Homenagem

Conheça o samba-enredo da Acadêmicos do Tatuapé de SP, inspirado na luta do MST

No próximo 16 de agosto, começam os ensaios da Acadêmicos do Tatuapé para o desfile histórico de 13 de fevereiro de 2026

Quadra social da Acadêmicos do Tatuapé. Foto: Priscila Ramos

Por Douglas Fortes e Erica Vanzin
Da Página do MST

No último sábado (09), ocorreu o lançamento do samba-enredo “Plantar para Colher e Alimentar: Tem Muita Terra Sem Gente e Muita Gente Sem Terra”, da Escola de Samba Acadêmicos do Tatuapé, na quadra social da Escola, em São Paulo. No carnaval de fevereiro de 2006, a escola vai levar para o Sambódromo do Anhembi a luta pela Reforma Agrária Popular e a importância da agricultura familiar e camponesa, inspirando-se na luta histórica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Para a Direção Nacional do Coletivo de Cultura do MST, representada por Carla Loop, ver a luta do MST retratada no Carnaval é o reconhecimento de uma pauta urgente. “É um reconhecimento de que a Reforma Agrária é uma pauta necessária e o MST é reconhecido nesta luta, mas também demonstra que o MST representa uma esperança e vontade de mudança da sociedade”. E complementa: “Para nós representa a alegria e o direito de brincar carnaval, mas também de aprender com este imenso legado cultural das escolas de samba e sobretudo reatar as conexões entre campo e cidade, através da solidariedade, da defesa do direito à terra, da vida e da cultura popular”, afirma.

Bateria “Qualidade Especial” durante o lançamento do samba enredo, no sábado (09). Foto: Priscila Ramos

Por parte da escola, a emoção também é intensa. Celsinho Mody, intérprete oficial da Tatuapé, conta que o processo criativo uniu dois grupos de compositores em uma única obra, transformada pelo departamento musical em um samba de mensagem forte e carregado de emoção. “Cada trecho transparece a luta do MST e o papel fundamental do trabalhador e da trabalhadora rural. Foi feito com muito carinho e afinco, para que todos sintam essa energia na avenida”, comenta.

O samba-enredo segue uma linha histórica, começando com os deuses da agricultura, passando por revoltas e revoluções populares, chegando às mãos calejadas que plantam e colhem atualmente, e fechando com a denúncia de que “há poucos com muita terra e muita gente com pouca terra”. Essa narrativa, segundo Mody, foi pensada para provocar reflexão e, ao mesmo tempo, celebrar a resistência.

Celsinho Mody cantando samba-enredo na quadra social da Tatuapé. Foto: Priscila Ramos

Para o MST, o Carnaval também é uma trincheira de luta. “É uma das festas mais populares e criativas do Brasil, que mistura festa e crítica social. O desfile será um momento único para representar quem cuida da terra e alimenta o país. Até lá, teremos muitos intercâmbios, trocas de conhecimento e celebrações, convidando a sociedade a ocupar a avenida conosco”, destaca Carla. 

A presença do MST na avenida é entendida como um ato de resistência e construção de pontes entre a cultura popular e a luta social. “O samba seguirá fazendo luta, e a luta pela terra e pela cultura popular será uma causa só. Ocupar o samba é mostrar que a defesa da vida digna também pulsa no coração da cidade”, reforça Carla.

Militantes do MST participaram do lançamento do samba-enredo da Acadêmicos do Tatuapé. Foto: Priscila Ramos

O samba de 2026 encerra com uma mensagem de esperança: “Tem festa na roça, até o amanhecer divide esse chão, pro nosso povo colher! Tatuapé, me chama que eu vou! Puxe o fole sanfoneiro, no toque do agogô!”. Para Mody, essa frase sintetiza o espírito do desfile: “Depois de toda a conscientização que o samba traz, é a esperança e à festa que fica. Queremos compartilhar cultura e entendimento para as pessoas através das causas do campo e do Movimento Sem Terra”, projeta.

O convite está feito: em 2026, a luta pela terra e a força da cultura popular vão desfilar lado a lado na avenida, ao som do batuque da Acadêmicos do Tatuapé.

Confira a letra do Samba:

Tupã! Num sopro de ternura
Concebeu a Agricultura para os filhos desse chão
Trovejou, lá no alto da palhoça
Quando o orvalho molha a roça e perfeita a comunhão
Mas veio o invasor e a terra então sangrou
Negro plantou resistência
Canudos semeou a rebeldia

Cada enxada levantada liberdade florescia

Mas a ganância por terra sem gente
Faz muita gente sem terra chorar!
Quem planta o mal, espalha ambição
Me dá! me dá, um “pedacim” de chão

Lavoura ê! Lavoura!
Mãos calejadas no cultivo da semente
Lavoura ê! Lavoura!

Floresce da terra a fé dessa gente
Alimentar e plantar o amor,
Proteger é cuidar desse chão
Abraçar o nosso irmão contra a desigualdade
Para colher dignidade
Em cada gota de suor eu vi
Brotar, crescer e acreditar
Que a esperança está no amanhã, e assim será…
Viver e partilhar e nada em troca esperar!

Tem festa na roça, até o amanhecer
Divide esse chão, pro nosso povo colher!
Tatuapé, me chama que eu vou!
Puxe o fole sanfoneiro, no toque do agogô!”

Acesse o Samba-enredo:

*Editado por Solange Engelmann