos rumo a um novo projeto de campo e cidade. Não superaremos a propriedade privada, o patriarcado, o racismo e o capitalismo sem reconhecer e afirmar todas as formas de existência.
*Editado por Fernanda Alcântara