Direitos Humanos

Via Campesina Brasil reúne pessoas LGBTI+ do campo, das águas e florestas, na ENFF

Entre os dias 17 e 20, seminário promove debate sobre os desafios e perspectivas do corpo-território LGBTI+ no atual contexto político e econômico

Além de momentos de discussão, o Seminário irá promover espaços de autocuidado e de fomento a auto-organização das LGBTI+. Foto: Via Campesina

Da Página do MST

Pessoas LGBTI+ do campo, das águas e das florestas das cinco regiões do país se reunirão entre os dias 17 e 20 de julho, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), para o 4º Seminário Nacional da Via Campesina Brasil.

O objetivo da iniciativa é o de construir um espaço de estudo, reflexão e projeção de um conjunto de ações que vão nortear a Via Campesina Brasil na construção das lutas no atual contexto político e econômico. Para isso, a programação inclui o debate de temas como: “Corpo-Território na Diversidade Sexual e de Gênero”, “Desafios e perspectivas na construção de políticas públicas”, “Ancestralidade e Bem Viver”.

Espaços de autocuidado e de fomento a auto-organização das LGBTI+ também compõem a programação do evento.

Corpo-território livre de violência

O 1º Seminário Nacional LGBTI+ na Via Campesina Brasil foi promovido em julho de 2021, de forma virtual, visando elaborar sobre os desafios da luta pelo território, pela terra e soberania alimentar, por meio de uma leitura comum sobre a conjuntura e os impactos dela na vida das LGBTI+.

Quatro anos após a sua realização, os desafios em torno da organização desse debate na Via Campesina e a urgência da defesa dos corpos-territórios seguem na ordem do dia.

Dê Silva, do Coletivo LGBTI+ da Via Campesina Brasil, acredita que para esse momento histórico “fazer o debate da diversidade sexual e de gênero na Via Campesina, incorporando os territórios do campo, águas e florestas, faz-se necessário e impõe o desafio da organicidade e da territorialização desse debate para dentro dos movimentos”.

“Enquanto pessoas diversas nos fazem pensar no nosso corpo-território, das violações que nós sofremos, que são as mesmas que os nossos territórios, seja pela expropriação, pela falta de demarcação, seja na falta de homologação dos territórios quilombolas, seja na precariedade na construção da reforma agrária. Precisamos destacar que a mesma forma que o nosso território é diverso o nosso corpo também é diverso e sofremos as mesmas violações históricas”, afirma Silva.

Luta permanente

O Brasil é um país que registra anualmente números alarmantes de violência contra a população LGBTI+. Em 2023, a cada 38 horas, uma pessoa LGBTI+ perdeu a vida de forma violenta. Segundo dados do Disque 100, serviço do MDHC que documenta violações de direitos humanos, 5.741 casos foram registrados até setembro deste 2024. No ano anterior, foram feitas 6.070 denúncias, 2.122 a mais que em 2022, que registrou 3.948 denúncias.

Dê Silva sinaliza que é central seguir em um processo massivo de organização das bases dos movimentos e organizações populares da Via Campesina, garantindo a defesa dos territórios. É necessário “engrossar as fileiras de luta” da classe trabalhadora e de um projeto de governo que siga de encontro com as necessidades do povo, defende.

Nesta quarta edição do Seminário, o evento recebe apoio da Grass Hut, Pachamama, ENFF e do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), por meio da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+.

Sobre a Via Campesina

A Via Campesina é uma organização internacional que contribui no alinhamento de um conjunto de lutas com camponesas, trabalhadores agrícolas, mulheres rurais e comunidades indígenas e negras da Ásia, África, América e Europa, da qual o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) faz parte.

Uma das principais ações estratégicas da Via Campesina é a defesa da soberania alimentar, como o direito dos povos de decidir sobre sua própria política agrícola e alimentar. Isto inclui: prioridade para uma produção de alimentos saudáveis, de boa qualidade e culturalmente apropriados, para o mercado interno. É fundamental, portanto, manter um sistema de produção camponês diversificado (biodiversidade, respeito à capacidade produtiva das terras, valor cultural, preservação dos bens naturais).

No Brasil, essas lutas ganham corpo nas estratégias de vários movimentos e organizações sociais, como o MST, e outras organizações tais quais: Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Movimento de Mulheres Camponeses (MMC), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), entre outras organizações populares.

*Editado por Pamela Oliveira