Cultura
Espaço Cultural Elza Soares, MST e Inimigos do Batente reverenciam o Berço do Samba de São Mateus
Reduto do mais autêntico Samba da periferia paulistana, movimento produziu dois álbuns autorais e se consolidou como um dos mais importantes polos de produção, pesquisa e divulgação do gênero no Brasil

Da Página do MST
O Espaço Cultural Elza Soares, o MST e a roda de samba do grupo Inimigos do Batente se unem novamente para mais uma edição de O Samba da Minha Terra. Juntando comida, conversa e roda de samba o evento presta nesta edição uma homenagem a um dos mais importantes movimentos de Samba surgidos no Brasil neste século: o Berço do Samba de São Mateus!
Nas edições anteriores foram celebrados o compositor Toninho Nascimento, a cantora Fabiana Cozza, o cantor e compositor Didu Nogueira e o grande mestre João Nogueira, na passagem dos 25 anos de seu falescimento.
Com uma fórmula herdada dos pagodes de fundo de quintal, a partir das 12h é servido o almoço, que fica a cargo do time de cozinheiros do Espaço Cultural Elza Soares. Enquanto o almoço acontece, os integrantes do grupo trazem ao microfone alguns temas que dialogam com as lutas dos trabalhadores e trabalhadoras do samba e principais protagonistas dessas histórias. Após “a resenha”, começa a roda de samba dos Inimigos do Batente que em 2025 completa 26 anos de existência.

Fernando Szegeri, do grupo Inimigos, sintetiza a essência do encontro: “o pagode, a festa de samba por excelência, sempre foi a junção de comida, conversa e música. É disso que é feito esse rito fundamental, base da nossa cultura e do nosso jeito de inventar a vida.”
Na mesma linha, Mari Tavares, da coordenação do Espaço Elza Soares, recorda que esse caráter não se limita ao presente, mas atravessa gerações: “o samba é um movimento essencialmente coletivo, em que os que chegaram antes se perpetuam nos mais jovens através das rodas. Por isso é tão importante celebrarmos aqueles que dedicaram e seguem dedicando, toda uma vida a ele.”
Das homenagens e dos homenageados
O Samba da Minha Terra deste mês de setembro faz deferência a um respeitabilíssimo reduto do Samba na Cidade de São Paulo: São Mateus.
Relatos dão conta de encontros de sambistas na região desde a década de 1950, com reuniões na beira dos campos de várzea, quintais como o da Tia Cida, Tia Filó, Buteco do Timaia, Rua 12, Quintal do Titio entre outros. O Berço do Samba de São Mateus surge de um movimento de sambistas capitaneados por Yvison Pessoa, músico, compositor e articulador cultural, ex-integrante do Quinteto em Branco e Preto, com o propósito de organizar encontros desses compositores, músicos e intérpretes de São Mateus e região.

O trabalho ganha notoriedade em 2007 com a gravação pelo selo Sesc do primeiro produto fonográfico do movimento de samba da periferia de SP, com participação de Almir Guineto e Beth Carvalho, grande entusiasta, incentivadora e frequentadora do “Berço”. O álbum, além de alcançar “record” de vendas, rende uma turnê por festivais internacionais, documentários e trabalhos acadêmicos. Em 2012, vem à luz o segundo álbum, pela gravadora e editora Arlequim, “O Samba que Vem lá de São Mateus”. Consolidado como um dos maiores polos de produção e difusão de samba no Brasil, o movimento conta atualmente com 25 integrantes.
Enquanto se luta, se samba também
“O Samba da Minha Terra” aprofunda a parceria iniciada no Dia Nacional do Samba de 2024, em 2 de dezembro. Naquele dia, a roda dos Inimigos do Batente celebrou seus 25 anos de trajetória no Espaço Cultural Elza Soares. Essa colaboração reafirma a sintonia entre o espaço cultural, que tem forte ligação com o samba, e a roda de samba do grupo, sempre alinhada às lutas populares.
Ainda de acordo com Szegeri, a série “O Samba da Minha Terra” é uma oportunidade cultural para o público paulistano e serve como um momento para “promover a reflexão sobre as lutas e desafios dos trabalhadores e trabalhadoras do samba.” Mari Tavares, gestora do Espaço Elza Soares, complementa que será um “momento de partilhar uma grande mesa comum simbólica, onde o comer, o beber e o conversar fazem a ante-sala para a roda de samba propriamente dita, que estará a cargo dos Inimigos do Batente.”
Sobre o Espaço Cultural Elza Soares
O Espaço Cultural Elza Soares é um espaço cultural de caráter independente, educativo, multiplicador, de produção e difusão cultural. Oferece uma ampla gama de atividades, nas mais variadas linguagens artísticas, como teatro, cinema e audiovisual, música, culinária, artes visuais, esportes e diversas práticas integrativas de bem-estar. Possui também uma ampla programação de culinária intitulada “Culinária da Terra”, com pratos típicos regionais que trazem para o concreto o debate sobre alimentação saudável e a comida como direito humano fundamental. Além disso, o Espaço já abrigou feiras de livros que promovem a literatura periférica e regional, oficinas de artes visuais que incentivam a criatividade e expressão artística, e muitas outras atividades que reforçam o protagonismo das comunidades do campo e das periferias, viabilizando a circulação da cultura material e não material desses agentes culturais.
Roda dos Inimigos do Batente
Fundada pelos músicos Railídia ( voz), Fernando Szegeri ( voz) e Paulinho Timor ( percussão), a roda de samba dos Inimigos do Batente comemorou 25 anos em 2024, 20 dos quais realizando apresentações regulares no bar Ó do Borogodó, um dos mais representativos redutos do samba e choro em São Paulo.
A formação atual dos Inimigos do Batente é um pouquinho de Brasil, de periferia, de diversidade de ofícios que convergem na paixão pelo samba e pela roda de samba. São equilibristas entre o viver de música e a realidade que bate à porta. São Inimigos do Batente a paraense Railídia, jornalista e cantora; Fernando Szegeri, escritor e cantor; Paulinho Timor, produtor e percussionista; Hélio Guadalupe, carioca, funcionário público e cavaquinista; Luiz Tiobi, sete cordas, de família de músicos do interior de São Paulo; Dil Bandeco, metalúrgico e pandeirista; Koka Pereira, produtor, educador musical e percussionista.

Nesse quarto de século, a roda recebeu sambistas de diversas gerações e procedências como Wilson Moreira, Monarco, Xangô da Mangueira, Beth Carvalho, Nei Lopes, Wilson das Neves, Moacyr Luz, Tia Surica, Noca da Portela, Dona Inah, Carlão do Peruche, Fabiana Cozza, entre tantos outros. Também apresentaram-se em espetáculos ao lado de monstros sagrados como Paulo Vanzolini, Leci Brandão e Alaíde Costa, bem como das legendárias Velhas Guardas do Camisa Verde-e-Branco (madrinha do grupo) e da Portela.
SERVIÇO
O Samba da minha Terra: Espaço Cultural Elza Soares e Inimigos do Batente homenageiam Berço do Samba de São Mateus
Dia: 06 de setembro de 2025 (sábado)
Horário: Das 12h00 às 17h30.
Local: Espaço Cultural Elza Soares – Alameda Eduardo Prado, 474 – Campos Elíseos
Entrada: gratuita. Almoço e bebidas vendidas no local.