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Resistência e tradição: conheça a história de Vanda, presente há 16 anos na Feira da Reforma Agrária em Maceió
Assentada em Joaquim Gomes, Vanda participa da 24ª edição da Feira com a diversidade de sua produção agroecológica

Por Laura Gomes / Comunicação da Feira
Da Página do MST
No meio da movimentação da Praça da Faculdade, no bairro do Prado, em Maceió, entre bancas coloridas, aromas das frutas e vozes que se cruzam em cumprimentos e ofertas, há uma presença certa: é a de Vandélia Maria da Silva, mais conhecida como Vanda. Aos 35 anos, assentada em Joaquim Gomes, na Zona da Mata de Alagoas, ela carrega consigo a experiência de mais de 15 anos de feiras organizadas pelo MST.
Nascida em Pernambuco, filha mais velha de sete irmãos, Vanda chegou em Alagoas ainda jovem, acompanhando os pais. Depois de temporadas em Maragogi e Maceió, foi em Joaquim Gomes, no interior do estado, que encontrou seu caminho.
Aos 17 anos, começou a trabalhar nas feiras da cidade. Pouco depois, aos 19, sua vida se entrelaçou com a luta do MST, quando se mudou para o assentamento junto ao marido, José Cícero. “Ele sempre sonhou em ter uma terra própria, e o único jeito de conseguir foi pelo Movimento Sem Terra. E lá a gente conquistou”, recorda.
Desde 2009, Vanda tem presença confirmada na Feira da Reforma Agrária. São 16 anos de dedicação à feira, dividindo-se entre o plantio e a venda da produção familiar. A sua banca é um retrato da diversidade do assentamento: laranjas de vários tipos, macaxeira, bananas, cana-de-açúcar, feijão, coentro, coco verde, galinhas, cará, batata e limão. A variedade impressiona, mas o trabalho por trás de cada fruto é ainda mais notável.

“O problema maior sempre foi o transporte. Às vezes as estradas não ajudam, o acesso até o assentamento é muito ruim. Isso atrapalha bastante”, explica, lembrando das estradas de terra, buracos e carros improvisados que tornam a logística da feira um desafio diário. Mas os obstáculos não param por aí.
Para Vanda, as políticas públicas seguem distantes da realidade de quem vive no campo. As poucas que chegam, muitas vezes, vêm acompanhadas de entraves burocráticos. “Estamos aqui há 24 anos e, mesmo sendo um espaço público, sempre querem nos tirar. Esse lugar é histórico para nós, reúne produtores de todo o estado”, ressalta, apontando para a praça que se tornou palco de resistência, trabalho e memória.
Ainda assim, Vanda não desanima. Orgulhosa, fala da feira como espaço de aprendizado e renovação. “Cada feira é um aprendizado, nenhuma é igual à outra. Sempre tem gente nova, sempre tem uma história nova. De ontem para hoje, sofri um acidente de moto e mesmo assim estou aqui, com mais uma história para contar. É por gosto mesmo”, compartilha, entre risos.
Para ela, cada feira é também uma oportunidade de projetar o futuro. “Quero que melhore a infraestrutura da feira, que a praça seja de fato liberada para nós, com condições adequadas. E nos assentamentos, que as estradas sejam melhoradas e que tenhamos maquinário para ajudar na produção”, afirma.
Apesar dos obstáculos, Vanda continua sonhando e plantando, certa de que o trabalho no campo, feito com dedicação, é uma forma de construir futuro.
Vanda é uma das 150 feirantes que marcam presença na 24ª edição da Feira da Reforma Agrária organizada pelo MST em Alagoas, com programação até o próximo sábado (6) e expectativa de comercializar 350 toneladas de alimentos.
*Editado por Fernanda Alcântara