BRICS
“Mais do que integração dos governos, a integração dos povos”, começa o Conselho Popular do BRICS
Debates irão apresentar desafios e propostas para a defesa da união popular do BRICS, impulsionando pautas sociais e econômicas

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST
Teve início na manhã desta sexta (04), no Teatro Carlos Gomes, Rio de Janeiro, a Sessão Especial do Conselho Popular do BRICS. A abertura contou com autoridades brasileiras e internacionais, enfatizando aos debates sobre o Conselho, desafios e alternativas do Sul Global no evento que é um marco na luta por um BRICS popular, democrático e enraizado na soberania dos povos.
A coordenação ficou a cargo de Judite Santos, membro do Conselho Popular do BRICS, da Alba Movimentos e militante do Movimento Sem Terra. Ela iniciou a sessão cumprimentando os convidados e demais membros do Conselho presentes, incluindo os conselheiros Mohammed Admed Huseen (Etiópia); Ah Maftuchan (Indonésia); Elena Pryskina e Victoria Panova (Rússia); Raymond Shillboy (África do Sul), e do Brasil, nas figuras de Rita Coitinho, Marco Fernandes e Fábio Mielniczuk.
Sérgio Medeiros, gestor do Teatro Carlos Gomes, foi o primeiro a se apresentar, fazendo uma breve introdução do teatro que contém 153 anos de história, um dos mais simbólicos e históricos polos culturais do país. Em seguida, Elias Jabbour, Presidente do Instituto Pereira Bastos, falou em nome do Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e sublinhou o papel da cidade ao sediar mais um encontro de lideranças, assim como Olimpíadas de 2016, G20, e sugerindo que o Rio se torne a capital mundial do BRICS.
Em seguida, a vereadora do Rio de Janeiro, Maíra do MST enfatizou o grande triunfo da reunião: a participação popular nas agendas políticas. Para ela, isso possui “relevância estratégica diante do compromisso com a soberania entre os povos”. Maíra apontou o enfrentamento à fome e a defesa do meio ambiente como eixos fundamentais para as discussões dos próximos dias, encerrando sua fala com um apelo global pelo fim do genocídio do povo palestino.

Já a deputada estadual do Rio de Janeiro, Marina do MST frisou a importância do processo dos movimentos sociais, especialmente nos grupos de trabalho que discutiram temas como ecologia e “uma saúde pública e global para todos os povos”. Ela mencionou o Sistema Único de Saúde (SUS) como um sistema que, mesmo com limitações, “pode ensinar muito aos países do mundo”. Por fim, fez referência ao Plebiscito Popular lançado esta semana por movimentos populares e sociais no Brasil, abordando a taxação dos “super ricos” e o fim da escala 6×1.
Lucas Barbosa, representante do Ministério das Relações Exteriores/Brasil, destacou o esforço recente pela aproximação de diálogo do governo com a sociedade civil. Ele fez uma retrospectiva dos diversos processos que o Governo Brasileiro tem empreendido para a consolidação e capilarização dos ponto, remetendo à uma fala de João Pedro Stedile na reunião de abril, quando o dirigente nacional do MST expôs a necessidade de apresentar o multilateralismo de ideias e conceitos. Barbosa também trouxe três chaves principais que Stedile apontou, como a preocupação com as finanças climáticas; inteligência artificial e sua aplicação para o mercado e discurso narrativo do capitalismo e imperialismo; e a saúde, relacionada a cuidados, prevenção e meio ambiente.
Antonio de Freitas, do Ministério da Fazenda, anunciou importantes entregas que o Ministério tem pautado, em especial a taxação dos super-ricos, o financiamento ambiental e a reformulação de proposições do FMI. Do ponto de vista da geopolítica, ele avaliou que “vivemos em um momento conturbado e delicado”, mencionando o genocídio do povo palestino, a guerra entre Rússia e Ucrânia, e outros conflitos internos e entre países nos continentes Africano e da América Latina. Em contrapartida, Freitas chama para a “complexidade de um grupo de países como o BRICS, embora seja um desafio, pode ser também uma troca de saberes”.

A Sessão Especial do Conselho Popular do BRICS contou também com a participação de Márcio Macedo, Ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, que iniciou sua fala enfatizando a importância política, geográfica, econômica e humanista dos países membros do BRICS. Macedo destacou que o Conselho Popular é uma iniciativa que “promete dar voz e espaço para diferentes países em um momento muito delicado da história da humanidade, onde somos colocados à prova por movimentos que buscam transformar pessoas em algoritmos; em que super-ricos financiam a extrema direita e o fascismo”.
Para o ministro, a organização dos países do BRICS pode oferecer uma resposta a esses movimentos que tentam deturpar valores civilizatórios. “Acredito, inclusive, que os BRICS podem dar um passo a mais ao fazer a integração política e econômica para além dos governos, mas a integração dos povos”, afirmou. Ele ressaltou que esse processo não virá do “brilhantismo ou consciência de um governante”, mas sim da participação social, citando como exemplo o Fórum Social do G20, também realizado no Rio de Janeiro em 2024.
Victoria Panova, representante da Rússia no Conselho Popular do BRICS, encerrou a mesa de abertura abordando a luta dos povos e as ações que essa aproximação pode gerar, não apenas em palavras, mas para a base desses países – o que significa que os debates tendem a impactar diretamente a população dos países de maiorias globais, ou como chamamos mais popularmente, o Sul Global. Fazendo uma retrospectiva do Conselho, ela lembrou que, em 2015, quando a proposta foi lançada, “muitos não levavam a sério e desacreditavam na continuidade”. No entanto, comemorou, “neste sentido, nos tornamos melhores e maiores nestes dez anos, garantindo projetos socialmente vitais e viáveis”.

Por fim, Panova pontuou os mecanismos de cooperação desenvolvidos para que as demandas sejam levadas às lideranças, assegurando não apenas discussões, mas também a garantia de recursos para avançar ainda mais nessas estratégias.
A reunião do Conselho Popular do BRICS prossegue com a participação da sociedade civil e de importantes instituições acadêmicas e políticas, reunindo um espectro diversificado de organizações. Estão presentes entidades focadas em direitos humanos, como a ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia) e o Instituto Eqüit (gênero, economia e cidadania global), além de movimentos sociais como o MTST e o MST. A presença da CUT/Federal-RJ e da FUP garante a voz sindical, enquanto o GEBRICS – USP e o Laboratório de Geopolítica da USP-GEOPO contribuem com o olhar acadêmico. A dimensão internacional é reforçada pela Embaixada da República Bolivariana da Venezuela no Brasil e pelo Instituto Simón Bolívar. Também foi sinalizada a presença de representantes da AIP, MNPR/RJ, MAM, CEBRAPAZ, RNMP, MMM, Ministério da Fazenda BR, Ministério das Relações Exteriores, Plataforma Socioambiental/BRICS Policy Center e Brics Arts Association.
*Editado por Solange Engelmann