Saúde Popular

MST e Fiocruz formam mais 39 Agentes Populares de Saúde em Jóia, no RS

Objetivo é reforçar a luta por Reforma Agrária e em defesa da Agroecologia, com a proteção do bioma Pampa

Foto: Paulo Roberto

Por Katia Marko – MST no RS
Da Página do MST

O 9º Encontro de Troca de Sementes Crioulas, organizado pela Escola José de Corrêa, no Ginásio Adão Pretto, em Jóia, foi palco de um evento significativo na sexta-feira (22): a formatura de mais 39 novos Agentes Populares de Saúde com ênfase em Agroecologia no Bioma Pampa, fruto da parceria entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

O grupo mantém o nome escolhido pela primeira turma, formada no dia 23 de maio, em Candiota, uma homenagem à agrônoma e escritora Ana Primavesi, pioneira na compreensão do solo como um organismo vivo e referência mundial na área da agroecologia.

Esses e essas agentes, provenientes de assentamentos e acampamentos das regiões das Missões e do centro do Rio Grande do Sul, principalmente de Jóia, Júlio de Castilhos, Tupã, São Miguel das Missões, Itacurubi, Bossoroca, São Luís Gonzaga, foram capacitados/as como parte da estratégia do MST para fortalecer a organização comunitária, levando informação, prevenção e cuidados básicos às famílias. São participantes de diferentes idades e com uma predominância de mulheres.

Formação abrangente com foco em Saúde e Ecologia

A formação dos agentes populares de saúde vai além dos cuidados básicos, incorporando uma forte ênfase na ecologia. O objetivo é demonstrar às comunidades a importância da produção de alimentos de origem agroecológica, sem o uso de agrotóxicos, conectando diretamente a saúde pública, o meio ambiente e a soberania alimentar.

Durante a programação do dia, o professor Roberto Carbonera, da Unijuí, ministrou uma palestra sobre a qualidade da água consumida e os riscos de contaminação. Este tema é de particular relevância para Jóia, conhecida como “Terra das Nascentes”, uma região afetada pela expansão do agronegócio. Amostras de água de três locais distintos foram coletadas para análise laboratorial, cujos resultados serão posteriormente compartilhados com a comunidade, oferecendo informações importantes e geralmente inacessíveis na área rural.

Mística e emoção marcaram formatura

Foto: Paulo Roberto

A cerimônia contou com a participação de autoridades locais e estaduais e foi carregada de um forte elemento místico e emocional. O coordenador da formação, o pesquisador em Saúde Pública André Fenner afirmou que a formação dos Agentes Populares de Saúde do Campo (APSC) revela-se uma estratégia fundamental para fortalecer práticas de cuidado e promoção da saúde enraizadas nas realidades dos territórios rurais do bioma Pampa, sendo possível evidenciar múltiplas dimensões dessa formação, especialmente quando articulada com a agroecologia como paradigma alternativo de desenvolvimento e cuidado das populações do campo. 

“A participação da Fiocruz na formação reafirma seu compromisso com a promoção da saúde em territórios do campo, da floresta e das águas, e com a valorização dos saberes populares e das práticas agroecológicas como estratégias de cuidado integral, justiça socioambiental e soberania popular”, destacou Fenner. 

Foto: Paulo Roberto

Segundo ele, do ponto de vista da saúde pública, a formação dos Agentes Populares de Saúde do Campo articulada à agroecologia é uma prática transformadora. “Ela fortalece o protagonismo popular, valoriza os saberes dos territórios e propõe modelos de cuidado e bem viver alinhados com a sustentabilidade, a equidade e a justiça social. Trata-se de uma prática que desafia os modelos biomédicos e verticalizados de saúde, resgatando o território como espaço de vida, resistência, solidariedade e produção de saúde.” 

O deputado estadual Adão Pretto Filho (PT) destacou a capacidade do MST de articular a luta pela Reforma Agrária com processos de educação e formação, afirmando que o movimento “tem a capacidade de formar, de educar e de dar perspectiva”.

Foto: Paulo Roberto

A deputada federal Maria do Rosário (PT/RS), autora da emenda parlamentar destinada ao projeto, ressaltou os pilares da luta social e política. Ela expressou seu encanto em participar da formatura, agradecendo ao MST por sua jornada em benefício de todos os brasileiros, especialmente mulheres e novas gerações, consideradas “as verdadeiras sementes que nós lançamos à terra para a transformação”. 

Como professora, Rosário defendeu o direito do povo à sua própria formação, que inclui a transmissão da história e das tradições de cura, saúde e amor à terra. A deputada manifestou o desejo de se somar à luta contra o “veneno e o adoecimento” e à oposição ao desmatamento. 

“Espero que a agroecologia ganhe cada vez mais força e que os alimentos saudáveis sejam valorizados”, defendeu. Também ressaltou a importância do trabalho dos agentes na defesa da nação brasileira, visitando casas em comunidades de assentados para conversar com as pessoas, e a luta para que os jovens possam permanecer no campo.

Por fim, Maria do Rosário expressou solidariedade às mães, mulheres e crianças em Gaza, classificando a situação como um genocídio e sentindo os sofrimentos como próprios. Ela comparou os ataques sofridos pelo Brasil a uma espécie de guerra, criticando o modelo de opressão bélica dos EUA e observando que o poder está se deslocando, com a China emergindo como uma potência solidária.

Diversidade e continuidade do Programa

Foto: Paulo Roberto

“A formatura foi linda, maravilhosa, muito mística e amorosa, apesar da chuva que impediu a participação de alguns”, destacou o dirigente responsável pelo Setor de Saúde do MST, Sérgio dos Reis Marques, conhecido como Chocolate. Segundo ele, o curso abordou temas como a formação do território da Pampa e os danos causados pelo agronegócio, buscando soluções para a escassez de recursos.

A discussão sobre a continuidade do programa foi um ponto central, com a participação da deputada Maria do Rosário. Duas abordagens foram destacadas: a importância do protagonismo feminino na defesa da vida e do território, reconhecendo as mulheres como agentes populares que atuam e preservam raízes; e a garantia da continuidade do programa, com novas turmas e aprofundamento do trabalho com as turmas existentes. 

“O objetivo é continuar estudando e buscando alternativas de produção de vida nos territórios, em oposição ao modelo do agronegócio”, afirmou Chocolate.

*Editado por Fernanda Alcântara