Internacionalismo
Eduardo Galeano: verbo presente da luta e da esperança
Autor de "As Veias Abertas da América Latina", Galeano segue vivo na luta dos povos e na força transformadora da palavra

Por Setor de Internacionalismo do MST
Da Página do MST
Em Montevidéu, Uruguai, em 3 de setembro de 1940 nascia Eduardo Galeano. Num dia como este, o mundo ganhava não um simples escritor, mas um lutador, que usava as palavras para revelar as contradições da história oficial e para mostrar a terra fértil e sangrenta da nossa América. Perdemos sua companhia física em 2015, mas Galeano não é passado. É verbo no presente contínuo da luta.
Galeano foi ensaísta, historiador e ficcionista. Revelou as verdades dos despossuídos, aquele que trouxe à luz a memória que o poder insiste em ocultar, aquele que desenterrou a memória que o poder tenta nos fazer esquecer. É autor do famoso livro “As Veias Abertas da América Latina”. Uma arma de conscientização em massa que desnudou cinco séculos de pilhagem, de um continente saqueado e transformado em ferida aberta em benefício do capital. Esse livro, mais do que uma denúncia, é um certificado de nascimento da nossa raiva justa e um mapa para a nossa libertação.
Publicou dezenas de livros, sua escrita é jornalismo, é história, é poesia, é panfleto. É, acima de tudo, um ato militante. Sofreu perseguição política dos governos ditatoriais, que assolaram o continente latino-americano, sob o patrocínio dos governos estadunidenses, forçou-o a viver doze anos no exílio (1973-1985), numa frustrada tentativa de isolá-lo do seu povo e enfraquecer seu amor por seu país. Seus algozes desconheciam o sangue latino-americano que corria em suas veias.
O exílio e as ditaduras latino-americanas forjaram sua têmpera revolucionária. E a radicalidade de sua atuação política foi sempre alimentada por um intransigente humanismo e solidariedade em defesa de todas as vítimas do sistema opressor. Sabia que uma nova realidade seria protagonizada pelo povo oprimido. Escreveu: “o corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos faz crer a religião. O corpo é uma festa”. Uma festa que um dia, sob o legado que esse companheiro nos deixou, irá se realizar nesse continente, onde não haverá exploradores e explorados.
O MST homenageia escolas com seu nome, como a Escola Eduardo Galeano, em Minas Gerais, reconstruída pela mão e pela vontade coletiva do povo. Não é uma homenagem simbólica; é um ato de reconhecimento. É declarar que aquele espaço de formação não é neutro: é um território galeaniano, onde se estuda para desobedecer, para lembrar, para organizar a esperança.
Portanto, hoje não é um dia apenas de memória. É dia de relembrar que a utopia não é um lugar inalcançável, mas um horizonte para o qual se caminha todos os dias, como ele mesmo dizia. É dia de reabrir seus livros e neles encontrar não uma narrativa conformista, mas um combustível para a ação.
Galeano presente!
*Editado por Fernanda Alcântara